Artigo, Renato Sant'Ana - Choque de culturas


        Será mesmo uma simples anedota? Veio-me de um amigo de Buenos Aires. Além de fazer rir, pôs-me a pensar em professores de antropologia que tive em duas universidades. Vamos lá!

         O motorista e o devoto
          Um árabe, muçulmano devoto, com roupas tradicionais, tomou um táxi numa rua de Londres. Aos poucos minutos de o carro pôr-se em marcha, ele, com a autoridade de quem se considera veículo da revelação, determinou bruscamente ao taxista que desligasse o rádio. E ainda se prestou a explicar: por exigência dos ensinamentos de sua religião, ele não deveria ouvir música, tendo em vista que aquele tipo de coisa não existia ao tempo do profeta. E asseverou que, sobretudo, jamais deveria ouvir música ocidental, que é obra de infiéis.
          O motorista inglês não perdeu a fleuma. E, gentilmente, desligou o rádio. Depois, parou o táxi. Desceu. Abriu a porta.
          Estranhando, o árabe muçulmano perguntou: "Que está fazendo o senhor?"
          Foi ainda com a atitude polida e gentil de um cavalheiro inglês que o motorista respondeu: "No tempo do profeta também não existiam táxis! Assim, o senhor tenha a bondade: desça e espere que passe um camelo..."

Rememorações
          Éramos moços. Nas aulas de antropologia, na ilusão de estarmos fazendo um exercício crítico, adotávamos a visão de professores que aproveitavam nossa ingenuidade e afoiteza para induzir-nos a aceitar com aprovação qualquer valor ou costume de outras culturas.
          Aí, quanto maior o contraste com nossa própria bagagem cultural, mais crescia nosso entusiasmo - talvez pelo prazer narcísico e ilusório de sentir-nos isentos de preconceitos.
          Mas o pior era ir ao ponto de pôr em descrédito os valores que havíamos adquiridos por tradição. Oh, mas como era gostoso ser revolucionários...

Renato Sant'Ana é Psicólogo e Advogado.

Desemprego de janeiro recuou sobre janeiro de 2018

A taxa de desemprego avançou de 11,6% na média dos três meses encerrados em dezembro do ano passado para 12,0% nos três meses finalizados em janeiro, conforme reportado ontem pela PNAD Contínua, do IBGE. 

O resultado ficou ligeiramente acima do esperado pelo mercado (11,9%), mas mantém a tendência de recuo gradual na comparação interanual (12,2% em janeiro de 2018). 

Na série livre de efeitos sazonais, a taxa oscilou de 12,2% para 12,3% entre dezembro e janeiro, refletindo o recuo da ocupação do setor privado com e sem carteira assinada e um menor ímpeto da ocupação por conta própria. Vale destacar que ao longo de 2018, a expansão da ocupação foi impulsionada pelo setor privado sem carteira assinada e pelo trabalho por conta própria, que começam e reverter parte dessa dinâmica. A renda nominal, por sua vez, passou de um aumento interanual de 4,6% para outro de 4,7% entre dezembro e o primeiro mês deste ano, reforçando o cenário de ausência de pressões salariais. Por fim, esperamos que a taxa de desemprego média de 2019 seja de 11,9%, ligeiramente abaixo dos 12,3% registrados na média do ano passado. Essa tendência baixista, contudo, não deverá ocorrer de maneira uniforme, com diferenças regionais relevantes.