Por que ninguém aguenta mais o telemarketing?
Marilore Jaeger*
Sábado à noite, o telefone toca. Você corre ansiosamente
para atendê-lo. Entre uma respiração e outra, ouve a voz do outro lado.
Imediatamente seus olhos brilham, um sorriso nasce em seus lábios. A sensação
imediata de felicidade percorre seu corpo e automaticamente, você começa a
cantarolar. Ok. Agora coloque um operador de telemarketing nesse episódio, do
outro lado da linha. Ops... a cena parece difícil? Pois é... você torceu o
nariz ou suspirou cansadamente porque não suporta mais essas ligações? Bom, então
esse texto tem a ver com você.
Não são raros os telefonemas nos horários mais
inconvenientes possíveis por operadores despreparados que assumem tons
invasivos. O que é difícil de entender é a insistência de empresas no uso de um
canal que provoca muito mais repúdio que adesão. Não digo que esse canal
deveria ser extinto, mas sim que é preciso repensar o modo de se comunicar.
Afinal, o mundo mudou. Novas tecnologias estão ao nosso alcance.
Ora, o mantra atual de cultivar um bom relacionamento com
o cliente é propiciar experiências agradáveis, em todos momentos de interação.
Isso só é possível quando há um novo olhar sobre como se relacionar o
consumidor. Entender o que ele deseja, surpreendê-lo e encantá-lo. Utilizar os
mais variados canais e tecnologias disponíveis, provendo conexões com as
diversas gerações de consumidores. Parece uma missão impossível? Mas não é.
Pode-se dizer que não é uma tarefa fácil, mas é um desafio que muitas empresas
têm enfrentado com criatividade, respeito e seriedade.
Pense numa experiência em que você deseje obter as
informações de um produto ou serviço pelos mais variados canais: pode ser uma
loja física, um site, um anúncio em uma rede social, ou alguém falou a
respeito, entre tantas outras formas de divulgação. Curioso, você entra no site
da marca e consegue obter rapidamente a informação. É fácil visualizar, simular
e até adquirir. Mas antes de fazer a compra, você deseja conversar com o
atendimento da empresa. De uma certa forma, se não está acostumado a compras
eletrônicas, falar com um atendente pode trazer mais confiança. Você liga e é
atendido rapidamente. O atendente explica de forma coerente e segura e não
tenta empurrar outros produtos e serviços. Você identifica que o valor
visualizado no site é o mesmo em qualquer outro canal. Que as condições são as
mesmas. Que não há truques. Então você faz a aquisição pelo canal em que se
sente mais confortável. Recebe sua compra no tempo prometido, o utiliza e o
mantém. Isso tudo te deixa com uma sensação positiva e, naturalmente, você
conta essa experiência às pessoas próximas por uma razão: tudo funciona. De
forma organizada, séria. E veja só: isso te surpreende.
Não é impressionante? Quando todo um ciclo de consumo
acontece de forma agradável, nasce um sentimento de satisfação. De fato, o
consumidor brasileiro já foi tão maltratado, que nem é preciso reinventar a
roda para fazer a diferença. Basta fazer com que o ciclo todo de consumo
funcione. E para isso, as empresas precisam apostar nessa trilogia: time de
colaboradores motivados, tecnologia bem dimensionada e capacidade de mensurar
as experiências com os consumidores e parceiros. O ganho? Cliente feliz,
satisfeito e fiel.
*Marilore Jaeger, coordenadora Laboratório CRM da Escola
de Comunicação e Negócios da Universidade Positivo.