Título original do artigo: "Como é bom viver na Suíça!
A CPI do Senado brasileiro concluiu: a Previdência não
tem déficit, e sim superávit. Concluiu também que nós somos mais ricos que os
suecos, que nunca houve corrupção no país e que, com a vitória na Copa de 2014,
o Brasil é o único hexacampeão mundial.
É fácil nos enganar quando queremos ser enganados. Isso
não é novidade. Eu já tinha alertado aqui sobre o uso disso pelos políticos
antes das eleições de 2014. No ano que vem, com o justificadíssimo desejo de
renovação política que toma conta do país, as propostas de soluções simplistas
de falsos salvadores da pátria vão bater recordes.
Pensando bem, não será fácil bater o recorde desta CPI.
Temos os senadores mais geniais do mundo! Pode haver forma melhor de resolver
um problema do que decretar que ele não existe?!
A CPI concluiu que não só não há déficit, como o teto dos
benefícios do INSS pode ser elevado em quase 70%, dos atuais R$ 5.531 para R$
9.370. O número de aposentados cresce mais de 3% a.a. devido ao envelhecimento
da população? Irrelevante. O Brasil já gasta mais com aposentados do que a
Alemanha e o Japão, que têm proporcionalmente o triplo de idosos do que nós?
Quem se importa?
A contabilidade criativa da CPI faz as pedaladas fiscais
da Dilma parecerem fichinha. Segundo ela, os números que importam não são os da
Previdência, mas os da Seguridade Social, que engloba Previdência, Saúde e
Assistência Social. Quer dizer que somando os três temos superávit? Não. No ano
passado, só no âmbito federal tivemos um déficit de R$ 257 bilhões, sem nem contar
um déficit adicional de cerca de R$ 100 bilhões em estados e municípios.
É fácil nos enganar quando queremos ser enganados. Isso
não é novidade.
Qual a mágica da CPI, então? Comece desconsiderando o
déficit de R$ 77 bilhões da Previdência dos servidores da União, embora seja
coberto pelos mesmos impostos que cobrem o rombo do INSS. Em seguida,
desconsidere as desvinculações de receitas da Seguridade – que, entre outras
coisas, tiram recursos da Saúde para bancar o déficit da Previdência. Por fim,
faça de conta que os benefícios podem ser pagos com recursos que nunca foram
arrecadados, como as receitas das desonerações sociais e a sonegação de mais de
R$ 400 bilhões que o INSS tem a receber, mas que nunca receberá integralmente
porque a maior parte é de empresas que nem existem mais, como Varig,
Transbrasil e Vasp, para citar só o setor aéreo.
Fazendo tudo isso, a Seguridade Social é superavitária?
Ainda não. Segundo a própria CPI, mesmo com esta contabilidade de araque, a
Seguridade Social teve um déficit de R$ 57 bilhões no ano passado.É fácil nos
enganar quando queremos ser enganados. Isto não é novidade.
Aí, a CPI dá o golpe final. Apesar do resultado desta
contabilidade maluca piorar todo ano desde 2013 - ainda antes da recessão
começar - os números vão melhorar significativamente a partir deste ano,
eliminando o déficit. A mágica? Crescimento econômico acelerado que vai inflar
as receitas acima do crescimento das despesas.
Em resumo, a CPI, presidida por Paulo Paim (PT) e
relatada por Hélio José (PROS), está convencida de que, por conta das reformas
de Temer e seu governo, o Brasil vai começar a crescer mais rapidamente do que
a China.
É muito bom viver aqui na Suíça! Melhor que isto, só ser
senador no Brasil.
Ricardo Amorim, autor do bestseller Depois da Tempestade,
apresentador do Manhattan Connection da Globonews, o economista mais influente
do Brasil segundo a revista Forbes, o brasileiro mais influente no LinkedIn,
único brasileiro entre os melhores palestrantes mundiais do Speakers Corner e
ganhador do prêmio Os + Admirados da Imprensa de Economia, Negócios e Finanças.