o Mais uma vez, frustraram-se as expectativas de
estabilização e refluxo da inflação na Argentina. A inflação ao consumidor
voltou a surpreender para cima em fevereiro, atingindo alta de 3,8% no mês e
51,3% em 12 meses. Como seria de se esperar, o repasse da desvalorização do
peso em 2018 tem sido um fator determinante para a dinâmica da inflação. Mas os
números também refletem a concentração de reajustes de preços regulados no
início do ano.
o Nossa projeção para a inflação em 2019 é de 32,4%,
supondo taxa de câmbio de AR$/US$ 50 ao final do ano. Note que as projeções de
inflação para a Argentina são particularmente sensíveis à hipótese de câmbio,
pois o pass-through da variação cambial para a inflação é muito elevado. O
passthrough elevado argentino se traduz em forte intolerância a flutuações
cambiais (conhecido na literatura econômica como fear of floating). O próprio
acordo entre Argentina e FMI dá tratamento especial ao câmbio. De um lado, como
é praxe nos programas do Fundo, a Argentina se comprometeu com metas fiscais
rigorosas. Mas os demais componentes do tripé de políticas econômicas - que tem
sido a base das recomendações do FMI nas últimas décadas - foram deixados de
lado. Em vez de câmbio flutuante, o fundo permitiu que a Argentina implementasse
a banda cambial de não-intervenção. E em vez de metas de inflação, a Argentina
adotou um regime de metas quantitativas de moeda e juros flutuantes.
o O desconforto com a depreciação cambial e a
persistência da inflação das últimas semanas geraram forte reação da política
econômica. Além da redução do ritmo de ajuste da banda cambial de
não-intervenção, o Banco Central anunciou que continuaria perseguindo a meta de
crescimento zero da base monetária até o final do ano e sancionou forte
elevação da taxa de juros.
o Por trás de toda a volatilidade nos ativos argentinos,
há a incerteza eleitoral. Por enquanto, as pesquisas mostram empate técnico
entre o Presidente Macri e a ex-Presidente Cristina Kirchner, que advoga
políticas mais intervencionistas na economia. O temor dos investidores é que o
excesso de volatilidade cambial e uma depreciação mais acentuada do peso
pressionem ainda mais a inflação. Além do impacto direto da inflação sobre a
popularidade da política de ajuste econômico mais ortodoxo, há ainda o canal
indireto, pois se o Banco Central for obrigado a manter a política monetária
restritiva, também aumentam os riscos de que a recessão persista por mais
tempo. Nesse contexto, o esforço da Argentina para evitar a instabilidade
cambial deve continuar sendo um aspecto central da política econômica. O
cenário, contudo, permanece altamente volátil.