O jornalista Marcelo Rech resolveu brindar os leitores de Zero Hora com uma mal enjambrada obra de ficção política, toda ela construída em cima da realidade paralela sobre a qual o grupo RBS faz suas narrativas, pelo menos desde que o governo atual assumiu, cortando-lhe as generosas verbas publicitárias estatais que engordavam seus bolsos, retirando-lhe os acessos que a família controladora das empresas mantinha na Receita Federal e recolhendo as fartas tetas dos bancos estatais onde buscavam empréstimos milionários.
Rech teve o cuidado de prevenir, de cara, que "qualquer semelhança com a realidade será mera coincidência".
O jornalista da RBS desenha, então, um golpe em andamento.
O que se sabe é que o golpe já foi dado pelos amigos da RBS.
O que vem aí é um contragolpe, destinado a recompor os Poderes corrompidos da República, devolvendo a segurança jurídica e a liberdade ao povo brasileiro.
Se vier.
Marcelo Rech começa sua obra de ficção classificando de "renegados" os militares chamados pelo povo para por ordem no campinho, suprimindo do mando os atuais usurpadores das prerrogativas constitucionais do Poder Executivo, tudo com a ajuda complacente e covarde do Poder Legislativo. E avisa que depois da vitória fácil, todos os revoltosos serão derrotados, mas não serão fuzilados.
Já é alguma coisa.
Leia a seguir, aquilo que Marcelo Rech e a sua RBS tanto desejariam que acontecesse.
Esta crônica é uma obra de ficção, mas qualquer semelhança com a realidade não será mera coincidência.
“Iludidos com as multidões em verde-amarelo que tomam as ruas para celebrar o Hexa, um grupo de militares renegados desfecha uma quartelada. Atendendo ao clamor dos adoradores de muros de quartel, eles proclamam a manutenção de Jair Bolsonaro no poder, dissolvem os tribunais superiores, com a prisão de seus ministros, e preveem, talvez para dali a uns anos, eleições com voto em papel. A cúpula do governo eleito é levada para local ignorado.
Em questão de horas, os EUA, a Europa e toda a América Latina, à exceção do Paraguai, repudiam o golpe e anunciam sanções ao Brasil. O país fica isolado. A China começa a procurar novos fornecedores de alimentos. As contas no Exterior dos financiadores do golpe são bloqueadas. Os golpistas e seus apoiadores, identificados por manifestações em redes sociais, são proibidos de entrar nos EUA e na Europa.
Os presidentes da Câmara e do Senado se levantam contra a intentona e são destituídos, bem como todos os mandatos parlamentares até que, talvez, haja nova eleição. Com as cortes superiores fechadas e sitiados, Judiciário e Ministério Público entram em colapso. A imprensa é sufocada. Sem os holofotes do jornalismo, a fiscalização do MP e punição pela Justiça, bilhões são rapinados dos cofres públicos.
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Em represália ao golpe, EUA e Europa congelam grande parte das reservas internacionais do Brasil. Os dólares oficiais somem e a cotação no paralelo salta para R$ 20. A inflação dispara, a Bolsa derrete. O país tem dificuldades para importar diesel. O transporte e o agronegócio operam aos solavancos. As prateleiras dos supermercados se esvaziam.
O novo regime só tem apoio firme dos ecocidas que querem fazer da Amazônia uma grande pastagem e de alguns pastores fanáticos. O Brasil vive dias de teocracia iraniana. Os muitos milhões que rejeitam o golpismo, e que até então olhavam para os grupos diante dos quarteis entre a indiferença e o desprezo, ocupam as ruas em gigantescos protestos. Repetições do episódio da Legalidade eclodem do Rio Grande do Sul ao Pará. O regime chama o Exército para reprimir as manifestações, mas os comandantes se negam a disparar contra civis desarmados. Massas famintas vagam pelas estradas e tentam sair do país. Os vizinhos, Venezuela inclusive, reforçam os controles nas fronteiras.
Com o caos generalizado, Bolsonaro foge para o Paraguai, onde é obrigado a conviver com Roberto Jefferson. O governo e o Congresso eleitos tomam posse, e os sediciosos que desencadearam o golpe são presos e condenados com base na Constituição. A paz e a ordem voltam a imperar, mas o país, destroçado, ainda levará anos para se recuperar”.
Acordou? Era um pesadelo. Era?