Estamos nas últimas 48 horas que antecedem o julgamento do século, no caso o julgamento político de Bolsonaro e mais 7 dos seus ex-ministros e auxiliares de primeiro escalão, inclusive dois oficiais generais, todos ministros militres do governo anterior.

É um julgamento político, baseado num inquérito flagrantemente ilegal, tudo a cargo de um único ministro que é ao mesmo tempo vítima, investigador policial, promotor denunciante, julgador e encrcerador, o ministro Alexndre de Moraes, que trabalha com 4 dos 11 ministros do tribunal de exceção no qual se transformou o STF.

O climão é de flagrante tensão política e social, mas não apenas em Brasília, o que pode ser percebido pela decisão das autoridades policiais e militares de impor medidas inéditas de segurança no entorno do prédio do STF, já que mobilizarão 4 mil homens fortemente armados para impedir qualquer manifestação.

No Congresso, a tensão não é menor do que nas ruas, mas o Congresso, que poderia ter evitado este julgamento semelhante aos processos stalinistas de Moscou, trabalha em conluio com o STF e o governo Lula, do PT, sob os aplausos de uma grande mídia que nunca foi tão canalha e venal como é agora. Nesta undécima hora, corre o boato de que o Congresso já teria formado um acordão com o STF e o governo do PT para condenar Bolsonaro e, em seguida, aprovar anistia para ele e para todos os demais envolvidos em processos políticos.

E este climão não ocorre apenas por força de reações políticas e sociais internas, mas também externas.

O noticiário de hoje da grande mídia - da grande mídia, portanto da mídia alinhada com o autoritarismo - repete o que vinha correndo à boca pequena, a notícia de que o governo do presidente Trump vai mesmo acompanhar com lupa, de perto, todo o julgamento. Noticiários de hoje de órgãos como CNN Bfrasil e Globo, só para citar dois casos, confirmam que Trump enfiará a Lei Magnitsky para cima de cada um dos 5 ministros da 1a. Turma que já no primeiro dia do julgamento, dia 2, demonstrar que irá mesmo condenar Bolsonaro. Em tempo real, diz o noticiário. Dois brasileiros exilados com grande influência no governo Trump, como já demonstraram, no caso o apresentador Paulo Figudeiredo e o deputado Eduardo Bolsonaro, foram convidados para irem a Washington e acompanharem as audiências de perto. E não acompanharão apenas como espectadores.

A jornalista Mariana Sanches, colunista do UOL, que diz ter fontes credenciadas junto ao governo dos Estados Unidos, diz que  ocorrerão novas rodadas de cassação de vistos a autoridades brasileiras, sanções financeiras a outros integrantes do STF e uma nova edição da lista de itens brasileiros excluídos do tarifaço de 50% em vigor desde o último dia 6.E mais do que isto, porque na lista de maldades que Trump enxerga estão as quebras ilegais de patentes de remédios americanos e perseguição a redes sociais e aplicativos de empresas dos EUA.

O STF, com Moraes à frente, ele mesmo já sancionado com a perda de vistos e punido com a Magnitsky, e seu aliado o governo Lula e os presidentes da Câmara e do Senado, vão pagando para ver, aparentemente indiferentes ao contencioso gigantesco que acumulam com o poderoso governo dos Estados Unidos, o mais poderoso do mundo, que neste caso defendem com rigor consistente e disposição de ir às últimas consequências, tudo o que defendem, ou seja, o regime do estado democrático de direito de verdade, que vem sendo violado no Brasil, e o alinhamento com os ditames da economia de mercado ao estilo das democracias ocidentais.

Vamos ver se os 5 ministros do STF, seus aliados do governo Lula e do Congresso terão peito para condenar e prender estes 8 cidadãos brasileiros da maior estirpe:

Jair Bolsonaro, ex-presidente da República; 

Walter Souza Braga Netto, ex-ministro da Defesa e da Casa Civil no governo de Bolsonaro, candidato a vice-presidente em 2022; 

Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente; 

Alexandre Ramagem, deputado federal e ex-presidente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência); 

Almir Garnier, almirante de esquadra que comandou a Marinha no governo de Bolsonaro; 

Anderson Torres, ex-ministro da Justiça de Bolsonaro; 

Augusto Heleno, ex-ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) de Bolsonaro; e Paulo Sérgio Nogueira, general e ex-ministro da Defesa.

Os julgadores, que poderão ir para o livro da infâmia brasileira, são Cristiano Zamin, o presidente; Alexandre de Moraes, o relator; e os ministros Cármem Lúcia, Flávio Dino e Luiz Fux.

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Artigo, especial, Alex Pipkin - O Cinismo da Retórica Democrática

Alex Pipkin, PhD

Marx dizia que a história se repete: a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa.

Estudar o passado é um ato de vigilância e inteligência; compreender fatos históricos e experiências concretas permite que o presente se ilumine pela clareza da experiência e que o futuro seja orientado pelo discernimento do que deve — e do que jamais deve — ser feito. Apenas conhecendo a história podemos antecipar armadilhas do poder, enxergar os sinais da farsa antes que se transformem em tragédia e aprender a distinguir o teatro do real.

A Índia dos anos 70 oferece um exemplo extremo da fragilidade das instituições quando a vontade de um único líder se sobrepõe à lei. Indira Gandhi, ao ter sua eleição invalidada, decretou estado de emergência, suspendeu liberdades civis, censurou a imprensa e encarcerou opositores em massa. Tudo em nome da democracia. O que deveria proteger o povo transformou-se em cárcere; o Estado, em instrumento de coerção pessoal, revelando a perversidade com que o poder se disfarça de legítimo e justo.

No Brasil, desde 2022, a tragédia da Índia se repete sob o verniz sofisticado da farsa. Sob o pretexto de salvar a democracia de uma suposta ameaça autoritária, Lula retornou ao poder, embalado por uma narrativa que pintava o antecessor como inimigo do Estado de Direito. O discurso do golpe tornou-se justificativa universal para medidas de exceção, manipulações jurídicas e perseguições políticas, celebradas como atos de preservação da liberdade enquanto corroíam as estruturas que deveriam protegê-la.

O cinismo é absoluto. Lula se apresenta como guardião da democracia, mas utiliza o conceito como disfarce. O STF, que deveria arbitrar, tornou-se ator político, blindando o governo e legitimando ações, como evidencia a declaração de Barroso: “nós derrotamos o bolsonarismo”. A toga deixou de simbolizar neutralidade e transformou-se em partido, dissolvendo qualquer vestígio de imparcialidade que a população poderia esperar.

O autoritarismo não se limita à perseguição de adversários; busca moldar consciências, domesticar o pensamento e monopolizar narrativas. A regulação das redes sociais é a nova face da censura. O pretexto é nobre: combater a desinformação, preservar a democracia. O efeito é sombrio: sufocar vozes dissidentes, amputar a liberdade de expressão e uniformizar o debate público. A censura que na Índia se aplicava a jornais e rádios aqui se materializa na remoção de conteúdos digitais, na suspensão de contas e na intimidação de plataformas, revelando um controle moderno, tecnológico e juridicamente revestido.

Este sistema se sustenta graças a um povo em grande parte iletrado e dependente de migalhas estatais, que vê no governo o salvador. Não é libertação, é manipulação; não inclusão, mas clientelismo. O “Bolsa Família” transformou-se em Bolsa Tudo, Auxílio Tudo, programas assistencialistas infrutíferos que não emancipam, não educam, não libertam, apenas perpetuam a dependência e consolidam a mentira como política.

O quarto poder, que deveria vigiar e corrigir distorções, tornou-se coadjuvante do governo, transformando-se em partido da mídia oficial, selando a narrativa e garantindo que o disfarce democrático permaneça intacto.

É a engrenagem perfeita. Sem a narrativa do golpe, Lula não teria legitimidade; sem a toga militante, não haveria blindagem; sem o controle das consciências e das narrativas, não poderia sustentar o teatro democrático em que atua como protagonista. O mesmo mentiroso contumaz que corroeu instituições e agora se apresenta como defensor da liberdade, manipulando símbolos, discursos e aparências para manter os brasileiros incautos, extasiados e hipnotizados diante do espetáculo da ilusão.

A Índia viveu a tragédia da democracia sequestrada. O Brasil vive sua farsa. A palavra “democracia” é proclamada aos berros, enquanto o poder se concentra, as liberdades se estreitam e o pensamento é policiado. O povo, manipulado e dependente, permanece como plateia; a democracia, mero cenário; o autoritarismo, verdadeiro protagonista.

Pois tudo que se ergue sobre a ilusão da farsa encontra, inevitavelmente, o chão da tragédia.

Artigo, especial, Alex Pipkin - A Obra e o Autor

Alex Pipkin, PhD


Morreu Luiz Fernando Veríssimo, aos 88 anos. A notícia se espalha com a previsível comoção. Trata-se de um cronista consagrado — humorista que captou as pequenas tragédias do cotidiano — e de um prosador que presenteou o Brasil com personagens inesquecíveis, como a célebre Velhinha de Taubaté. Sua obra continua a nos alcançar, refletindo nossas fraquezas, risos e contradições, lembrando que a obra, uma vez criada, vive por si mesma.



Ainda assim, fui crítico ferrenho de suas colunas em Zero Hora. Veríssimo, em várias delas, deixou-se levar pela devoção política, em detrimento dos dados e da realidade objetiva — ignorando a verdade sempre que esta chocava com sua religião política. Ao invés de ironia sutil, preferiu o discurso unívoco, confortável, que mascarava o incômodo da realidade.

Somos imanentemente humanos; o erro não nos desqualifica completamente. O erro é inerente à natureza humana, e é justamente isso que a cultura do cancelamento contemporânea ignora, destruindo reputações e homens inteiros, esquecendo que o valor da obra transcende as falhas do autor. Separar arte e artista é reconhecer que o autor desaparece por trás da obra; o sentido da obra não se reduz à intenção ou ao caráter do autor.

Heidegger é exemplo paradigmático. Autor de um legado filosófico monumental, mas que se enredou numa falha moral colossal — aderiu ao nazismo e só depois reconheceu que aquilo fora “a maior estupidez de sua vida”. Aliás, ele teve um longo relacionamento com a célebre pensadora judia Hannah Arendt. Eu, judeu, sei o peso moral dessa falha: envolve a adesão a um regime responsável pelo genocídio de mais de seis milhões de judeus — uma tragédia histórica incontestável, um verdadeiro genocídio contra o meu povo. Ainda assim, na filosofia que deixou, brilha uma luz que transcende o homem falível, lembrando que a obra, uma vez criada, vive por si mesma.

É necessária vigilância. É preciso criticar, sem hesitação, quando célebres autores — na literatura, filosofia ou jornalismo — abandonam o pensar e o fazer que engrandecem suas áreas, para abraçar causas espúrias e destrutivas. Reconhecer a obra, sim; jamais canonizar os erros. Muitos filósofos, escritores e artistas excepcionais são brilhantes em suas áreas de atuação, mas podem — e se perdem às vezes — ao opinar fora de sua esfera ou ao se submeter a visões ideológicas, comprometendo o valor de suas contribuições.

Em Veríssimo, essa separação também deve ser feita. Podemos rir com a Velhinha de Taubaté, admirar o olhar arguto e o aforismo certeiro. Mas também devemos continuar críticos, apontando quando o cronista se afasta da literatura e abraça o discurso ideológico como fé. Num país de trópicos verde, amarelo e vermelho, onde floresce a “ditadura da toga” em conluio com o lulopetismo, onde se prende inocentes, se impõe a Polícia do Pensamento e se instala a censura, vejo o sentimentalismo ideológico como neblina que embota nossa razão e obscurece a realidade. Como neblina, as palavras têm consequências; elas também podem servir como modelos negativos, influenciando leitores a negligenciar a realidade.

A obra é legado; o autor é humano e falível. Separar não é apagar, é preservar a obra e resistir ao engano. A obra é farol, espelho-máscara, tinta viva no quadro da criação. Veríssimo parte, mas sua escrita continua a conversar conosco. Cabe a nós, leitores atentos, conscientes e livres, guardar a integridade do legado, sem ignorar os limites do homem.

Artigo, especial, Dagoberto Godoy - A mega operação contra o PCC e a PEC da Segurança

 A mega operação contra o PCC e a PEC da Segurança

A disputa por um troféu político

Dagoberto Lima Godoy

A recente megaoperação contra o PCC, envolvendo sofisticados esquemas de lavagem de dinheiro em instituições financeiras, tornou-se não apenas um feito policial, mas também um episódio de repercussão política e institucional. A disputa por quem ficará com os louros — se o governo de São Paulo, responsável pela coordenação da Polícia Militar, ou o Governo Federal, com o Ministério da Justiça, a Polícia Federal e o Ministério Público Federal — ganhou contornos estratégicos em meio ao debate sobre a chamada PEC da Segurança.

Essa Proposta, patrocinada de forma insistente pelo ministro Lewandowski, pretende ampliar a centralização do controle sobre as forças policiais, subtraindo parte da autonomia hoje exercida pelos estados. Para os governadores, trata-se de um movimento que ameaça um dos últimos bastiões de poder real das administrações estaduais: a autoridade sobre suas polícias militares. 

Para observadores mais atentos, a PEC não é apenas uma questão administrativa, mas parte de um processo de corrosão do pacto federativo e de construção de uma hegemonia federal que, na prática, seria mais um passo no processo que vai transformando  o país num modelo de democracia apenas formal, consolidando um projeto de poder de viés autoritário.

Nesse contexto, o mérito da operação contra o PCC passa a ter peso político decisivo. Se prevalecer a versão de que foi a polícia paulista quem desbaratou o esquema, isso fortalecerá os argumentos contrários à PEC, como demonstração que os estados possuem capacidade técnica e operacional para enfrentar organizações criminosas de envergadura nacional sem a tutela da União. Por outro lado, se a primazia for atribuída ao Governo Federal — seja pela ação direta da PF, pelo protagonismo do MPF ou ainda pela narrativa de uma cooperação equilibrada —, o feito se converterá em capital político para o governo Lula, consolidando a tese de que somente a centralização poderá garantir eficácia no combate ao crime organizado.

O que está em jogo, portanto, transcende o episódio criminal. Trata-se de uma batalha simbólica e política sobre o desenho institucional da segurança pública no Brasil. A operação contra o PCC tornou-se um laboratório de poder: se a narrativa pender para os estados, a PEC encontrará resistência robusta; se pender para Brasília, abrir-se-á caminho para uma redefinição do equilíbrio federativo, com consequências de longo alcance.

Mais do que uma questão de mérito operacional, assiste-se à disputa por um troféu político que pode alterar os rumos da relação entre União e estados e, em última instância, o próprio formato da democracia brasileira.


Artigo, Gilberto Kasper - Escola, cena de crimes

Gilberto Jasper é jornalista.

- Este artigo está publicado no jornal A Gazeta, Lajeado.


“De ameaças a facadas, já são 1,5 mil casos de violência na escola em 2025 no Estado”. A manchete, estampada em jornais de ontem, revela o cenário dantesco em que se transformou um dos espaços que deveria ser sagrado, protegido e intocável.

Há uma série de motivos que transformaram a escola em um lugar insalubre, inseguro e perigoso. Quem pensa que as ocorrências policiais envolvendo professores, funcionários, alunos e pais/responsáveis são registradas em escolas públicas e bairros populares, está enganado.

A violência que grassa em todos os segmentos da vida não poupou o lugar onde se deveria aprender direitos, deveres, valores e princípios. O principal deles, sem dúvida, é o respeito ao professor. Ele é a figura que encarna – ou deveria encarnar – a autoridade materna e paterna.

Infelizmente a omissão de muitos pais e responsáveis é combustível para exacerbar o ambiente escolar. Falta participação daqueles que deveriam zelar pela formação dos filhos, através da participação efetiva na rotina, como conferir a agenda, atualizar-se do cotidiano, conhecer o nome dos melhores amigos e colegas.

A correria do dia a dia é desculpa surrada para terceirizar responsabilidades. As agressões sofridas por professores são inadmissíveis. Soa injusto comparar épocas, mas neste assunto considero relevante. Sou do tempo onde professores eram chamados por “senhor” e “senhora”, tratamento que usei a vida toda com meus pais.

A autoridade docente era inegociável. O respeito era premissa básica dentro da sala de aula e no pátio. Mesmo na adolescência, onde a revolta é marca registrada, sempre refreei meus instintos de “responder no ato” e esbravejar. Sabia que, ao chegar em casa, as consequências seriam desagradáveis para mim. Seria proibido de sair com os amigos, jogar futebol, ir ao cinema, ver tevê e seria obrigado a ficar confiado ao meu quarto.

Passamos de um extremo ao outro. Como dizia meu pai, o velho Giba “o bom senso nunca está nos extremos, está no equilíbrio”. À época de estudante – do primário, segundo grau e de “admissão ao ginásio”, era preciso conter a vontade de contestar o professor, a qualquer custo.

Hoje, época de liberdade plena e muitos direitos e poucos deveres, alunos se acham no direito de transgredir qualquer parâmetro de respeito, educação e hierarquia. Sem isso, o caos se instala, a violência vem a seguir e as ocorrências – inclusive fatais – não surpreendem.

Crimes cometidos dentro do ambiente escolar pareciam distantes de nós, promovidos por lunáticos mundo afora, longe da nossa realidade. Hoje, como mostram as manchetes e estatísticas, é a triste consequência de reiteradas omissões, comodismo e falta de responsabilidade.

Artigo, especial - O plano está em curso: quando o sistema escolhe, o eleitor vira platéia

A entrevista de Ciro Nogueira, longe de ser apenas uma análise ou desabafo, foi a oficialização de um roteiro já em movimento. Com tranquilidade cirúrgica, Ciro confirmou que a anistia de Jair Bolsonaro só será debatida após o julgamento. Não se trata de opinião, mas de alinhamento com o que Barroso já havia declarado. O Judiciário condena, o Congresso anistia, e o sistema respira. Não há conflito entre Poderes. Há sincronia. 

Esse é o primeiro alerta: a anistia, vendida como um gesto de pacificação, foi transformada em instrumento de disciplina. Ela não será negada, mas condicionada. A sua função, agora, é política. Serve para garantir que Bolsonaro esteja inelegível, derrotado juridicamente, antes que qualquer gesto de clemência se materialize. Uma maneira elegante de controlar o tempo, esvaziar a reação e administrar o dano. 

Mas é quando Ciro fala sobre a sucessão que a engrenagem se revela por completo. Ele afirma, sem hesitação, que seu candidato não é Bolsonaro, mas Tarcísio. E não fala como alguém que apenas expressa preferência pessoal. Fala como operador do sistema. O nome de Tarcísio aparece como resposta viável à crise fabricada. O governador é descrito como técnico, confiável, sem desgastes, apto a conduzir o país com estabilidade. Estabilidade para quem? 

É preciso entender o subtexto: a elite está redesenhando o jogo para manter o capital eleitoral do bolsonarismo, mas com outro condutor. Bolsonaro segue útil como vitrine, mas perde a centralidade. O foco da entrevista não é o combate à inelegibilidade, nem o clamor por justiça. É a tentativa de suavizar a substituição. A base que foi às ruas, que resistiu à censura, que sustentou o governo nos piores momentos, agora assiste a um processo em que não tem voz nem veto. 

E o silêncio em torno disso é ainda mais ruidoso. Nenhum membro da família Bolsonaro está na mesa de negociações. Nenhum nome com vínculo real com a militância foi convidado a opinar. O sistema organiza a transição como se fosse apenas uma atualização de software: muda-se a interface, preserva-se a função. Mas a política não é um programa meramente técnico. É vínculo, é sangue, é história. E é aí que o plano escorrega. 

Ao naturalizar a inelegibilidade de Bolsonaro e apresentar a anistia como um capítulo pós-julgamento, Ciro cumpre uma função estratégica: além de norma lizar a exclusão de Bolsonaro, ele ensaia a legitimação do substituto. Tenta con vencer que o caminho já está traçado, que o novo nome já foi aceito, que o jogo precisa apenas seguir. A base, nesse cenário, vira espectadora de um espetáculo montado nos bastidores. 

Mas há um detalhe que o roteiro não prevê: o público já entendeu que a peça está sendo encenada sem os protagonistas. E quando isso acontece, nem sempre o final sai como o autor imaginou

Julgamento de Bolsonaro

 A defesa de Jair Bolsonaro informou ao Supremo Tribunal Federal (STF) que nove advogados devem acompanhar a sessão de julgamento do ex-presidente e mais sete réus do núcleo 1 da suposta trama golpista a partir da próxima terça-feira.

O julgamento é político e os próprios julgadores da 1a. Turma, 5 ministros, já deixaram claro que todos serão condenados a duras penas.  Os julgadores são Alexandre de Moraes, e os ministros Flávio Dino, Cristiano Zanin, Cármen Lúcia e Luiz Fux.Bolsonaro e os demais réus respondem pelos crimes de organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado pela violência e grave ameaça e deterioração de patrimônio tombado.

Quem são os réus do núcleo 1:

Jair Bolsonaro - ex-presidente da República; 

Alexandre Ramagem - ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin);

Almir Garnier - ex-comandante da Marinha;

Anderson Torres - ex-ministro da Justiça e ex-secretário de segurança do Distrito Federal;

Augusto Heleno - ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional;

Paulo Sérgio Nogueira (general), ex-ministro da Defesa;

Walter Braga Netto - ex-ministro de Bolsonaro e candidato à vice na chapa de 2022.

Mauro Cid (tenente-coronel), ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro.