Eficientes na destruição
Brasil do PT criou sistemas ineficientes e corruptos dos
principais setores da economia aos mais simples serviços públicos
29/09/2016 - 16h09
Carlos Alberto Sardenberg, O Globo
Quanto tempo, dinheiro, energia e criatividade o pessoal
da Odebrecht gastou para montar e manter por tantos anos o tal “Departamento de
Operações Estruturadas”? O sistema supervisionava, calculava e executava os
pagamentos de comissões — propinas, corrige a LavaJato — referentes a grandes
obras no Brasil inteiro e em diversos outros países.
Considere-se ainda que os pagamentos deviam ser
dissimulados, o que trazia o trabalho adicional de esconder a circulação do
dinheiro e ocultar os nomes dos destinatários. Coloquem na história os
funcionários que criavam os codinomes dos beneficiários — Casa de Doido,
Proximus, O Santo, Barba Verde, Lampadinha — e a gente tem de reconhecer: os
caras eram eficientes.
Nenhuma economia cresce sem companhias eficientes. Elas
extraem mais riqueza do capital e do trabalho e, com isso, reduzem o custo de
produção, entregando mercadorias e serviços melhores e mais baratos. Pois o
“Departamento de Operaões Estruturadas” foi eficiente na geração de uma enorme
ineficiência.
Tudo aquilo é parte do custo Brasil — encarece as obras,
elimina a competição, afasta empresas de qualidade e simplesmente rouba
dinheiro público. Há aqui dois roubos: um direto, o sobrepreço que se coloca
nas obras para fazer o caixa que alimenta as propinas; o outro roubo é indireto
e mais espalhado.
Está no aumento dos custos de toda a operação econômica.
Na última terça, a Fundação Dom Cabral divulgou a versão 2016 do ranking
mundial de competitividade, que produz em associação com o Fórum Econômico Mundial.
O Brasil apareceu no 81º lugar, pior posição desde que o estudo é feito, atrás
dos principais emergentes, bem atrás dos demais países do Brics.
Mais importante ainda: se o Brasil caiu 33 posições nos
últimos seis anos, os demais emergentes importantes ganharam posições com
reformas e mais atividade econômica. Prova-se assim, mais uma vez, que a crise
brasileira é “coisa nossa”, genuína produção nacional. Os governos Lula 2 e
Dilma foram tão eficientes na geração do desastre quanto a Odebrecht com suas
operações estruturadas.
Uma política econômica que provoca recessão — por três
anos seguidos — com inflação em alta, juros elevadíssimos e dívida nas alturas,
tudo ao mesmo tempo, com quebradeira geral das maiores estatais — eis uma
proeza que parecia impossível. Para completar, a eliminação de qualquer
critério de mérito na montagem do governo e suas agências arrasou a eficiência
da administração pública e, por tabela, da empresa privada que tinha negócios
com esse governo.
Em circunstâncias normais, numa economia de mercado, a
empresa privada opera tendo como base as leis e as regulações que devem ser
neutras e iguais para todos. A Petrobras precisava ter regras públicas para
contratação de obras e serviços. Em vez disso, o que a Lava-Jato nos mostrou? Um
labirinto de negociações escondidas, operações dissimuladas, manipulações de
lei e regras.
Às vezes, a gente pensa: caramba, não teria sido mais
simples fazer a coisa legal? Sabe o aluno que gasta enorme energia e capacidade
bolando uma cola eficiente e acaba descobrindo que gastaria menos estudando? A
diferença no setor público é que o estudo não dá dinheiro. A cola dá um
dinheirão para partidos, seus políticos, amigos e companheiros.
Nenhum país fica rico sem ganhos de produtividade. O
Brasil da era PT perdeu produtividade. Mas, pior que isso, criou sistemas
ineficientes e corruptos desde os principais setores da economia — construção
civil, indústria de óleo e gás — até os mais simples serviços públicos, como a
concessão de bolsa-pescador ou auxíliodoença.