Campeã
mundial de Muai Thay, a gaúcha Simoni dos Santos, tem uma história inusitada:
há apenas dois anos, era uma dona de casa de 30 anos de idade, criando quatro
filhos e uma sobrinha, pesando 100 quilos e com depressão, que "só queria
chorar e ficar na cama". Um amigo lhe emprestou um saco de areia para dar
socos como uma forma de extravasar frustrações e, vendo que estava lhe fazendo
bem tal "terapia", em seguida lhe convidou para treinar Muai Thay. A
prática da arte marcial lhe ajudou a emagrecer e quando estava com 95 quilos
disputou seu primeiro torneio da categoria. Desde que começou, há dois anos,
não parou mais de praticar o esporte, até chegar ao título mundial, conquistado
na Tailândia, categoria até 60 quilos. Sua história é um exemplo do poder do
esporte como reação à depressão, que é hoje o mais frequente transtorno
psiquiátrico - e os antidepressivos o segundo mais vendidos dentre os remédios
dessa área no País (atrás apenas dos analgésicos). Os fatores biológicos,
psicológicos e sociais são relevantes na depressão. Há pessoas com tendências
familiares, há outras com evidentes conflitos emocionais desencadeantes e
também há fatores sociais (como o bullying) que podem precipitar quadros
depressivos. Quando desencadeada por causas psicológicas, o organismo passa a
ser afetado. Os antidepressivos são importantes, principalmente no início, para
ajudar a pessoa a reagir, pois a maioria das pessoas nesse estado não
conseguiria reação como a de Simoni só com o esporte. O esporte leva o corpo a
produzir endorfinas, que têm um efeito antidepressivo, conhecido como o
"hormônio do bem-estar", que eleva o ânimo e a autoestima. O aforisma
que "esporte é vida" é verdadeiro. Não existem panaceias, coisas que
por si só resolvam tudo, mas o esporte é importante para a saúde física e
mental. Psiquiatra, autor de Em busca da alma do Brasil