O jornal Folha de São Paulo tem se referido ao presidente
Michel Temer, em editoriais, como “Temer Golpista”. É um desrespeito aos fatos
e aos leitores. Cai bem no figurino de um estudante secundarista, desses que
queimam pneus e invadem escolas, mas não de um grande jornal. Talvez o jornalão
queira compensar, nas esquerdas, a gafe histórica de cinco ou seis anos atrás,
quando afirmou que o regime militar de 1964 não foi uma ditadura, mas uma
“ditabranda”.
Que um ou mais dos muitos colunistas do jornalão paulista
chame Temer de golpista, vá lá. Mas o editorial reflete a posição do jornal,
vale dizer, para a FSP o impeachment foi golpe. Sorte da Folha e de toda
a imprensa que o “golpe” foi tão brando – este sim - que vigoram no País
as mais amplas liberdades civis e políticas, o Congresso está aberto, a Justiça
funciona e os jornais dizem o que bem entendem, até mesmo chamando o presidente
de “Temer Golpista” em editorial.
Se todos fizessem o raciocínio cretinoide do jornalão
paulista, quem pensa diferente deveria se referir ao ex-presidente Lula como
Lula Réu da Lava Jato, ao PT como PT - o Partido Mais Corrupto da História, e à
Dilma, como Dilma - a Pior Governante do Brasil de Todos os Tempos.
A estrela cai
O Partido dos Trabalhadores derreteu nas eleições
municipais deste ano. Nas eleições de 2012 o PT apresentou, em todo o Brasil,
41.756 candidatos a vereador, prefeito e vice-prefeito. Agora, em 2016, o
número de candidatos do partido desabou para 24.269.
Em 2012, ficava atrás só do PMDB em número de candidatos.
Em 2016, está atrás do PMDB, PSDB, PSB, PDT e PP. O PT, nesse critério, está
agora mais ou menos do tamanho do DEM e do PTB.
Ao mesmo tempo, nas pesquisas eleitorais deste final de
semana, só tem um candidato do partido que lidera nas capitais, em Rio
Branco, no Acre. Os candidatos escondem a estrela e a sigla. É pesada a conta
das lambanças.
Retórica e ação
O governo Temer, de surpresa, apresentou um projeto de
mudanças no ensino médio do País. Antes mesmo de ler com atenção, as forças
retrógradas de sempre caíram de pau na proposição.
É o mantra ordinário: o projeto não foi discutido
com a sociedade. Ora, se existe algo que não falta na reforma do ensino,
nestes 13 últimos anos, é a discussão, o debate. E no entanto, o ensino
médio – e não só ele – ou fica na condição sofrível em que está ou ainda decai
em qualidade.
Era de esperar de um governo “popular” que a educação
fosse uma prioridade real, e não dessas urgências que só existem nos discursos
de candidato. Mas não há instância da educação brasileira, nestes anos de
lulopetismo, que não se tenha degradado. Uma das razões está bem à vista:
o debate sobre a matéria, entre especialistas e na sociedade, é um meio
que, nunca concluído, acaba por se transformar num fim em si. Dizendo de outro
modo, muita retórica e pouca ação.
A grita em curso é porque a proposta não é “deles”,
não vem “das bases”. Não sendo deles, é imprestável. E apresentada assim,
em tempo recorde, lhes rouba a prática execrável de enxugar o gelo em consultas
intermináveis, de modo a que – no final – tudo permaneça como está.
titoguarniere@terra.com.br