As informações na reportagem Palocci acusa Lula de
interferir em fundos de pensão, de Ricardo Brandt, publicada na página A10 do
Estadão de domingo passado, são fundamentais para que se conheça em toda a
extensão a que ponto chegou o planejamento do Partido dos Trabalhadores (PT)
para executar a maior rapina dos cofres públicos da nossa História.
Nela o repórter reproduziu o depoimento completo, lógico,
bem encadeado e muito verossímil dado em delação premiada pelo ex-ministro da
Fazenda da primeira gestão petista na Presidência da República e ex-chefe da
Casa Civil de Dilma Rousseff à Polícia Federal (PF) em Curitiba, onde cumpre
pena, da qual pede redução. Não chega mais a espantar ninguém, pois as notícias
de jornais, revistas e emissoras de rádio e televisão já contaram em detalhes
como os desgovernos da República entre 2002 e 2016 saquearam com volúpia,
método, determinação e cinismo todos os cofres disponíveis do erário. Mas
esclarece como foi possível realizar essa empreitada hercúlea e ambiciosa.
Segundo o relato, o ensaio geral do acabamento da ficção
de terror e mistificação política e econômica começou com a criação, em
dezembro de 2010, da empresa Sete Brasil, com o objetivo de contratar a
construção dos navios-sonda de estaleiros. No depoimento ficou claro que o
pretexto do investimento de dinheiro público na tal firma, segundo o qual
serviria para garantir o apoio à indústria nacional e defender a autonomia do
País, libertando-o da dependência de fornecedores estrangeiros, não passava de
balela. Conforme Palocci, o que se queria desse dinheiro não era empregá-lo num
objetivo teoricamente nacionalista e patriótico, mas apenas abastecer as
campanhas políticas do PT com recursos desviados de contratos firmados entre a
Petrobrás, estatal inteiramente aparelhada pela “companheirada”, e empreiteiras
dispostas a se associarem no negócio sujo. O esquema foi treinado com
diligência, como um curso prático a ser aplicado no Estado inteiro.
Os fundos de pensão – instrumento de poupança usado no
sistema capitalista para substituir com mais eficiência e sustentabilidade os
métodos da previdência social, que garante a sobrevivência de executivos e
trabalhadores quando se aposentam – serviram como uma luva a interesses ladinos
de larápios petistas. Afinal, eles lidam com quantias bilionárias e são geridos
num sistema partilhado por representantes do poder público, dos sindicatos e
dos funcionários a serem beneficiados com seu usufruto. Com a parceria de
sindicatos dominantes nas estatais, da Central Única dos Trabalhadores (CUT), e
militantes estrategicamente distribuídos em tais empresas, o PT tinha a faca e
o queijo na mão.
“Segundo Palocci, Lula e Dilma teriam determinado
indevidamente a cinco ex-dirigentes dos fundos de pensão do Banco do Brasil
(Previ), da Caixa Econômica Federal (Funcef) e da Petrobrás (Petros), indicados
aos cargos pelo PT, que capitalizassem o ‘projeto sondas’. A operação
financeira, que resultou na criação da Sete Brasil, em 2010, buscava viabilizar
a construção no Brasil dos navios-sonda – embarcações que perfuram os poços de
petróleo – para a Petrobrás explorar o pré-sal. A estatal anunciara em 2008 que
precisaria de 40 equipamentos – no mundo, existiam menos de 100. ‘Dentro desse
investimento, tinha todo ilícito possível’, afirmou o ex-ministro, em
depoimento à PF”, de acordo com Brandt. Os dirigentes citados são Sérgio Rosa e
Ricardo Flores, da Previ, Guilherme Lacerda, do Funcef, e Wagner Pinheiro e
Luís Carlos Afonso, da Petros.
Isso tudo é pra lá de repugnante. Afinal, o furto
dilapidava a poupança de trabalhadores, cujo nome o PT usa. E a corrupção
descarada só não arruinou os fundos de pensão citados porque dinheiro limpo dos
contribuintes e dos próprios beneficiários os estão salvando. E a bancarrota do
Postalis mostra que não são únicos.
Palocci revelou aos investigadores que “o PT ocupou os
comandos da Previ, Funcef e Petros desde o início do governo Lula, em 2003. O
ex-ministro das Comunicações Luiz Gushiken (que morreu em 2013) era o principal
responsável pela área. Palocci diz que foi padrinho político de Sérgio Rosa e
Wagner Pinheiro e que o ex-ministro José Dirceu indicou Guilherme Lacerda –
todos com aval de Gushiken”.
José Dirceu, condenado solto por benemerência do trio
“Solta o Chapa” do STF – Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski e Dias Toffoli –,
pode argumentar que o antigo rival no comando do primeiro desgoverno Lula não
tem como comprovar as acusações. Mas Brandt já avisou que Palocci deu o roteiro
para a PF encontrar as tais provas. E a simples menção a Dirceu na narrativa já
deveria bastar para o plenário do STF revogar a decisão que o liberou até do
uso de tornozeleiras eletrônicas.
O ex-presidente do STF Ricardo Lewandowski tem mais ainda
a explicar depois desse relato dos prolegômenos da rapina. Gushiken,
ex-dirigente sindical bancário em São Paulo e responsável pelos fundos no
latifúndio do PT, foi absolvido post mortem com pompa e misericórdia no
julgamento da AP 470, vulgo mensalão, no STF. O revisor do processo,
Lewandowski, fez um elogio fúnebre hagiográfico sobre o ora citado por Palocci,
como se, mais que monge budista, que ele fingia ser, fosse um santo.
É útil lembrar que em 2009 a revista Piauí publicou
Sérgio Rosa e o mundo dos fundos, de Consuelo Dieguez. Lá está escrito:
“Bolchevique de cabo a rabo na juventude, o presidente da Previ administra um
caixa de 121 bilhões de reais e, segundo o sociólogo Francisco de Oliveira, é
representante de uma nova classe”. Nos fundos de pensão foi usado o método
descrito por Lenin no artigo Todo o poder aos sovietes, no Pravda, em 18 de
julho de 1917.
É hora de cobrar a conta: investigar os beneficiados pelo
PT com dinheiro dos fundos de pensão e fazer acareação de Palocci com seus
dirigentes.