Governo sem povo-

 Dentro de dois dias, portanto no sábado, começará o Cpac, como é conhecido por esta sigla. O evento é uma versão brasileira do Conservative Political Action Conference (CPAC), que acontece anualmente, desde 1973, e reúne nomes do conservadorismo dos Estados Unidos com o objetivo de discutir estratégias eleitorais para a expansão do pensamento conservador no mundo.

Será em Balneário Camboriu, Santa Catarina e ocorrerá no sábado e no domingo.

O evento é amplamente controlado pelo PL mais bolsonarista que existe, a começar pelo seu maior líder no momento, o filho do ex-presidente, Eduardo Bols0onaro.

O prefeito de Balneário Camboriu também é do PL, como é do PL o governaor catarinense Jorginho Melo.

Eu quero destacar dois fatos relevantes que cercam este evento político de enorme importância:

1) A presença do presidente argentino Javier Milei, que neste final de semana deveria estar presente na reunião do Mercosul, marcada para segunda-feira em Assunção. O Mercosul está sob a presidência do Brasil. Milei deu de ombros e resolveu viajar para se encontrar com Bolsonaro.

2) A desistência da viagem que Lula faria a Santa Catarina, também neste final de semana, temendo ser hostilizado.

Sobre a presença de Milei, a mídia amiga e o próprio governo mandam recados oblíquos para intimidá-lo e evitar que ele volte a insultar - ou dizer as verdades, sobre o presidente nomeado Lula da Silva.

Em entrevista para a Rádio do jornal La Nación, Buenos Aires, na semana passada, um jornalista quis saber se ele iria se desculpar com Lula, que exigiu isto para concordar em recebe-lo. A resposta do argentino foi duríssima: "Eu menti: Lula é descondenado, ladrão e comunista.

Ontem, na CNN Brasil, a jornalista Fernanda Lima, que é uma espécie de assessora de imprensa informal do governo federal nomeado, pasou recados do Planalto para Milei:

1) Se passar do ponto em Camboriú e voltar a insultar o presidente, o governo brasileiro congelará suas relações diplomáticas com a Argentina.

2) O governo brasileiro já vem trabalhando com governadores argentinos da oposição.

É uma no ferro e outra também no ferro.

Claro que Javier Milei sabe que está em território estrangeiro e que é presidente de um País que mantém relações diplomáticas com outro, mas até aí poderia manter suas críticas, porém o problema é que ao contrário de Países como Espanha e Itália, visitados recentemente por Milei, o Brasil está sob um regime autoritário esquerdopata.

Esta é que é a verdade.

Quanto ao cancelamento da viagem de Lula a Santa Catarina, cancelada, vale a pena repetir o que avaliou o jornalista Gerson Camarotti, da Globonews:

- Um presidente que tem medo de viajar para os Estados, com receio de ser hostilizado, é um presidente fraco, que se fragiliza e fragiliza seus apoiadores.

Este governo nomeado e seu presidente nomeado, comprovam a cada dia que passa que foram parar ali contra a vontade do povo e governam sem o povo.

É simples assim.

Produtores gaúchos lotam ginásio da Fenarroz em protesto contra governo federal

Mais de dois meses após catástrofe climática que dizimou o agronegócio, socorro prometido por Brasília ficou apenas na promessa

Milhares de produtores rurais e lideranças do agronegócio gaúcho lotaram, nesta quinta-feira (4), o ginásio da Fenarroz, em Cahoeira do Sul (RS), para protestar contra a demora do governo federal em anunciar medidas de socorro ao setor. A mobilização fez parte do movimento SOS AGRO RS, organizado por diversas entidades representativas do setor produtivo. 


Mais de dois meses já se passaram desde a catástrofe climática que atingiu cerca de 470 municípios. Segundo dados da CNM, os prejuízos financeiros para o agronegócio gaúcho somam aproximadamente R$ 4,5 bilhões. Mais de 200 mil propriedades rurais foram afetadas, ou seja, um terço de todas as 600 mil propriedades registradas no último censo agropecuário. 


 Autor do Projeto de Lei 1536/2024, que concede perdão e adia o pagamento das dívidas agropecuárias, o deputado Luciano Zucco (PL-RS) participou do encontro e ressaltou que a situação no estado é de terra arrasada. “A força das águas arrancou os solos, deixando à mostra uma terra dura e pedregosa. Muitas lavouras foram cobertas com lama e areia que ficava no fundo dos rios. Rebanhos inteiros morreram afogados, galpões, maquinários e ferramentas foram totalmente destruídos. Precisamos de um plano estratégico para reerguer nosso agronegócio, mas até agora o que temos é muita promessa não cumprida”, criticou.  


Aprovado por unanimidade na Câmara, o PL 1536 contempla financiamentos de custeio agropecuário, de comercialização e de investimento rural, contratados por produtores naqueles municípios em estado de calamidade pública ou situação de emergência reconhecidos pelo governo federal. O texto ainda depende da análise dos senadores para ser encaminhado à sanção presidencial. “O que causa revolta é essa demora em aprovar medidas que já deveriam estar em vigor. Se o Palácio do Planto quisesse mesmo socorrer os produtores já tinha editado uma Medida Provisória”, destacou Zucco, lembrando que uma MP tem efeito legislativo imediato. 


Conheça as pautas do Movimento SOS AGRO


1 – Prorrogação de dívidas: 15 anos, com dois anos de carência e taxa de juros de 3% ao ano; 

2 – Crédito para reconstrução e capital de giro;

3 – Securitização e anistia de dívidas;

3.1) Pronaf e Pronamp com taxas de juros reduzidas (1% a 3% a.a.) e prazos de reembolso de até 15 anos; 

3.2) Anistia das parcelas do Programa Nacional de Crédito Fundiário e do Programa Nacional Habitação Rural com vencimento entre maio de 2024 e dezembro de 2025; 

4 – Linhas de crédito e assistência técnica;

4.1) Para reconstrução das propriedades e capital de giro para cooperativas de produção; 

4.2) Destinação de R$ 20 milhões para assistência técnica e extensão rural, Linhas de Crédito e Assistência Técnica No valor de um salário mínimo pelo período de seis meses para famílias rurais. Auxílio Emergencial

5 – Auxílio Emergencial no valor de um salário mínimo pelo período de seis meses para famílias rurais.

Exclusivo, Cláudia Woellner Pereira - Os entulhos da política brasileira

Cláudia Woellner Pereira é tradutora e redatora.

Três meninos brincam alegremente nos entulhos. O homem carrega vitorioso o violão de doze cordas que não soará mais na igreja. Duas mulheres levam um sofá estropiado num carrinho de mão. Outro sujeito levanta uma porta do monturo e diz que vai fazer uma mesa. As águas, ironicamente, arrancaram de uns e lançaram alguma possibilidade aos pés de outros. Sabe lá Deus se foi o otimismo ou a alienação o autor desses movimentos.

Não são só os otimistas, ou alienados, que circulam. Caminhões e escavadeiras. Carros de TV e Rádios farejam algum “furo”, como se o todo já não fosse uma enorme “bomba”. Rostos abatidos, olhares perdidos. A pergunta que ninguém transforma em grito, mas que é muito mais forte que o fôlego remanescente, está cravada em cada esquina. A normalidade vai encontrar o seu curso?

Cenário de guerra onde não houve sequer um estopim. Houve, sim. Nas urnas, quando os brasileiros transformaram o seu voto em moeda de troca. Nos gabinetes de vereadores, prefeitos, deputados, senadores, governadores, assessores, presidente, quando os seus ofícios descambam para o gozo de favores e campo de corrupção.  

Vamos responsabilizar as mudanças climáticas quando existem fatos antecedentes de ocorrência semelhante no mesmo espaço geográfico? Não é o que propõe o pensamento científico pós-moderno, o de usar o corpo de conhecimento produzido para benefício da humanidade? Não somos capazes de mapear as áreas de risco e, de forma inteligente, gerar políticas públicas de prevenção e proteção?

Quando estive em ruas de Canoas/RS com um grupo de voluntários para amenizar um pouco a dor daqueles que perderam tudo, o alvo da minha raiva não foi Deus, questionando onde Ele estava quando tudo isso aconteceu. Não foi o mundo capitalista que supostamente desequilibrou o clima. O alvo da minha indignação voltou-se para aqueles que têm a responsabilidade de desenvolver e executar planos diretores, de administrar o planejamento urbano e rural, de conhecer as áreas de risco de seus municípios e aplicar medidas de proteção.

Os meninos têm que seguir brincando alegremente. O violão precisa e deve ser tocado. O sofá tem que ser lugar de aconchego e tempo de família. Nunca, nunca em meio a entulhos gerados pelo descaso e a omissão.



A Ficção do Ministro Barroso

A Ficção do Ministro Barroso

J R Guzzo - Revista Oeste


“O Brasil não tem, há mais de cinco anos, um supremo tribunal de Justiça. O que tem continua sendo uma guarda suprema, mas deixou de ser um tribunal e, obviamente, não passa pela cabeça de ninguém ir até lá em busca de justiça. Em vez do STF que existia até a eleição de Bolsonaro para a Presidência da República, o que existe agora é um Comissariado de Segurança e Defesa do Regime. Sua única função efetiva é garantir, com o apoio da força armada, que as leis em vigor no Brasil nunca vão ser aplicadas em favor de quem discorda do governo, dos próprios ministros e dos interesses de ambos. A segunda parte de sua obra é assegurar que qualquer lei vai ser violada se estiver atrapalhando o regime Lula-STF. A grande inovação de tudo isso para a ciência política é a criação da vacina antidireita. Como a direita, que hoje só é disponível na embalagem “extrema direita”, passou a ameaçar a democracia porque também passou a ganhar eleições, o “Estado Democrático de Direito” só pode ser salvo abolindo-se os direitos dos direitistas.


“A democracia tem lugar para todos, menos para os que são contra a democracia”, determinou o presidente do STF em sua última encíclica, desta vez proclamada na Universidade de Oxford. É a alma soviética que hoje inspira a nossa “suprema corte”, como se costuma dizer. “Os que são contra a democracia” são os que discordam das decisões da junta de governo STF-Lula — não podem, portanto, ter a proteção da lei, pois, na doutrina oficial ora vigente, vão “usar” os seus direitos constitucionais para fazer política, ganhar eleições e acabar com a democracia quando chegarem ao governo. Há diversos casos, nos últimos anos, em que a direita ganhou a eleição e foi para o governo — inclusive aqui mesmo, no Brasil, em 2018. Não há nenhum caso em que tenha criado uma ditadura depois de eleita. Mas é aí que está: esse é um raciocínio de direita e, portanto, antidemocrático. Argumento, numa democracia-modelo como a que o STF inventou para o Brasil, só se for autorizado pelo ministro Barroso e seus pares no Comissariado.



O modo de operar do STF atual não tem similares em nenhuma democracia do planeta. Não se trata aqui da folha de pagamento com quase 3 mil funcionários (já houve até auxiliares de desenvolvimento infantil nesse mar de gente), nem do custo de R$ 1 bilhão por ano e outros sinais explícitos de subdesenvolvimento. Isso é a senzala geral do Brasil, para a qual não há cura conhecida. O que chama a atenção no Supremo de hoje é sua organização como chefatura nacional de polícia. Há o Centro de Enfrentamento aos Direitos Individuais e às Liberdades Públicas, chefiado pelo ministro Alexandre de Moraes — que acumula o Centro Integrado de Enfrentamento à Desinformação e Defesa da Democracia no braço eleitoral do STF, o TSE. Há o Centro de Enfrentamento às Punições por Crimes de Corrupção, a cargo do ministro Dias Toffoli. Há o Centro de Enfrentamento às Leis Aprovadas Pelo Congresso e o Centro de Enfrentamento à Oposição, comandados em sistema de rodízio. Há o Centro de Enfrentamento à Verdade dos Fatos — esse sob a direção do ministro Barroso.


Em sua última operação, desfechada na Universidade de Oxford, Barroso se esforçou em globalizar a ficção de que o STF criou no Brasil um modelo de democracia sem rivais no mundo neste século 21. O ministro, que também é presidente vitalício do Centro de Enfrentamento ao Bolsonarismo, conta nessa missão com a parceria da ignorância invencível do Primeiro Mundo (dos outros mundos, então, nem se fale) em relação ao Brasil. Se alguém lá fora soubesse cinco por cento do que acontece de verdade aqui dentro, o presidente do STF não conseguiria falar de cima de um caixote no Hyde Park Corner. Os fatos mostram que em 1º de janeiro de 2019 o Brasil vivia perfeitamente de acordo com a sua Constituição — ou alguém é capaz de citar algum caso concreto de violação da lei por parte do Estado naquela época? Cinco anos e meio sob a administração do STF, pela primeira vez desde o fim da ditadura militar, o Brasil tem presos políticos. Tem exilados que fogem do país para escapar dos cárceres do ministro Alexandre de Moraes. Tem inquéritos policiais perpétuos.


A democracia que o ministro Barroso apresenta na Inglaterra tem censura oficial nas redes sociais, em veículos de imprensa e em produtoras de documentários. O brasileiro pode ser preso, interrogado pela polícia, ter suas contas bancárias bloqueadas, ter seu passaporte confiscado, ter o seu sigilo violado. Todas as provas contra a corrupção, mesmo incluindo confissões e devolução de dinheiro roubado, são anuladas pelo STF — o que faz do Brasil o único país do mundo com impunidade garantida por jurisprudência. 


Juízes que denunciam situações ou sentenças que consideram erradas são expulsos da magistratura. Num caso de flagrante violação da lei penal e dos direitos civis garantidos pela Constituição, um cidadão está preso há mais de quatro meses sem que o ministro Moraes e a Polícia Federal tenham conseguido até agora nenhuma prova das acusações que fazem a ele — e apesar de ter provado que não fez o que é acusado de ter feito.



 O presidente do STF e todos os seus colegas do circuito de palestras que fazem pelos países ricos não mencionam a nenhum dos auditórios que o político mais popular do Brasil não pode se candidatar a eleições até o ano de 2030 — por ter falado mal das urnas eletrônicas numa conferência a embaixadores estrangeiros. 


Ninguém sabe que o ministro Toffoli pagou com dinheiro público um guarda-costas pessoal quando foi assistir à final da Champions, em Londres. O mundo também não tem ideia de uma anomalia tão extravagante que ganhou o apelido de “Gilmarpalooza” — um festival de altos magistrados, ministros do governo e empresários com causas no alto Judiciário que vão discutir questões brasileiras em Portugal. (O animador é o ministro Gilmar Mendes, que acumula suas funções de ministro do STF com a propriedade de uma faculdade particular de Direito em Brasília.) Em matéria de conflito de interesses, por sinal, a democracia do ministro Barroso não acha nada de errado que mulheres dos ministros trabalhem em escritórios de advocacia com causas em apreciação no Supremo.


Isso tudo, no pensamento oficial, foi que salvou o Brasil do “populismo de direita” — o mal du siècleque no entendimento do presidente Barroso é a pior ameaça que a humanidade tem pela frente nos dias de hoje. Segundo ele, o mundo conseguiu nos últimos cem anos superar o nazismo, fascismo, comunismo, fundamentalismo religioso e outros males; no Brasil, em virtude das decisões do STF, superou o bolsonarismo. Precisaria, agora, exterminar essa extrema direita que ganha eleições livres e pretende, uma vez no governo, executar “agendas” que a maioria do eleitorado quer que sejam executadas — coisa que exigiu abertamente com o seu voto. Eis aí a essência dessa visão do mundo: o principal perigo para a democracia é a democracia. Ela pode levar o povo a escolher governos não autorizados pelo STF, e isso, para os ministros, é inegociável. Para simplificar as coisas, basta responder a uma pergunta: é possível a existência de um Toffoli num regime razoavelmente democrático? É possível ter os inquéritos sem fim do ministro Moraes? É possível haver o “Gilmarpalooza”? Não é — e o STF é o primeiro a saber que não é.


As palestras, os despachos e os comícios em circuito fechado feitos pelos ministros, quando se olha mais de perto, são um veredito político. É o que diz a linguagem que usam. Não pronunciam a palavra “liberdade”, por exemplo — a não ser para insistir que ela tem limites, está sendo abusada e precisa ser reduzida a rações de guerra. Não falam em “império da lei”. Não usam a expressão “direitos humanos”, nem “direito de defesa.” Não chamam de “baderna”, e sim de “golpe armado”, um quebra-quebra onde as armas mais pesadas, segundo a sua própria polícia, foram dois ou três estilingues. Acima de tudo, não dizem nem escrevem a palavra “justiça”.”