- O autor é vereador de Porto Alegre (Partido NOVO)
Tensão, ansiedade, medo, desconfiança, decepção. Acho que todos estamos sofrendo de algumas destas condições (com exceção da esquerda radical, que está vivendo um lapso de esperança e êxtase). Enquanto nossa cabeça clama pelo esclarecimento da situação, nosso coração tende a pular rapidamente pra uma conclusão. Aqui, faço um convite para a prudência.
O Brasil teve em Moro e Bolsonaro duas figuras que romperam com um histórico de poder e de monopólio das virtudes. Caiu o PT, prenderam-se corruptos de diversos partidos, e prendeu-se alguns dos maiores empresários e figurões do país. Chegamos, então, ao governo Bolsonaro e ao Ministro Sérgio Moro: duas pessoas que erram e acertam, como quaisquer outras, e das quais não devemos tentar apagar os passados.
Sobre a situação atual, entendo que por enquanto ainda estamos vendo apenas a ponta do iceberg. Moro tem mais de 20 anos de experiência em direito penal, e acho improvável que se colocaria em uma situação de poder responder por calúnia ou falsas acusações. Deve ter consigo mais informações para serem usadas.
O governo entende isso, ao passo em que aparenta tentar construir uma narrativa de interesse pessoal de Moro versus o interesse nacional de Bolsonaro. Porém, alguém que abre mão da carreira de magistrado, que bota sua vida e família em risco há anos para botar Lula e outros figurões na cadeia, já mostrou que tem no Estado de Direito brasileiro o seu interesse. E que é diferente, por exemplo, da facada de Bolsonaro como argumento de interesse nacional. Ele não teve a decisão de não tomar a facada, tal qual teve Moro de prosseguir ou não com a Lava Jato e suas denúncias.
Digo tudo isso não para acusar um ou outro. Mas sim para sinalizar de que o juízo de razão feito agora provavelmente será precipitado. As acusações terão desdobramentos em novas informações, e são elas que nos trarão condições de tirar as melhores conclusões. O tempo, afinal, é o senhor da razão.