Artigo, Luiz Felipe Pondé, Folha - Esquerda fetiche


We dont need no education (não precisamos de educação) é coisa de teenager bobo


Sempre desconfiei de artistas com pautas políticas. Continuo desconfiando: artista falando de política é puro marketing. Recentemente, tivemos um exemplo no show do Roger Waters e sua “inserção” no debate político brasileiro. Sua crítica é puro fetiche gourmet.

Artistas assim (existem vários exemplos nacionais e internacionais, mas não vou citá-los, você os conhece bem) ganham rios de dinheiro sendo “progressistas”. Trata-se de uma espécie de gourmetização da crítica política, propício a shows de rock and roll.

O mundo da arte, do audiovisual e da cultura é um dos mais violentos e antiéticos da face da Terra. Quem discordar, mente ou desconhece o assunto.

A informalidade e o “capitalismo selvagem” que regem esse campo de negócios é reconhecidamente agressivo. Jovens, e pessoas em geral, são frequentemente explorados em larga escala quando tentam entrar nesse mercado de trabalho. Além de serem mal pagos.

Seja música, seja cinema, seja teatro ou afins, muito do que os artistas criticam no mundo do “capital” à sua volta é prática comum nesses mesmos campos de negócios. Entre a vaidade e a vocação ao abuso, os artistas (não todos, é claro) são menos confiáveis do que a “velha política”.

Outro fator importante é o desconhecimento em mínima profundidade dos temas menos clichês da política contemporânea —que é uma selva densa de problemas sem soluções.

As críticas levadas a cabo por esses artistas são mais marketing profissional e pessoal deles do que propriamente conhecimento instalado sobre esses temas.

O que Waters sabe da realidade brasileira (ou mesmo de outro tópico constantemente tratado por ele, a saber, o conflito israelo-palestino) que não seja fruto da sua própria e distante bolha ideológica ou dos jargões “progressistas”? O que ele sabe que não seja fruto da construção de uma imagem de consumo associado a este mesmo vago conceito de “progressista”?

Há um pacote ideológico que alimenta o marketing de artistas há muito tempo, começando pelo “Che suave”.

O conceito de cognição política, crescente no tratamento do comportamento dos eleitores e agentes políticos em geral, cai bem aqui.

Antes de tudo, um profissional que se dedica (mesmo que, competentemente, do ponto de vista artístico) a música, dificilmente conseguirá reunir tempo e ferramentas específicas para construir um mínimo repertório para realizar uma cognição política minimamente consistente.

Projetar imagens de crianças da África em shows de rock and roll é o que há de mais banal em marketing da própria banda. Aquilo que, de certa forma, era “raiz” em artistas como John Lennon, hoje não passa de estilo “nutella” em bancas milionárias.

Voltando a cognição política, conceito que demonstra a quase incapacidade de profissionais dedicados a política em, de fato, compreender de forma minimamente consistente o mundo político contemporâneo para além do mimimi ideológico, quase nos leva ao impasse cético nas análises de temas políticos, principalmente depois que as mídias sociais trouxeram a superfície a fala de milhares de pessoas que antes eram mudas, e não passavam de objeto de fantasia idealizada por parte desses mesmos profissionais da análise política.

Parte do transtorno e da desorientação que vivemos hoje quando pensamos na democracia não advém da redução da participação popular nas opiniões políticas, mas da saturação aguda dessa mesma participação.

Estamos afogados na “soberania popular” tagarela nos últimos anos. E isso não vai mudar porque as ferramentas de comunicação tendem a dispersar cada vez mais essa tagarelice (que Alexis de Tocqueville, em 1835, já apontava no seu “Democracia na América”).

E venhamos e convenhamos, a música de Waters é grandiosa, mas dizer que “we don’t need no education...” (nós não precisamos de educação) é, como já apontou o psiquiatra inglês Theodore Dalrymple, coisa de adolescente bobo.

Resistir ao fascismo sempre foi, de fato, urgente. Mas, é bom lembrar que o fascismo sempre gostou de grandes surtos coletivos regados a palavras de ordem e multidões.

Luiz Felipe Pondé

Escritor e ensaísta, autor de “Dez Mandamentos” e “Marketing Existencial”. É doutor em filosofia pela USP.

Artigo, Mauro Rodrigues da Cunha, Estadão - Controles internos ? O mau caso da Petrobrás.


Acho que como muitos brasileiros posso ser desculpado por estar irritado com a política. O período eleitoral parece ter sido desenhado para ser um desfile de platitudes, promessas e inconsistências. Mesmo consciente desse cenário, minha irritação atingiu o ápice ao ler declarações de um candidato de que nossas empresas estatais tiveram problemas porque “faltou controle interno”.
Tive o privilégio de servir no Conselho de Administração da Petrobrás entre 2013 e 2015. Quando assumi o cargo ainda não havia sido deflagrada a Operação Lava Jato e quando saí a empresa reconhecia perdas de mais que R$ 50 bilhões em seu balanço - que nem assim contou com meu voto favorável.
Ao assumir, a primeira coisa que chamou a minha atenção foi a pletora de políticas e controles internos na companhia. Não havia uma só atividade citada nos manuais de boas práticas de governança que não estivesse documentada e controlada. Se há alguma coisa que não faltava na Petrobrás era controle interno. Mas a Petrobrás só tinha boa governança para inglês ver. A partir da gestão de José Sergio Gabrielli teve início um processo de desmonte deliberado dos gatilhos de governança, na prática tornando inócuos os controles existentes.
A companhia tinha um conselho de administração bovino. Todos os membros indicados pelo governo votavam em uníssono a favor das propostas do controlador. O comitê de auditoria, quando começou a fazer perguntas incômodas, foi obliterado para ser mais cordial, eliminando os independentes.
O modelo da diretoria executiva colegiada foi concebido na gestão Reichstul, com o objetivo de impedir a criação de feudos na companhia. Numa empresa de complexidade crescente, a instrução das matérias era de extrema importância. Para tanto existiam os chamados comitês de negócios, compostos por gerentes executivos de todas as diretorias relevantes. Assim, se eu sou o diretor da área A, posso votar o assunto da área B porque ele terá sido examinado por um grupo de executivos experientes, inclusive da minha área.
Um dos primeiros passos da destruição da governança da Petrobrás foi a eliminação prática desses comitês. Como consequência, os diretores começaram a aprovar as matérias dos seus colegas na base da confiança, criando de fato os feudos que o desenho da governança tentava impedir.
Quando entendi o sistema indaguei a um diretor como ele aprovava matérias dos seus colegas em valores bilionários sem se aprofundar nos temas. Ele respondeu: “Conselheiro, esta empresa investe 300 milhões de dólares por dia… Se formos olhar cada matéria em detalhe, vamos paralisar a companhia”. Paralisado fiquei eu. As atas da diretoria eram desprovidas de registros úteis para evidenciar qualquer debate relevante.
Outra ação proposital dizia respeito à política de alçadas. O estatuto da Petrobrás estabelecia que os limites de alçada deveriam ser determinados anualmente pelo conselho. Logo ao assumir verifiquei que a última deliberação a respeito havia sido dez anos antes!
O estatuto mandava determinar anualmente os valores dos incisos relevantes, “especialmente” cinco deles . Não constava na lista do “especialmente” o inciso que tratava de transações com partes relacionadas. E a administração considerava que, como não estavam na lista do “especialmente”, não havia necessidade de determinar limites! Em outras palavras, para incorporar uma subsidiária inoperante (e, portanto, imaterial), convocava-se o conselho. Mas para o leilão de Libra, que envolvia investimentos de bilhões, o conselho não era chamado.
No desenho da política de alçadas, estabeleceram valores para quase todas as linhas, exceto aquelas incluídas no Plano de Negócios e Gestão (PNG). Esse plano era apresentado anualmente ao conselho, após um belo PowerPoint. Como resultado, aprovava-se um plano de investimentos de US$ 50 bilhões por ano. E a diretoria ainda tinha o poder de remanejar verbas. Isto é, tratava-se de um cheque em branco de US$ 50 bilhões para a diretoria - e a partir desse momento o conselho não tinha mais ingerência alguma sobre a alocação de capital.
Tampouco era possível ao conselho enxergar os desastres que se avizinhavam nos grandes investimentos. Não havia reportes do seu andamento ao conselho. Apenas no final de 2014, depois de muito esforço, o conselho recebeu pela primeira vez um book sobre o andamento físico-financeiro dos investimentos. Mas aí já era tarde demais...
A lista de problemas continua, e seguramente não caberia neste espaço. Sempre com a mesma temática: controles formalmente existentes, mas operados de maneira proposital para não serem eficientes. Um líder sindical comandando a área de recursos humanos, desenhando acordos que produziam perdas bilionárias na justiça. Um ouvidor-geral que fora assessor de um importante ministro (hoje condenado pela Justiça), assegurando que nenhum funcionário teria coragem de utilizar o canal para fazer uma denúncia sobre corrupção. Relatórios internos que demonstravam a inviabilidade de alguns investimentos, ignorados. Demonstrações contábeis mentirosas feitas com a cumplicidade de quem deveria zelar por sua integridade. Cegueira deliberada em todas as áreas.
Fiz menção a esses problemas em depoimento à CPI da Petrobrás, em 2015. Alguns dos assuntos dormitam nos procedimentos internos do Tribunal de Contas da União e da Comissão de Valores Mobiliários, sem que tenha havido responsabilização adequada até hoje.
Por tudo isso, sr. candidato, é importante que se diga que não faltaram controles internos à Petrobrás. Eles existiam e foram deliberadamente desmontados pelas lideranças de então. Ignorar esse fato é má-fé - ou praticamente confessar que, na hipótese de retorno daquelas lideranças, o pesadelo voltará.
*FOI MEMBRO DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DA PETROBRÁS DE ABRIL DE 2013 A ABRIL DE 2015

Artigo, Marcelo Aiquel - E depois é o filho do Bolsonaro que fala merda

         Os petistas desesperados fizeram circular – para alegria de muitos imbecis – um vídeo, onde Flávio Bolsonaro critica o STF.
         A mídia vendida (também desesperada) não poupou espaços para divulgar o gravíssimo ato do “torturador júnior”.
         Esqueceram, no entanto, que não houve qualquer indignação quando o dep. Federal (PT/RJ) Wadih Damous disse a mesma coisa. Ou quando o guerrilheiro Zé Dirceu falou em tirar os poderes do STF. E, foi tudo durante a campanha eleitoral.
         Ao contrário do “filho do torturador”, que disse o que disse há mais de três meses, época em que Bolsonaro ainda nem era candidato oficial á presidência.
         Ou, também não me recordo de nenhuma irresignação esquerdista quando a Benedita da Silva (só podia ter o mesmo sobrenome do condenado Lula...) afirmou que haveria derramamento de sangue, e a “narizinho” conclamou o seu PT á luta armada.
         Pois é, segue sendo assim: Quando um absurdo sai da direita, é mais do que divulgado. Porém, quando é dito pelos “esquerdopatas”, é varrido pra baixo do tapete, episódio esquecido na mesma hora.
         A caravana passa e os cães ladram.
         O Bolsonaro não pode nada. Nem deixar de comparecer em debates.
         Mas o Lula da Silva (o chefe do poste) agiu assim em 2006 e foi aplaudido. E reeleito presidente.
         Ainda bem que tudo terminará dia 28, porque ninguém (decente) aguenta mais tanta hipocrisia