Haddad cada vez mais parece Alckmin
Compreensivelmente, o comando do Partido dos
Trabalhadores está preocupado com o
sofrível desempenho de Fernando Haddad na campanha eleitoral.
Além de não atrair novos eleitores, Haddad tem visto o
índice de rejeição a seu nome alcançar níveis inimagináveis. A pesquisa do
IBOPE divulgada em 15 de outubro apontou o nível dessa rejeição: 47% (diante
dos 35% atribuídos a Bolsonaro).
Parte dessa situação pode ser atribuída ao próprio
Haddad, que tem um não-sei-o-quê dos políticos tradicionais do PSDB de São
Paulo, que o torna pouco convincente aos eleitores de outras partes do País.
Já começam a pipocar, aqui e ali, comparações entre o
estilo de Haddad com o de Geraldo Alckmin, tanto no sentido de que os dois têm
boa formação, quanto no de que compartilham de uma incapacidade natural de
empolgar o eleitor. Além do tom de voz,
um tanto professoral, Haddad tem
também o mesmo hábito do ex-governador de SP, de ficar desfiando números e realizações como
gestor público.
Serra (assim como Alckmin, ambos políticos de inegáveis
qualidades) tinha esse mesmo problema de comunicação com os brasileiros de fora
de São Paulo. Nesse quesito, FHC, com
sua sabedoria e seu charme, continua como a grande exceção num partido onde
todos adoram andar de salto alto.
Mas a principal responsabilidade pela trajetória
claudicante de Haddad nesta campanha eleitoral cabe, sem dúvida, ao próprio PT,
não só pelos sucessivos erros que vem cometendo, de natureza tática, como a
falha estratégica de não enfrentar de peito aberto seu grande ponto fraco: a
mancha de corrupção e de desonestidade que marcou grande número de seus
principais dirigentes.
É aquela velha história de “presunção e água benta, cada
um toma a que quer”. E o PT, embora se aproximando mais recentemente da Igreja,
tem preferido mesmo a presunção.
Quem será, no Partido dos Trabalhaodrs, o responsável por
tantas e seguidas pisadas na bola? O próprio Lula?
Primeiro foi aquela enorme demora em definir o nome de
seu candidato à Presidência. Depois, a esnobação contra Ciro Gomes, não o convidando para encabeçar a chapa – na
qual Haddad ficaria de vice. O resultado foi colocaro ex-Ministro da Educação
numa campanha que de antemão ele sabia que não poderia vencer.
O resultado dessa trapalhada está aí, atormentando os
líderes petistas. Agora, no segundo
turno, Ciro foi passear na Europa, mandando uma banana para o PT, enquanto nos
Estados, o PDT adere em massa às hostes do adversário. Seu irmão, Cid Gomes,
irritado com as trapalhadas do PT, acusou o partido de ser responsável por
cavar sua própria sepultura.
O modo presunçoso como trataram Fernando Henrique Cardoso
ao longo dos últimos 16 anos, recebeu agora o troco de volta. Nos governos Lula
e Dilma o governo FHC foi vilependiado pelos mesmos petistas que agora lambem
seus sapatos à busca de apoio tardio. FHC disse que seu eventual apoio a Haddad
não será incondicional,
O ex-chanceler Celso Amorim, responsável por buscar a
influência de parte da imprensa e da intelectualidade internacionais a favor do
candidato Haddad, continua a propagar por todo lado que apesar de julgado e
condendao, o corrupto não é o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sim
quem o prendeu e o julgou.
Nos últimos dias, Amorim tem ligado para ex-dirigentes
que foram amigos de Fernando Henrique Cardoso, como caso do chileno Ricardo
Lagos, pedindo-lhes interceder junto a FHC para que este tornasse explícito seu
apoio ao candidato do PT. Nosso ex-presidente não gostou da manobra.
Outro desses erros foi o PT mudar a cor da embalagem de seu
candidato, do tradicional vermelhão para
o verde e amarelo, que simplesmente já se tornara a marca registrada da campanha
de Bolsonaro. Muito menos ajudou Haddad a supressão da fotografia de Lula nas
fotos da campanha.
Se não fosse o candidato de um grande partido
disciplinado, cujos afiliados obedecem sem questionar as ordens de seus
comandantes, por mais estapafúrdias que sejam,
Haddad não teria sequer chegado ao primeiro turno.
Vencer as eleições é ainda possível, desde que Haddad se
disponha fazer o que deve ter feito
antes de comungar recentemente: confessar. Não os seus eventuais pecados, pois
isso é coisa entre ele e Deus, mas os pecados de seu partido. Reconhecer, como
já o fez o ex-ministro da Fazenda, Antonio Palocci, que o PT comandou a maior máquina de corrupção já instalada no
Brasil seria um gesto apreciado. Como penitência, aceitar a prisão dos
corruptos e promover a devolução do
dinheiro surrupiado.
Este seria um gesto arrojado e corajoso por parte de
Haddad. Se assim o fizesse, surgiria como o líder de um novo PT passado a
limpo, com aquele cheirinho de honestidade que tinha quando foi fundado em
1980.
Pedro Luiz Rodrigues é diplomata e jornalista.