Por Facundo Cerúleo
Enciclopedistas dizem que é inédito: Grenal suspenso por causa de um atentado contra jogadores. Por um triz uma pedra não matou ninguém.
Fiquem frios! E baixem a bola. Nada há, até aqui, que aponte responsabilidade jurídica da instituição Sport Club Internacional. As grosserias do presidente colorado, nas horas que se seguiram ao fato, não estão sujeitas a punições na forma da lei.
Como é sabido, marginais tentaram eliminar o adversário antes que o jogo começasse, atacando o ônibus do Grêmio que se dirigia ao Beira-Rio.
Violência é coisa antiga. Está na bíblia. Começou com Caim, que matou Abel. Mas já é hora de todo mundo rever as próprias atitudes, assumir responsabilidade e ajudar a civilizar a espécie humana.
Meses atrás, um fanfarrão tricolor fez declarações de amor à Geral (horda que os jesuítas não conseguiram catequizar). Depois o poder público liberou canalhas que estavam proibidos de ver jogo na Arena. Em seguida, coincidência ou não, houve a invasão do estádio do Grêmio, destruição dos equipamentos do VAR e uma tremenda punição ao clube.
Outro dia, no "clima Grenal", o presidente do Inter, para constranger o Grêmio, falou de "time de segunda divisão".
Esses gaiatos, investidos de dirigentes, não percebem que, entre outros, lideram hordas primitivas que respondem primitivamente.
Elementos antissociais há em todas as torcidas. O Grêmio já foi punido (com graves prejuízos) apenas em base à "leitura labial" de uma torcedora, sendo que ninguém tinha atentado contra a vida de ninguém...
Como evitar a ressentida fantasia de que só o Grêmio é punido?
No sábado fatídico, o presidente do Inter demorou duas horas para falar.
E ignorou que um jogador sofrera traumatismo craniano; que vários atletas estavam com cacos de vidro no corpo; que a estupidez dos agressores acendia a irracionalidade da torcida adversária, coisa a ser esfriada; e que a prioridade, no momento, era o estado das vítimas.
Ele não honrou a tradição centenária e plena de glórias do Inter.
O que ele disse foi que a não realização do jogo impedia o Inter de tirar vantagem dos desfalques do Grêmio, que o Inter era vítima e (num tom raivoso) que a imprensa era culpada pelo ocorrido. Deixou em plano secundaríssimo a situação das verdadeiras vítimas.
Foi uma fala cheia de "é, mas..." para insinuar que a violência não era só da torcida colorada (uma verdade a ser vista noutro contexto, não naquela hora). Para quem anda falando em empatia... ficou cabuloso.
Querem saber? Todos, todos têm responsabilidade na solução do problema, começando por eliminar a sensação de impunidade que vigora no país. O futebol apenas está refletindo a degradação da sociedade.
Não faz três anos, seis vagabundos foram presos em flagrante com quase cinco toneladas de maconha. E foram liberados na audiência de custódia só porque disseram ter tomado uns tapas da polícia (sem provar nada!).
Há poucos dias, em Guarulhos, SP, Tatiana Regina Reis foi assassinada na porta de casa por um menor que, horas antes, tinha sido preso em flagrante delito (e solto) por participar de um assalto. Menor...
São só dois exemplos, mostrando o que é o "garantismo penal" defendido pela ideologia socialista do presidente do Inter, que faz a bandidagem acreditar naquelas de "não dá nada!". E, como se vê, não dá mesmo...
Agora, no caso do atentado contra os jogadores, se não houver uma medida enérgica por quem de direito, vai virar uma bola de neve.
Vivemos na "era do ressentimento", como diz Theodore Dalrymple. E os ressentidos querem a credencial de vítima para duas coisas: reivindicar vantagens e legitimar suas agressões contra a sociedade...
Sabemos qual é a ideologia que estimula isso... E frear essa ideologia é uma das medidas para estancar a violência!
Num cenário de rivalidade irracional e revanchismo, tudo é pretexto para agredir o outro. E o recado (em ato concreto) de quem dirige o futebol, assim como o da autoridade pública, vai fazer a diferença.