Em cena digna de 1984, mulher é presa no Reino Unido por orar silenciosamente diante de uma clínica de aborto.
“O crime de pensamento não era algo que se pudesse esconder para sempre. Talvez você até conseguisse escapar por algum tempo, às vezes por anos, mas cedo ou tarde eles o pegariam.” (George Orwell)
No último dia 6 de dezembro, a ativista pró-vida Isabel Vaughan-Spruce, foi presa por violar uma Ordem de Proteção do Espaço Público em Birmingham, no Reino Unido. Seu crime consistiu em rezar silenciosamente diante de uma clínica de abortos da cidade britânica. No último dia 15, Isabel foi formalmente acusada de violar quatro vezes a lei que regula o comportamento antissocial no país e deverá comparecer ao Tribunal de Magistrados de Birmingham em 2 de fevereiro de 2023.
Isabel, que é diretora da instituição March For Life UK, foi acusada por um cidadão de estar orando em silêncio, o que poderia causar constrangimento para pacientes e funcionários da clínica de abortos localizada em Kings Norton, Birmingham. Como parte de sua fiança, Isabel foi proibida de rezar em determinadas circunstâncias. Inicialmente, a Justiça pretendia exigir que ela entrasse em contato com um padre local envolvido em trabalho pró-vida, mas esse item foi retirado.
Isabel não carregava cartazes ou placas, não dizia nada, não tentava convencer ninguém a fazer ou deixar de fazer alguma coisa. Apenas estava parada, perto da clínica, de olhos fechados. “Dediquei parte da minha vida a apoiar mulheres em gestações em crise com tudo que elas precisam para fazer uma escolha pela maternidade”, disse a ativista à agência de notícias católica CNA. “Minha fé é uma parte central de quem eu sou, então às vezes eu fico de pé ou caminho perto de uma clínica de aborto e oro sobre esse assunto. É algo que tenho feito praticamente todas as semanas nos últimos 20 anos da minha vida.”
Recentemente, vários conselhos locais no Reino Unido aprovaram “zonas-tampão” de 150 metros em torno das clínicas de aborto, para evitar que os ativistas pró-vida influenciem as mulheres grávidas que desejam matar as crianças dentro de seus ventres. Há um debate no Parlamento inglês sobre a possibilidade de estender essas zonas-tampão por todas as cidades britânicas. Um projeto de lei em discussão na Câmara dos Comuns prevê que as pessoas sejam impedidas de “influenciar”, “aconselhar”, “persuadir”, “informar” ou mesmo “expressar opinião” perto de uma clínica de aborto. A lei nada fala sobre orar em silêncio.
O romance 1984, de George Orwell, retrata uma sociedade totalitária em que o mais grave dos crimes é o crime de pensamento (em novilíngua, crimepensar). A acusação contra Isabel Vaughan-Spruce se encaixa perfeitamente na definição de Orwell. A propósito, a ação do livro se passa em um país chamado Oceania, que corresponde em parte ao Reino Unido atual. O Grande Irmão está de olho em você – e nos seus pensamentos.
Curiosamente, Isabel tem o mesmo nome da prima de Nossa Senhora, mãe de João Batista – o nascituro que foi a primeira pessoa a fazer um gesto de adoração ao Filho de Deus, ainda no ventre materno:
“Ora, apenas Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança estremeceu no seu seio; e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. E exclamou em alta voz: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre .Donde me vem esta honra de vir a mim a mãe de meu Senhor? Pois assim que a voz de tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança estremeceu de alegria no meu seio.” (Lc 1, 41-44)