Circula pelas redes sociais um texto dizendo que o ex-primeiro-ministro da França, Edouard Philippe, e outras autoridades serão acusados criminalmente pela “PGR” [Procuradoria-Geral da República] daquele país. Segundo a legenda, eles teriam causado milhares de mortes ao proibir o uso da hidroxicloroquina em tratamentos contra o novo coronavírus oferecidos por médicos da família, liberando a sua aplicação apenas em hospitais, entre outras ‘incompetências durante a crise’.
Por meio do projeto de verificação de notícias, usuários do Facebook solicitaram que esse material fosse analisado. Confira a seguir o trabalho de verificação da Lupa:
“A PGR francesa acusará o Ministério demitido sexta, incluindo o Ministro da Saúde e o agora ex-primeiro 1° Ministro Eduardo Filipe como responsáveis por MILHARES DE MORTES de Covid-19 por PROIBIR o uso de HIDROXICLOROQUINA pelos médicos da família do SUS francês e apenas permitir o uso em HOSPITAIS, entre outras Incompetências durante a crise”
Texto em post publicado no Facebook que, até as 11h de 10 de julho de 2020, tinha 128 compartilhamentos
FALSO ?
A informação analisada pela Lupa é falsa, mas tem um fundo de verdade, porque a PGR abriu investigação judicial para apurar a gestão da pandemia.
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. O Tribunal de Justiça da República (Cour de Justice de la République, ou CJR, na sigla em francês), corte que pode julgar atos do governo, abriu uma investigação judicial para apurar a gestão da pandemia pelo ex-primeiro ministro Edouard Philippe, e pelos ex-ministros da Saúde Olivier Verán e Agnès Buzyn. Não há, no entanto, qualquer pronunciamento oficial do CJR dizendo que essa apuração envolve as restrições ao uso da hidroxicloroquina na França, que continuam em vigor.
A reportagem da BBC citada no post não fez nenhuma referência ao medicamento ao noticiar o caso. Veículos franceses também não citaram qualquer conexão entre a investigação e decisões oficiais sobre o uso dessa droga contra a Covid-19. Segundo Libération, Le Monde, L’Express e Le Figaro, foram recebidas 90 reclamações sobre o modo como governo conduziu a pandemia. Dessas, apenas nove foram aceitas. O teor das reclamações, no entanto, não foi divulgado pela CJR, nem noticiado pela imprensa.
No post que circula pelas redes sociais, o autor cita nos comentários uma reportagem do site Afrik, que supostamente revelaria que as autoridades francesas estariam sendo acusadas por proibir a hidroxicloroquina. Mas o texto apenas menciona o remédio e as restrições determinadas pelo governo ao relembrar o desenrolar da epidemia. Ou seja, não diz que essa se trata de uma das nove queixas analisadas pela CJR, muito menos afirma que as autoridades foram denunciadas criminalmente – o que ainda não ocorreu.
Trata-se, até o momento, de uma investigação em estágio inicial. O procedimento foi aberto oficialmente na última terça-feira (7). O ex-primeiro-ministro, que renunciou ao cargo em 3 de julho, afirmou que fornecerá todas as informações solicitadas para explicar as decisões tomadas durante a pandemia. A apuração está sendo conduzida pelo procurador-geral francês, François Molins.
O uso de hidroxicloroquina na França apenas em testes clínicos foi recomendado em 26 de maio pelo Conselho Superior de Saúde Pública. Essa orientação continua valendo, mesmo após Philippe ter deixado o cargo. O órgão concluiu que nenhum estudo científico havia comprovado a eficácia do medicamento, além de haver efeitos colaterais potencialmente graves. Até esta sexta-feira (10), morreram 29.886 pessoas de Covid-19 no país, que registrou 160.783 casos confirmados da doença.
Nota: esta reportagem faz parte do projeto de verificação de notícias no Facebook. Dúvidas sobre o projeto? Entre em contato direto com o Facebook.
Alexandre Loures, FSB Comunicação - Fake News e eleições 2020
No mesmo momento em que as eleições municipais são adiadas, o Congresso está correndo com a aprovação da PL 2.630/2020, apelidada de PL das Fake News e que propõe o combate à propagação das notícias falsas por meio de punição aos disseminadores. Não é coincidência.
Muitos especialistas e formadores de opinião já se manifestaram dizendo que a elaboração do texto do projeto – que teve 65 emendas em apenas 2 dias – foi feita às pressas, sem dar espaço para o debate de um tema extremamente importante e complexo como as fake news.
As redes sociais estão correndo atrás para barrar o compartilhamento de notícias falsas, o Whatsapp limitou encaminhamento de mensagens e o Twitter notificou o presidente Donald Trump por publicar notícias duvidosas e mensagens de ódio. Na última quarta-feira (8), o Facebook removeu uma rede de contas e páginas ligadas ao PSL e gabinetes da família Bolsonaro que, segundo a rede social, estavam envolvidas com a criação de perfis falsos e comportamento inautêntico.
Em meio à pandemia, as eleições deste ano serão mais virtuais do que nunca e com mais dinheiro para investir nos meios digitais. Com o projeto aprovado, quem será o fiscalizador dessas práticas irregulares e ilegais? A PL das Fake News tem alguns pontos soltos, entre eles, definir o que é desinformação e ao mesmo tempo assegurar que as pessoas possam continuar se manifestando livremente. Vale a pena ouvir o último episódio do Braincast sobre Fake News que discute todas essas questões.
Além desses pontos, ainda tem o próprio comportamento do eleitor. Cada vez mais fechados em suas bolhas digitais, como será que vão se comportar diante de uma notícia falsa? Denunciar ou compartilhar? O desafio é grande, a educação digital se torna cada vez mais necessária e a única solução eficaz no longo prazo. Dentro desse contexto, os influenciadores digitais poderão ser uma ferramentafundamental para enfrentar esse problema, já que são eles a referência em comunidade e engajamento.
No fim, vemos que essa questão será influenciada por esses três eixos principais: o comportamento das plataformas no controle de fake news e perfis que disseminem o ódio, a capacidade da justiça de identificar e coibir práticas irregulares e o comportamento do eleitor em não compartilhar notícias falsas ou mal-intencionadas.
Muitos especialistas e formadores de opinião já se manifestaram dizendo que a elaboração do texto do projeto – que teve 65 emendas em apenas 2 dias – foi feita às pressas, sem dar espaço para o debate de um tema extremamente importante e complexo como as fake news.
As redes sociais estão correndo atrás para barrar o compartilhamento de notícias falsas, o Whatsapp limitou encaminhamento de mensagens e o Twitter notificou o presidente Donald Trump por publicar notícias duvidosas e mensagens de ódio. Na última quarta-feira (8), o Facebook removeu uma rede de contas e páginas ligadas ao PSL e gabinetes da família Bolsonaro que, segundo a rede social, estavam envolvidas com a criação de perfis falsos e comportamento inautêntico.
Em meio à pandemia, as eleições deste ano serão mais virtuais do que nunca e com mais dinheiro para investir nos meios digitais. Com o projeto aprovado, quem será o fiscalizador dessas práticas irregulares e ilegais? A PL das Fake News tem alguns pontos soltos, entre eles, definir o que é desinformação e ao mesmo tempo assegurar que as pessoas possam continuar se manifestando livremente. Vale a pena ouvir o último episódio do Braincast sobre Fake News que discute todas essas questões.
Além desses pontos, ainda tem o próprio comportamento do eleitor. Cada vez mais fechados em suas bolhas digitais, como será que vão se comportar diante de uma notícia falsa? Denunciar ou compartilhar? O desafio é grande, a educação digital se torna cada vez mais necessária e a única solução eficaz no longo prazo. Dentro desse contexto, os influenciadores digitais poderão ser uma ferramentafundamental para enfrentar esse problema, já que são eles a referência em comunidade e engajamento.
No fim, vemos que essa questão será influenciada por esses três eixos principais: o comportamento das plataformas no controle de fake news e perfis que disseminem o ódio, a capacidade da justiça de identificar e coibir práticas irregulares e o comportamento do eleitor em não compartilhar notícias falsas ou mal-intencionadas.
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