- O autor é advogado, RS.
A polêmica em
torno da Amazônia, tocante a sua preservação e os cuidados na administração dos
interesses locais e nacionais, a exemplo de reservas indígenas e áreas de
produção agropastoril, bem com a adoção de precauções tocante atos de
desmatamentos e queimadas legais e ilegais, transcende a nossa capacidade e
exercício de soberania.
Não se trata
de discutir se a região é o “pulmão do mundo”, provedor dos “rios aéreos” ou
“regulador climático mundial”. Estas ideias, assim como se há ou não um
“aquecimento global humanamente agravado”, estão em estado de discussão e
pesquisas próprias, razão de diferenças de opinião, ainda que técnicas e
fundamentadas.
O advento e a
consolidação da globalização (e da mercantilização mundial) determinaram e
ampliaram as relações entre pessoas, regiões,
nações e civilizações, remetendo as obrigações humanas a outro patamar
de compromissos.
Desde os
primeiros estudos acerca do fenômeno da globalização, ficou evidente que se
trata de um movimento com graves implicações nas questões e redefinições
locais. E na mudança de comportamento das pessoas em suas próprias localidades
e circunstâncias.
Dito de outro modo, significa - ao mesmo
tempo - atuar no nível local, sem perder de vista ou deixar de reagir face o
que ocorre no mundo. Li em algum texto, sem lembrar onde e quando, que dizia
que seria algo como “ter raízes e asas ao mesmo tempo”!
Então, fica
evidente a necessidade dos povos (e dos governantes) compreenderem que estamos
no limiar de um novo ideal humanitário e superior. Lógico, sem deixar de
apontar as graves diferenças e divergências entre regiões e povos, desafios a
serem superados no futuro.
Mas o
principal desafio a ser superado é o mental e organizacional, qual seja: nossa
cultura e prática social e política ainda está fundada sobre os alicerces do
conceito de estado-nação, ilustrados com os refrões do nacionalismo e do
patriotismo.
Faz tempo,
cientistas sociais alemães utilizam a expressão “welt bürger”. Tradução:
cidadão do mundo. Então, como poderemos ser cosmopolitas sem deixar de ser
locais, nacionalistas e patrióticos?
Dessas
desafiadoras perguntas surgem novas ideias, a exemplo de soberania inclusiva.
Um conceito derivado e determinado por um conjunto de inéditas ações de cooperação
entre povos e nações, dentro de uma concomitante perspectiva globalizada e
localizada.
Não se trata
de relativizar a ideia de soberania nacional, mas sim ampliar sua ação e
eficácia dentro de uma perspectiva de interesse humanitário global.
Em tempos de
migrações massivas, ameaças climáticas, desemprego mundial, entre outros
exemplos negativos globais e conexos, assim como a complexidade da questão
amazônica, significa dizer que as ações e soluções locais já não são
suficientes.
Na ONU, Bolsonaro
disperdiçou uma grande oportunidade de elevar o nível do debate!