Se você fosse chamado a opinar sobre os passos mais
óbvios do governo e da oposição no curto prazo diria o quê? Eu diria que o
governo:
1) Não pode se dar ao luxo de aparecer como derrotado na
disputa das presidências da Câmara e do Senado. O presidente tem potencial
maioria em cada uma das casas. Se a coisa desandar, antes de ser trágico será
ridículo. O custo político de passar reformas vai subir exponencialmente. E
será só o começo.
2) No que estiver ao alcance dele, o presidente precisa
cuidar de se recuperar da nova cirurgia. A montagem do governo reuniu gente
muito sedenta de protagonismo. Se com o presidente na ativa já se nota
propensão centrífuga, sem ele por muito tempo seria forte o estímulo para
exacerbar a confusão.
3) O governo precisa apresentar uma reforma da
previdência que atenda o mercado e tenha viabilidade política. É possível
no começo do governo aprovar alguma reforma da previdência crível ao
mercado, mesmo sem distribuir cargos pelos partidos ou liberar verbas
orçamentárias para as bases dos parlamentares. Lula fez isso em 2003.
4) Precisa mostrar alguma coordenação na comunicação.
A comunicação oficial tem sido boa para manter a base social coesa e
mobilizada, mas é também uma usina de pautas negativas. Não chega a ser
problema maior no curto prazo, mas sempre cobra uma conta depois de certo
tempo. Assim como no boxe, apanhar o tempo todo costuma ter consequências.
5) Precisa minimizar o ruído internacional. O governo
brasileiro fala duro e parece subestimar o trabalho de explicar ao mundo por
que sua política seria boa para o mundo. Segue a linha Trump. Vladimir Putin
adotou a política do “big stick”. Xi Jinping apresenta os interesses da China
como se fossem os do universo.
Já a oposição:
1) Não pode se deixar esmagar na composição das mesas
da Câmara e do Senado. A repetição de 2015, que deu Eduardo Cunha e a
exclusão do PT da mesa da Câmara, será um desastre. Também desastroso será
a esquerda dar a impressão de estar associada ao bolsonarismo. O melhor para a
oposição seriam composições institucionais nas duas casas.
2) Não pode se dispersar e perder a identidade na
disputa das mesas do Congresso. Uma sucessão institucional permitiria à
esquerda participar das mesas sem aparentar linha auxiliar do governo. Isso
talvez não interesse ao governo. Mas os principais candidatos na Câmara e no
Senado podem ter interesse nessa saída. Aliás, se o governo raciocinar talvez
conclua que é bom para ele também.
3) Precisa ter proposta ou propostas alternativas para a
reforma da previdência, com foco em setores privilegiados do Estado. A
esquerda tem governadores desesperados por uma reforma da previdência que
ajude a evitar a falência de seus estados. O governo vai explorar isso, então
é preciso entrar no debate com alternativas.
4) Precisa elaborar crítica consistente e propor ações
que se oponham à política externa e à política educacional do governo. Até
agora a crítica a essas duas políticas resume-se ao “nossa, que absurdo”. Na
educação, é preciso mostrar os caminhos para o ensino, especialmente o
fundamental, melhorar muito e rapidamente.
5) Precisa de ideias sobre como enfrentar a crise da
segurança pública. A atual doutrina de enfrentamento do crime desmoralizou-se
porque não está funcionando. O governo elegeu-se também por ter ideias para
resolver o problema. Quais são as ideias da oposição, além de continuar
aplicando o que não está funcionando?
É como no futebol. Na dúvida, uma saída é tentar
fazer o simples.
E você, acha o quê?