Quem é Rodrigo Tacla Duran, o advogado envolvido até o
pescoço na Lava Jato
Ex-funcionário da Odebrecht teve mandado de prisão
expedido pelo juiz Sergio Moro, mas está foragido na Espanha. Duran é
investigado na 48ª fase da Lava Jato deflagrada nesta quinta-feira
Kelli Kadanus, Gazeta do Povo, Curitiba.
Apontado pela força-tarefa da Lava Jato como “um grande
operador” do esquema de corrupção, o advogado Rodrigo Tacla Duran voltou a ser
alvo de uma nova fase das investigações nesta quinta-feira (22). Segundo os
procuradores, empresas de fachada ligadas ao advogado receberam recursos de
empresas envolvidas na 48ª fase da Lava Jato, que mirou em contratos de pedágio
no Paraná.
Duran teve a prisão preventiva decretada em novembro de
2016 pelo juiz federal Sergio Moro. Ele chegou a ser preso na Espanha, mas
acabou liberado em seguida. O país europeu não concedeu a extradição porque
Duran tem dupla cidadania. Segundo o procurador da República Diogo Castor de
Matos, estima-se que o advogado tenha recebido em torno de R$ 60 milhões de
empresas investigadas na Lava Jato.
Segundo Matos, Duran utilizava a advocacia como fachada
para lavar dinheiro do esquema de corrupção. Segundo a força-tarefa, ele
firmava contratos com as empreiteiras envolvidas no esquema, mas acabava
contratando um terceiro escritório, a preços menores, para realizar os
serviços.
“Embora o escritório Cioffi Carratu Advogados realize
todo o trabalho, observa-se que os pagamentos efetuados pela Econorte são muito
maiores para o escritório Tacla Duran do que para ele. Com efeito, em pagamento
realizado em julho de 2014, o escritório Cioffi recebeu R$ 33.000,00 e o Tacla
Duran R$ 297.000,00. Os pagamentos nos demais meses seguem a mesma proporção”,
exemplificou o juiz federal Sergio Moro no despacho que autorizou a Operação
Integração.
No despacho, Moro destacou que Duran já é réu em um
processo da Lava Jato. O advogado foi alvo da 36.ª fase da operação, em
novembro de 2016. Na época, a força-tarefa havia identificado depósitos de
empresas do grupo Triunfo – alvo da operação deflagrada nessa quinta-feira – em
contas ligadas ao advogado.
No processo contra Duran, o Ministério Público Federal
(MPF) aponta pagamentos da UTC a empresas ligadas a ele, no valor de R$ 54
milhões. “Também segundo a denúncia, através de conta em nome off-shore controlada
pelo Grupo Odebrecht, em nome da Constructora Internacional Del Sur, teriam
sido depositados cerca de USD 12,7 milhões em conta em nome da off-shore
Vivosant Corporation SA, mantida no Banco Pictet & Cilt, agência de
Singapura, que era controlada por Rodrigo Tacla Duran”, lembra Moro no despacho
da operação Integração.
Relações com a Odebrecht
Duran também atuou como advogado da Odebrecht, de 2011 a
2016. Ele atuava no Departamento de Operações Estruturadas da empreiteira,
identificada pelos investigadores da Lava Jato como Departamento de Propina.
Recentemente, Duran foi ouvido na CPI da JBS, no Congresso Nacional, por
videoconferência, e afirmou que a Odebrecht fraudou provas entregues na
delação.
O advogado chegou a negociar um acordo de colaboração
premiada na Lava Jato, mas as conversas não evoluíram. Ele chegou a afirmar que
um advogado amigo de Moro, Carlos Zucolotto Júnior, o procurou em 2016 para
oferecer, em troca de R$ 5 milhões pagos “por fora”, um acordo de delação
premiada vantajoso.
A força-tarefa reagiu. Moro afirmou ser “lamentável” que
um “acusado foragido da Justiça” levantasse “suspeitas infindadas” contra a
Lava Jato. O procurador Carlos Fernando Lima, do MPF, chamou Duran de
“mentiroso costumaz que, infelizmente, encontra ouvidos interessados em
parlamentares que desejam confundir a opinião pública e retaliar o Ministério
Público Federal pela sua atuação firme no combate à corrupção”, disse.