Petista comporta-se como líder sedicioso, incitando à
desobediência civil sem que nenhum de seus direitos tenha sido violado no
processo que o condenou
Seria ingenuidade esperar que Lula da Silva, como
ex-chefe de Estado que foi e líder político que é, tivesse a grandeza de
respeitar as instituições do regime democrático que ele diz tanto prezar.
Contudo, mesmo sabendo-se que Lula da Silva jamais foi o democrata que ele
proclama ser, mesmo que ele tenha dado inúmeras provas de seu autoritarismo ao
longo de toda a sua trajetória, tem causado espanto a virulência de sua reação à
sua condenação judicial por corrupção, muito além do que faculta o direito de
espernear e muito mais grave do que as inúmeras agressões que sua equipe de
advogados cometeu contra os juízes do processo e contra o próprio Judiciário.
Lula da Silva tem ultrapassado todos os limites que uma
pessoa pública deveria respeitar, por mais contrariada que esteja. Pode-se
dizer que o chefão petista, agora condenado por corrupção, comporta-se como
líder sedicioso, incitando à desobediência civil sem que nenhum de seus
direitos tenha sido violado no processo que o condenou.
Quando vocifera, do alto de um palanque, que os
desembargadores da 8.ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4)
“formaram um cartel para dar uma sentença unânime” e confirmar a decisão do
juiz federal Sérgio Moro, condenando-o à prisão por corrupção, Lula da Silva
afirma com todas as letras que houve uma combinação entre os magistrados para
chegar a esse resultado e, assim, impedir sua candidatura à Presidência. Pior:
Lula da Silva acusa os quatro juízes que o condenaram de integrar um complô com
o Ministério Público, a Polícia Federal e a imprensa para sabotar sua volta ao
poder. “Eles não precisam mais de militares com canhão na frente do Congresso
Nacional. Agora eles fazem através das instituições”, discursou o
ex-presidente, citando especificamente “a construção de um pacto entre o
Judiciário e a mídia”. No auge de seu delírio, Lula da Silva disse que, embora
fosse ele o réu, “o condenado foi o povo brasileiro”. Em casos assim,
recomenda-se ao paciente um bom psiquiatra.
Na mesma linha de seu chefão, o PT soltou uma nota em que
diz que os votos dos desembargadores que julgaram a apelação do ex-presidente
foram “claramente combinados”, o que “configura uma farsa judicial”. Por essa
razão, o partido informa que não aceitará “que a democracia e a vontade da
maioria sejam mais uma vez desrespeitadas” e que lutará “principalmente nas
ruas”. A insanidade, como se vê, pode ser coletiva.
Os sabujos de Lula rapidamente aderiram ao tom
incendiário. Vagner Freitas, presidente da Central Única dos Trabalhadores
(CUT), disse que “o povo vai para as ruas, trancar rodovias” e “desautorizar o
TRF-4”. O líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João
Pedro Stédile, mandou um “recado para a dona Polícia Federal e para a Justiça:
não pensem que vocês mandam no país”. E anunciou: “Nós, dos movimentos
populares, não aceitaremos de forma nenhuma que o nosso companheiro Lula seja
preso”. Para Raimundo Bonfim, dirigente da Central de Movimentos Populares,
“não há outro caminho que não a rebelião e a desobediência civil”. E o senador
Lindbergh Farias desafiou: “Venham, que nós estamos preparados para lutar nas
ruas”. É um concurso de valentia e valentões!
Tudo isso se deu na reunião da direção nacional do PT em
que foi anunciado oficialmente o lançamento da pré-candidatura de Lula à
Presidência. A julgar pelos discursos inflamados, os petistas não estão se
preparando para uma campanha eleitoral, mas para uma guerra. No mundo real,
porém, com exceção dos pneus queimados de praxe, o País amanheceu tranquilo um
dia depois da condenação de Lula. A retórica virulenta dos petistas não parece
capaz de mobilizar ninguém além dos sequazes de sempre na defesa de seu líder
corrupto.
Mas, como nem todos os dirigentes petistas são
tresloucados, certamente já há entre eles quem saiba que o partido será
duramente castigado nas urnas se embarcar nos delírios de Lula, uma vez que sua
candidatura, lastreada exclusivamente em um discurso delinquente e
antidemocrático, é tóxica. Enquanto Lula insulta as instituições, com
indisfarçável medo da prisão, os petistas, discretamente, desembarcam do barco
furado e tratam de cuidar da vida.