Preparem-se: a volatilidade dos últimos dias é apenas um
'aperitivo' do que acontecerá em 2018
Muitos fatores vão levar à queda de liquidez global,
aponta a LCA Consultores, afetando os emergentes (o que inclui o Brasil)
Os dois motivos para os investidores se preocuparem com a
eleição de 2018, segundo o FT
13 gráficos que mostram que a retomada brasileira está
cada vez mais evidente
SÃO PAULO - Expectativas pela reforma tributária dos
Estados Unidos a ser promovida por Donald Trump e a espera do mercado pelo nome
do Federal Reserve (com grandes chances de ser John Taylor, com grandes
tendências a elevar mais os juros do que o comando atual da autoridade
monetária) têm levado à maior volatilidade dos mercados nos últimos dias,
principalmente em relação ao câmbio. Em apenas quatro sessões, o dólar
comercial subiu 2,6%, passando de R$ 3,16 para a casa dos R$ 3,25.
Esse movimento de maior volatilidade nos últimos dias,
guiado principalmente pelo cenário internacional, pode ser apenas um prenúncio
do que está prestes a acontecer no ano que vem, avalia a LCA Consultores,
quando a retirada de estímulos monetários nas economias centrais adentrar
estágio mais avançado, enxugando a liquidez global.
"A evolução do ambiente internacional nas últimas
semanas pode ser considerada um 'balão de ensaio' dessa temporada de maior
volatilidade dos mercados que aguardamos para o ano que vem – com o dólar
norte-americano e as moedas de economias avançadas ganhando algum terreno sobre
as divisas emergentes, sobretudo da América Latina", afirmam os
economistas.
Contudo, os especialistas ponderam, apontando ser
relevante destacar que parte relevante das oscilações cambiais das últimas
semanas decorreu da renovada expectativa de aprovação da reforma tributária de
Trump. Contudo, o enfraquecimento das moedas emergentes também esteve associado
à perspectiva de avanços na normalização da política monetária nas principais
economias mundiais.
Para destacar os outros motivos além de Trump e suas
reformas, a LCA Consultores aponta que, nas últimas semanas os mercados futuros
de juros passaram a precificar probabilidade superior a 80% à hipótese de
elevação nas taxas básicas de juros do Federal Reserve e do Banco da Inglaterra
até o final do ano, ante probabilidade inferior a 30% que vinha sendo
precificada até o final do mês passado.
Além disso, é preponderante a perspectiva de que o BCE
(Banco Central Europeu) anunciará ainda nesta semana um cronograma de
progressiva redução de seu programa de compra de ativos. Além disso, está em
destaque a melhora da confiança do setor privado no Japão, reforçada
recentemente pela expressiva vitória política de Shinzo Abe nas eleições da
semana passada. Ela tem suscitado expectativas de redução de estímulos
monetários também pelo BoJ (Bank of Japan).
Outro elemento não poderia ficar de fora no
"caldeirão" de influenciadores dos mercados emergentes é a China, que
poderia influenciar ainda mais as expectativas para o ano que vem. Um dos
destaques fica para a incerteza ensejada pelas deliberações do 19º Congresso do
Partido Comunista Chinês. "O discurso de abertura do presidente Xi Jinping
trouxe sinalizações dúbias, ao enfatizar a importância do regime de partido
único na sociedade e na economia chinesas e, ao mesmo tempo, defender reformas
econômicas modernizantes", avalia a LCA. Além disso, o presidente chinês
Xi Jinping ganha força política, mas a hipótese de aceleração das reformas
continua envolta em incertezas.
"Um dos elementos de incerteza em relação à
influência chinesa sobre os mercados mundiais, sobretudo emergentes, diz
respeito à evolução da política monetária do Banco Popular da China. Desde que
Xi Jinping assumiu o poder, em 2013, o banco central chinês tem realizado
esforços apenas modestos para combater o excesso de alavancagem corporativa e
para conter a expansão da liquidez no sistema financeiro chinês – elementos
apontados como fatores potenciais de risco sistêmico para a segunda maior
economia do mundo", aponta a consultoria. A expectativa é de que, num
contexto de fortalecimento político de Xi Jinping e de potencial aceleração de
reformas modernizantes, os esforços sejam incrementados, o que reforça a
perspectiva de enxugamento da liquidez global em 2018 - que vem se consolidando
na esteira da incipiente normalização, em curso, das políticas monetárias nas
principais economias.
A LCA lembra ainda que os bancos centrais das quatro
maiores economias mundiais detêm, cada um, cerca de US$ 5 trilhões
em suas carteiras de ativos. O Fed e o banco central
chinês, de grosso modo, já interromperam a acumulação de ativos, ao passo que
as autoridades europeia e japonesa deverão diminuir suas intervenções nos
próximos meses.
Com isso, "a expectativa para 2018 é de que os
balanços desses bancos centrais comecem a ser gradativamente reduzidos, com
consequente redução da liquidez global, em contexto de elevação gradual de
juros. Nessas circunstâncias, o apetite dos investidores por ativos de risco
tenderá a gradativamente refluir no ano que vem, com impacto (ainda que
moderado) sobre as moedas emergentes, incluindo a brasileira". Com esse
cenário no radar, os economistas da LCA apontam que as oscilações dos mercados
nos últimos dias, que levaram a cotação do dólar a R$ 3,25 parecem representar
um aperitivo do que deverá ocorrer em 2018. Para os economistas, a moeda
americana deve negociar próximo aos R$ 3,50 no ano que vem.
E os fatores domésticos?
A LCA aponta que a alta do dólar observada no Brasil nas
últimas duas semanas ocorreu na contramão da descompressão adicional da taxa de
risco soberano, situação que sugere que o movimento foi influenciado
exclusivamente por fatores externos; e que a influência de incertezas no campo
político doméstico continua contida. Além disso, a baixa influência das
incertezas políticas domésticas sobre os mercados domésticos pode ser creditada
aos sinais de recuperação da atividade, que têm suscitado uma melhora nas
expectativas econômicas para este ano e o próximo (veja mais sobre o assunto
clicando aqui).
Assim, a recuperação da atividade, amparada em grande
medida no processo de desinflação e na expressiva flexibilização da política
monetária, tende a reforçar as expectativas do mercado de que um candidato
engajado com a implementação de reformas (sobretudo no campo fiscal) tenderá a
despontar como favorito nas eleições presidenciais de 2018, avalia a
consultoria. Contudo, ela faz uma ponderação: se ocorrer o cenário contrário,
num ambiente em que a economia volte a fraquejar antes das eleições, a
incerteza nos mercados em relação ao futuro das reformas tende a aumentar, com
impacto adverso sobre o risco-Brasil e o câmbio. Desta forma, pelo que já se
sinaliza agora, 2018 promete ser cheio de incertezas - o que deve levar a uma volatilidade
adicional do mercado brasileiro no ano que vem.