Artigo, Cesar Maia - Como prever vitórias no segundo turno

No seu blog diário, o ex-prefeito do Rio, ex-deputado e atual vereador do Rio, Cesar Maia, fez uma consistente avaliação sobre uma pesquisa do GPP,  relativa a preditores de votos neste momento. A análise se faz através dos cruzamentos de várias perguntas, encabeçada pela intenção de voto.

Leia o que ele escreveu hoje (Cesar Maia é economista e foi quem desbaratou a conspirata da Globo para fraudar a eleição de Brizola no Rio): 

Quase sempre os candidatos priorizam a sua comunicaçāo em base as respostas sobre os principais problemas da cidade/estado/país. Nas eleicões municipais deste ano -e por todo o país- o principal problema destacado é a Saúde, seguido da Segurança e da Educaçāo.

No Rio o candidato Pedro Paulo martelou dia a dia Saúde (clínicas da família), e Educação (escolas do amanhã). Da mesma forma fizeram os demais candidatos, mesmo que em proporção menor.

No primeiro debate do segundo turno na Tv Band, Crivella e Freixo se revezaram ao tratar desses problemas destacados nas pesquisas. O erro não é tratar desses temas, mas como tratar. Um problema pode ser o mais importante mas pode não ser um preditor de votos em si.

Aquela pesquisa citada acima do GPP,deixou muito claro que o principal preditor de votos, destacadamente é a capacidade administrativa , a capacitance de gestão, do candidato. Qualquer exercício de reflexão sobre a atual conjuntura, nos conduziria a essa conclusão.

O que só eleitores sentem e veem sāo os desastres administrativos do governo federal e do governo do estado do Rio. Nesse sentido, a abordagem daqueles temas deveria vir precedida da capacidade administrativa, da capacidade de gestão dos candidatos.

Sāo essas condições que dão confiança que as propostas para Saúde, Segurança e Educação serão efetivamente realizadas. Vários nomes de futuros auxiliares ou inspiradores foram citados no debate da TV Band. Nem um só deles com referência mesmo indireta às áreas de finanças e administração.

Descolados do principal preditor de votos, as propostas exaltadas se transformam em promessas vazias. Nesta segunda-feira começaram os programas eleitorais e mais na frente outros debates na TV.

Aguarda-se com ansiedade a comunicaçāo de ambos candidatos e o eixo condutor de suas propostas e promessas, para se avaliar sve são promessas vãs, ou se levam em si como preliminar a capacidade de gestão para virem carregadas de confiança e credibilidade.  








Artigo, Tito Guarniere - De pescadores e de pesca

O Brasil, apesar de um litoral de mais de 08 mil quilômetros, das extensas lagoas e grandes rios, apresenta um desempenho pífio na produção de pescado. Na América Latina, ficamos muito atrás da produção pesqueira de países bem menores, como o Chile e o Peru. Devemos estar na 20ª. ou 22ª. posição na lista dos produtores mundiais. Não dá para indicar a posição exata, porque as estatísticas do setor são velhas e precárias. A Secretaria de Pesca e Aquicultura (ex-Ministério) vem se ocupando do assunto há anos, mas também não sabe informar, alegando que o cálculo da produção brasileira ainda está em fase de “estruturação”.

Há indicações de um crescimento razoável ao longo da última década. Porém, nada autoriza prever para breve uma produção compatível com os nossos vastos recursos na costa marítima, nos rios, lagos e açudes. Os governantes instalados na Secretaria da Pesca, entretanto, prometem uma mudança no quadro medíocre, em lugar incerto do futuro.

Enquanto o futuro não chega, os governos depois de 2003, se não conseguiram fazer incrementar a produção pesqueira em quantidade da qual houvesse ao menos um registro confiável, podem se gabar da façanha de ter aumentado de forma exponencial a quantidade de pescadores artesanais no Brasil. Sobre isto, as estatísticas não mentem.

Quando terminou o governo FHC, existiam no Brasil 92 mil pescadores artesanais, uma conta fácil de fazer, pois este era o número de beneficiários do seguro-defeso. Como sabe o leitor, o seguro-defeso é um benefício de um salário mínimo, pago pelo governo federal aos pescadores artesanais durante o defeso, um intervalo (em geral de quatro meses no ano) em que a pesca é interditada para assegurar a preservação das espécies.

Pois os 92 mil pescadores artesanais de 2002, hoje em dia são mais de um milhão, possivelmente um milhão e cem mil: uma proeza pouco lembrada dos governos de Lula e Dilma, multiplicando em mais de 11 vezes o número dos profissionais do setor – se é que se pode chamar assim.

E como se deu a façanha? No governo FHC o pescador artesanal precisava de um atestado da Colônia de Pescadores, de que ele vivia só da pesca. Nos governos de Lula e Dilma, passou a valer a regra da simples declaração pessoal do interessado.

Com tal facilidade, até um aluno do nosso sofrível ensino médio seria capaz de prever que o número de pescadores artesanais iria se expandir de forma incontrolável. Além disso, passaram a ter direito ao seguro-defeso os “pescadores de terra firme”, isto é, as pessoas que manipulavam, limpavam e processavam o pescado.

Se o aumento espetacular do número de pescadores recebendo o seguro-defeso resultou em maior produção de pescado, ninguém sabe. Mas uma coisa é certa: abriu um buraco nas finanças públicas, na ordem dos R$ 2 a 3 bilhões de reais por ano.

Mesmo em Brasília, onde só existe o lago Paranoá, o jornalista Ricardo Noblat noticiou em O Globo a existência de sete mil pescadores artesanais. O ministro Eliseu Padilha foi mais longe: disse que eram 45 mil. Acho que o ministro está equivocado, a não ser que tenha computado também os pescadores de águas turvas, que existem às pencas em Brasília.

titoguarniere@terra.com.br



Artigo, José Roberto de Toledo, Estadão - A anticampanha eleitoral

Como será, então, a campanha eleitoral de prefeitos e vereadores? Dissimulada, negativa e móvel. 

Pesquisa inédita do Ibope revela que, pela primeira vez, a maioria absoluta dos eleitores brasileiros (51%) recebeu informações sobre política pelo Facebook, Twitter ou pelo WhatsApp. O recorde foi batido nos últimos 12 meses. 
Mais jovem e escolarizado o eleitor, maior a probabilidade de ele ter recebido mensagens políticas pelas redes sociais nesse período: 184% mais chance de ter lido do que de não ter entre eleitores até 24 anos, e 258% mais chance entre quem cursou faculdade. A tendência também é mais forte entre os mais ricos, nos moradores do Sudeste e entre quem mora em capitais.
Para confirmar a tendência de que as redes terão papel decisivo na eleição, em apenas um ano triplicou a proporção daqueles que pretendem usar mensagens de redes sociais para decidir seu voto - mostra o Ibope.
Isso significa que os candidatos a prefeito mais atentos deverão dedicar um esforço inédito para a campanha via telefone celular. É na tela desses aparelhos que o eleitorado mais conectado se informa via Facebook e Twitter, além, obviamente, do WhatsApp. Na disputa pelo tempo do público, os iPhone e Galaxy da vida são a única tecnologia que absorve uma fatia crescente da atenção das pessoas. É natural que os candidatos se aproveitem disso.
Se não bastasse, eles têm outro motivo para investir em uma plataforma de campanha móvel: é muito mais difícil de monitorar. Ao contrário do horário eleitoral na TV, as mensagens via redes sociais são individuais e customizadas, muito mais frequentes do que os spots televisivos e tendem a se misturar ao ruído da comunicação digital. O que os olhos não veem a Justiça Eleitoral não fiscaliza. Os candidatos podem gastar fortunas nesse tipo de comunicação com muito menos risco de exagerar na ostentação.
Por que eles teriam tal preocupação? Com a proibição das doações empresariais, a arrecadação oficial deverá ser bem menor do que no passado. Sem dinheiro no caixa 1, os candidatos não poderão justificar despesas ostensivas com propaganda. Daí o estímulo à propaganda disfarçada na forma e com sujeito oculto.
Isso nos leva ao segundo motivo para os partidos camuflarem suas campanhas no Facebook, no Twitter e no WhatsApp. O tipo de propaganda que funciona nessas redes é a negativa: contra alguém ou contra uma ideia, muito mais do que a favor de um candidato. 
Na campanha ao governo de Minas Gerais em 2014, mensagens anônimas via WhatsApp colaram no candidato do PSDB o apelido “Turista da Veiga”, reforçando o fato de Pimenta morar em outro Estado. Esse tipo de guerrilha virtual ajudou a derrotá-lo.
A pesquisa Ibope confirma o que a experiência dos marqueteiros lhes ensinara. Ao longo dos últimos 12 meses, apenas 27% do eleitorado diz ter mudado para melhor a imagem que tinha de um político ou partido graças a mensagens que recebeu via redes sociais. Ao mesmo tempo, o dobro de pessoas - 56% dos eleitores - afirma que mudou para pior a imagem que faz de políticos e partidos por causa do que leu no Facebook, Twitter e WhatsApp.
Isso mesmo: mais da metade dos brasileiros tem hoje uma opinião mais negativa do que tinha um ano atrás dos atores da política por causa do que leu sobre eles nas redes sociais. É demolidor.
Esse poder destrutivo provoca oscilações cada vez mais abruptas das intenções de voto, retardando para a última hora a definição das eleições. Mas não só. O efeito acumulado dessa propaganda negativa é uma ressaca e uma desilusão com a política que ainda vai dar muita dor de cabeça, e não só para os políticos.


Produção industrial deve ter avançado em setembro, impulsionada pelo segmento automotivo, apesar dos resultados negativos de outros setores

Os indicadores coincidentes da indústria, divulgados até agora, têm apontado direções opostas para o resultado da produção industrial de setembro. As vendas de papelão ondulado somaram 275.543 toneladas no mês passado, de acordo com os dados divulgados pela Associação Brasileira de Papelão Ondulado (ABPO), o que representa uma queda de 2,2% na margem, já descontados os efeitos sazonais, marcando o segundo recuo consecutivo. Na comparação interanual, a retração chegou a 3,0%. Na mesma direção, o fluxo total de veículos em estradas pedagiadas caiu 0,2% na passagem de agosto para setembro, segundo os dados dessazonalizados e divulgados pela Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR). Essa queda foi decorrente tanto da movimentação de veículos leves quanto de veículos pesados, com retrações de 0,1% e 0,2%, respectivamente. Na comparação interanual, o fluxo total de veículos recuou 5,6%, refletindo os declínios de 5,1% e 7,1% de veículos leves e pesados, respectivamente. Em sentido contrário, o despacho de cimento atingiu 4,8 milhões de toneladas em setembro, conforme reportado ontem pelo Sindicato Nacional da Indústria de Cimento (SNIC), avançando 0,9% na margem. Vale lembrar que em agosto as vendas de cimento tinham recuado 10,6% ante julho. Na comparação interanual, a queda chegou a 12,7%. Assim, considerando esses resultados conhecidos ontem e a elevação da produção de veículos, divulgada anteriormente, esperamos expansão da produção industrial em setembro, revertendo parte da forte retração registrada em agosto.

Calibrar a torneira do cofre vai doer!

Calibrar a torneira do cofre vai doer!

HELDER CALDEIRA, Escritor.
www.heldercaldeira.com.br – helder@heldercaldeira.com.br
*Autor dos livros “Águas Turvas”, “O Eco”, “Pareidolia Política”, entre outras obras.

A aprovação da PEC que cria um teto de gastos para o orçamento público nos próximos 20 anos é importantíssima. Ao longo do tempo ficarão defasados os orçamentos da Educação, da Saúde, da Assistência Social, da Cultura e congêneres? Sim, é um fato. Mas, o “freio de arrumação” tornou-se indispensável para os saqueados cofres dos pagadores de impostos. Afinal, dinheiro não brota do chão e não atende ao onírico fenômeno da multiplicação sem que lhe seja dedicada uma ação real e efetiva.

Em princípio, e para bem do argumento, é fundamental esclarecer: reduzir salários de deputados, de governadores, de ministros, de procuradores, o número de cargos comissionados, de mordomias e regalias, não causa grande impacto nas contas de um Município, de um Estado ou do País. É apenas o “bom exemplo” que se espera dos gestores públicos, o “gesto positivo”, a “ação afirmativa” de imenso valor neste nosso tempo de miséria deflagrada. E só. Não vai além do símbolo, infelizmente. Dói ler isso, não é?! Também dói escrever. Mas, é uma verdade matemática.

O real dilema das contas públicas brasileiras é o enorme peso que o Estado tem na vida da sociedade. O impacto do aporte de recursos governamentais na economia deste país é algo insólito. A expressiva maioria das ditas “grandes empresas brasileiras” só sobrevive a expensas de dinheiro estatal. É bizarro!

Observe o caso das empreiteiras. Geram centenas de milhares de empregos, executam obras de enorme envergadura e movimentam bilhões de Reais anualmente. No entanto, flagrante delito, quando a fonte estatal ficou rala por conta das investigações da Operação Lava-Jato e seus “filhotes”, todas as grandes empreiteiras assistiram ao fluxo de caixa tornar-se um mar vermelho, ou foram obrigadas a pedir recuperação judicial, ou literalmente declararam falência. Noutras palavras, sem dinheiro dos cofres públicos não são capazes de sobreviver à luz do dia.

Em mesma lógica beócia, no último século (e especialmente na última década), o Estado tratou de fomentar a criação dos “campeões nacionais”, formado pelo seleto grupo de “amigos do rei”, com acesso indiscriminado ao Tesouro Nacional e ampla disposição para eliminar do mercado seus concorrentes e divergentes. Basta observar o que aconteceu na indústria da carne. Pequenos e médios frigoríficos foram à bancarrota após a “glória” de um grupo embrenhado no universo político. Com sucessivos — e confidenciais — empréstimos do BNDES, via Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil, o grupo aniquilou seus concorrentes, comprou a maioria dos frigoríficos menores no interior do país e dominou o mercado. Alguns anos depois da eliminação da concorrência, o preço da carne disparou. Coincidência? Óbvio que não!

Dinâmica idêntica é vista na indústria calçadista, nos cartéis de postos de combustíveis, no mercado automotivo, na produção de eletrodomésticos, na proliferação de instituições privadas de ensino, nos veículos de comunicação e na Cultura. Vide as famigeradas “Leis de Incentivo”. Se por um lado elas estimulam o crescimento de determinados setores e são essenciais para quem delas faz bom uso, por outro lado fecham a tampa da panela, não são transparentes, desvirtuam objetivos legítimos (tornando-os duvidosos) e, no limite, findam por não atender às crescentes demandas de um Brasil com dimensões continentais propositalmente não avistadas.

Estabelecer um limite de gastos, calibrar a vazão da torneira, não será exercício fácil. Cumpre reiterar: serão duas décadas dolorosas. Espera-se, ao menos, que sejam didáticas. Sabe aquela velha lição de fechar a torneira enquanto estiver escovando os dentes? É basicamente isso: fechemos as torneiras dos cofres públicos enquanto a Lava-Jato tenta limpar a imundice deixada pelas fenomenais estrelas da pilantragem nacional.