Sífilis


Considerada uma epidemia hoje, no Brasil, a sífilis é uma das infecções sexualmente (IST) mais comuns e é um problema que vem crescendo no mundo e no Brasil. O Rio Grande do Sul está em segundo lugar no ranking nacional e a tendência é de crescimento. Em 2017, a taxa no Estado era de 113,8 por 100 mil habitantes, muito acima da nacional, que está em 58 por 100 mil habitantes. A situação é tão preocupante que virou tema central da XVIII Semana Estadual de Saúde Bucal e foi debatida no Seminário “Manifestações bucais das infecções sexualmente transmissíveis – sífilis e Aids”, que ocorreu nesta quinta-feira (24), no Centro Administrativo Fernando Ferrari (CAFF), em Porto Alegre.
Conforme Fernanda Carvalho, da Coordenação Estadual de IST/Aids, da Secretaria da Saúde (SES/RS), se trata de uma doença negligenciada e o “esquecimento” em torno da prevenção e tratamento “está cobrando seu preço em termos de estratégia de saúde pública”. No Rio Grande do Sul, os problemas estão mais concentrados nas regiões metropolitana, missioneira, norte, sul e serra, nesta ordem. Os casos de sífilis congênita (transmitida ao feto pela placenta) também são considerados altos no Estado, que já é o terceiro no ranking nacional, com quase dois mil casos este ano.
“Sífilis é uma doença antiga e estigmatizada. A sociedade não quer falar sobre isto, mas é preciso”, observa Fernanda, acrescentando que há cura com tratamento, que é barato e relativamente fácil. O cirurgião dentista e especialista em estomatologia, Matheus Claudy, concorda que é preciso romper com a cultura de não falar sobre a questão. “Podemos fazer o teste rapidamente em uma UBS (Unidade Básica de Saúde), mas os pacientes relutam e é preciso mudar isto”. Segundo ele, o diagnóstico precoce resulta em tratamento mais rápido e eficaz. “É uma doença fácil de tratar, por isto temos de acabar com o estigma”.
À plateia, formada por cirurgiões-dentistas, auxiliares e técnicos em saúde bucal de municípios gaúchos, ele fez um apelo: “nós, que atendemos na rede pública, peçamos o teste, é mais fácil começar por aí”. Fernanda Carvalho apoiou a manifestação e disse que acontece muito de profissionais investigarem lesões, mas ninguém pedir testes de sífilis e HIV.
Além deste seminário, promovido pela Coordenação Estadual de Saúde Bucal da SES/RS, a XVIII Semana Estadual de Saúde Bucal é marcada também por um Encontro Regional de Saúde Bucal, que ocorre nesta sexta-feira, 25, na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), voltado para cirurgiões- dentistas da rede pública e acadêmicos da Faculdade de Odontologia. 

“Faltam recursos porque a estrutura do Estado demanda mais do que a capacidade de pagamento”, afirma Leite


Governador lembrou durante a entrevista no Palácio Piratini que dívida total do RS se aproxima de R$ 100 bilhões.
Depois de debater com a sociedade – parlamentares, sindicatos de categorias de servidores e chefes de Poderes – a Reforma Estrutural do Estado, o governador Eduardo Leite concede a entrevista a seguir dentro da política de transparência nas informações prestadas para os gaúchos neste momento de grande importância para o futuro do Rio Grande do Sul.
A reestruturação nas carreiras dos servidores e nas regras previdenciárias – como propõe a reforma – se faz necessária para trazer equilíbrio às finanças do Estado. Um número que comprova essa necessidade: 82% das despesas deste ano até o momento foram para pagar o funcionalismo – que vem recebendo atrasado e parcelado exatamente em razão da falta de capacidade do Estado de cobrir todos os custos.
Ajustar pela receita – como a elevação de impostos –, explica o governador Leite na entrevista, teria um efeito contrário. Uma medida assim faria o morador no Estado, inclusive o servidor, pagar ainda mais por serviços essenciais em razão de elevação de ICMS e reduziria a possibilidade de atração de investimentos, base para a abertura de mais vagas de trabalho.
Por isso, a mudança se faz necessária pelo lado da despesa e pela parte mais representativa, que é a folha salarial. Outras medidas de economia estão sendo tomadas, como descreve o governador a seguir, mas têm efeito pequeno frente ao custo final.
A dívida total do RS – perto de R$ 100 bilhões –, os quase 50 meses de salários pagos com atraso e a falta da capacidade de investimentos em saúde, segurança e infraestrutura evidenciam a necessidade de mudança.
Como não há de onde tirar receitas extraordinárias, a reforma é necessária, informa o governador, "para o Estado voltar a ter capacidade de entregar segurança, saúde, educação, boas estradas, empregos para seus filhos e para as futuras gerações". A seguir, leia os principais trechos de entrevista concedida no Palácio Piratini.

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Por que a Reforma Estrutural que será enviada nos próximos dias à Assembleia é essencial para o futuro do Rio Grande do Sul?
O Rio Grande do Sul, infelizmente, apresenta uma condição fiscal que está entre as piores do Brasil. O RS tem a maior proporção de servidores inativos e pensionistas em relação aos servidores em atividade. Há 1,63 servidor inativo ou pensionista para cada servidor trabalhando. E é uma conta que deve ser paga no final do mês. Assim, o Estado deixa de investir, não consegue pagar os servidores em dia e precariza a situação de investimentos em segurança, em saúde e nas estradas. Isso tira a capacidade de dar retorno para o povo gaúcho naquilo que ele demanda. O déficit previdenciário do Rio Grande do Sul é de R$ 12 bilhões. Como comparação, o Paraná, Estado semelhante ao nosso em população, no orçamento e no PIB, lá o déficit é de R$ 6 bilhões. Ou seja, metade do déficit do RS. Isso significa que, ao longo de um mandato de quatro anos, o governador do Paraná dispõe de R$ 24 bilhões a mais do que o RS para investir ou para cobrar menos em impostos da sua população.
Nós precisamos fazer um esforço muito maior para pagar aposentadorias e, consequentemente, deixamos de retornar para a sociedade aquilo que ela paga em imposto. O servidor paga 14% do seu salário em contribuição previdenciária, o Estado coloca outros 28% e ainda faltam R$ 12 bilhões. Quem paga essa conta é a sociedade como um todo. Eu tenho salientado aos servidores que, antes de serem servidores públicos, eles são cidadãos, que também pagam esse preço. Pagam combustível mais caro, pagam energia elétrica mais cara, pagam telecomunicações mais caras porque as alíquotas foram majoradas, já que o Estado precisa pagar essa conta. Com a elevação de alíquotas, acabamos criando um ambiente economicamente adverso, hostil ao investidor. E aí se deixa de gerar empregos, se deixa de gerar riqueza essencial para que o próprio Estado consiga ter capacidade de pagar os salários. Então, vira um círculo vicioso: o Estado cobra imposto alto, porque precisa pagar aposentadorias e salários. E como cobra imposto alto, desanima a economia. E como desanima a economia, cobra mais caro ainda para conseguir pagar suas contas. E esse círculo vicioso não tem se conseguido romper no nosso Estado, para isso é que nós queremos fazer reforma.
A dívida do Estado passa dos R$ 70 bilhões, e os servidores estão perto de completar 50 meses de salários atrasados. Isso é um alerta de que algo estrutural precisa ser feito?
Sem dúvida nenhuma. Percebam bem: são 50 meses, mais de quatro anos, nos quais se passaram dois governos, dois mandatos, dois governadores diferentes e, inclusive, um que concorreu à reeleição. Então, é evidente que precisa muito mais do que vontade política para superar o problema. Faltam recursos porque a estrutura do Estado demanda mais do que a capacidade de pagamento. No passado, muitas soluções foram utilizadas com receitas extraordinárias, para que esse problema fosse adiado, postergado. Saques ao caixa único, que são recursos de fundos específicos, como a Cultura, o porto do Rio Grande, o Instituto Rio-grandense do Arroz, são instituições ou fundos que têm recursos específicos ali alocados e que o Estado passou a usar para pagar as despesas do mês. Depois, foram os depósitos judiciais, demandas entre terceiros. Se duas pessoas discutem qual é a dívida que uma tem para com a outra, um valor estimado da dívida é depositada em juízo. Esse dinheiro não é do Estado, mas está sob cuidado do RS. E o Estado foi lá e sacou cerca de R$ 11 bilhões dos depósitos judiciais e, assim, constituiu-se uma dívida ainda maior. Nos R$ 70 bilhões está a dívida com a União, mas também temos que computar a dívida de precatórios não pagos, a dívida desse caixa único e dos depósitos judiciais. Tudo isso soma quase R$ 100 bilhões. O Estado não pode mais cair nessas armadilhas, nem tem mais fontes extraordinárias de receitas e, mesmo que tivesse, não seria correto ou adequado, porque estaríamos comprometendo ainda mais o nosso futuro. Por isso que é importante readequar o tamanho da máquina pública.
"O Estado não tem mais fontes extraordinárias de receitas. Mesmo que tivesse, não seria correto usá-las, porque estaríamos comprometendo ainda mais o nosso futuro."
O gasto com pessoal, por exemplo, representa 82% das despesas do Estado. Nos últimos 10 anos, essa despesa passou de R$ 10 bilhões para R$ 29 bilhões, o dobro da inflação. Como resolver essa situação, já que parte desse dinheiro poderia ser investido em estradas, hospitais e escolas?
Entendo ser importante tentar traduzir para a população como é na sua casa. Se você tem um salário que não está dando conta das despesas, vai anotar quais são os gastos para poder entender onde é que se consegue ajustar a capacidade de pagamento do salário. Então, se você tem 80% de uma natureza de despesa, é até importante cortar em outras áreas, mas se não ajustar nessa área, você não vai resolver o seu problema. Por exemplo, no nosso governo, já fizemos a redução de veículos utilizados pelo Estado. Conseguimos dar baixa em cerca de 2 mil veículos, o que nos reduz custo de combustível e de manutenção. Pelo menos R$ 3 milhões foram economizados assim no primeiro semestre. É importante e vamos vai continuar fazendo reduções dessa natureza, mas R$ 3 milhões, dentro de uma despesa de folha de pagamento bilionária, se torna pequeno. E precisamos, então, discutir as mudanças na estrutura da máquina pública onde ela mais consome as receitas do Estado, nos salários e nas aposentadorias. Sem isso ser feito, os próprios salários já pagam a conta. Os servidores, eu costumo dizer, têm agora o primeiro sintoma de uma doença mais grave, que, se não for tratada, vai piorar. E esse tratamento envolve discutir o próprio custo da folha de pagamento na estrutura do Estado.
O déficit previdenciário anual, proporcionalmente, é o maior do Brasil, como o senhor já falou. Isso representa um custo de R$ 1.038 por gaúcho. Além disso, o Estado tem mais servidores inativos do que ativos. Isso também preocupa?
Preocupa muito, porque tira a capacidade da prestação de servidores diretamente pelos servidores, uma vez que o Estado não consegue repor aqueles que se aposentam. A legislação estabeleceu aposentadorias com uma certa condição. O custo com aposentados e pensionistas é crescente, e o Estado, como não vê as receitas crescendo da mesma forma que essa despesa, não consegue fazer a reposição dos servidores. Assim, se precarizam os serviços, como na segurança, e também os investimentos. O orçamento do Estado é de R$ 60 bilhões. Quem olha pensa “puxa, R$ 60 bilhões, como o Estado tem dinheiro”, mas o que resta do orçamento no recurso livre no Tesouro é R$ 300 milhões, dos quais R$ 100 milhões são de outros Poderes. Então, sobram R$ 200 milhões de recursos livres do Tesouro para investimentos. Na verdade, nem é livre, porque esse dinheiro não existe, ele é feito com base no endividamento. Você precisa minimamente tapar buracos, repor viaturas e estrutura da segurança pública, como armamento e coletes. Então, o Estado sequer tem esse dinheiro, mas força a barra porque precisa viabilizar investimentos mínimos para continuar fazendo o RS andar. Mesmo assim, é muito pouco, o que gera frustração na população, que paga imposto alto e não vê os serviços retornarem.

"O Estado já gasta um dinheiro que não tem. Com a reforma, vamos deixar de nos endividar, de pressionar o orçamento com algo que não conseguimos atender."

O senhor se reuniu com sindicatos, ouviu os representantes dos trabalhadores, tanto no início do ano como agora, ao apresentar a reforma. A partir dessas conversas surgiram sugestões. O senhor poderia citar alguma delas?
Acho que é muito importante mantermos diálogo, entendermos as razões do outro, nos colocarmos no lugar do outro e ouvirmos. No caso dos servidores, reconhecemos a legitimidade dos sindicatos, embora discordemos de muitos pontos e haja divergências, principalmente, em alguns adjetivos que me são dirigidos e que considero injustos. Nem por isso deixamos de conversar e de dialogar para entender quais são os pontos que podemos ajustar na nossa proposta. Para dar um exemplo, o sindicato dos professores, o Cpers, apresentou, quando conversamos no começo do ano, a demanda de redução ou até mesmo a eliminação do estorno do vale-alimentação. Resolvemos atender a essa demanda, tirando os 6% de desconto sobre o salário de até R$ 2 mil dos servidores. Com isso, especialmente os professores, mas não só eles, serão beneficiados recebendo o valor do vale-alimentação sem ter de descontar de seus salários. Já tem um ganho salarial aqui. Outra questão que estamos ajustando nas nossas propostas é aumentar o valor do abono família para quem ganha até R$ 3 mil. Hoje, qualquer servidor recebe R$ 44. Ou seja, o servidor que ganha R$ 20 mil ganha R$ 44, e o servidor que recebe salário menor ganha os mesmos R$ 44. Estamos propondo restringir esse benefício para quem ganha até R$ 3 mil, além de triplicar o valor, passando de R$ 44 para R$ 120. Ou seja, colocando recurso para quem mais precisa. O professor que tem dois filhos, por exemplo, vai ter aumento expressivo de abono família e vai deixar de descontar o vale-alimentação, portanto, pode ter um ganho de até 12% no salário. Então, a reforma também foca em atender quem mais precisa, quem ganha menor salário no nosso Estado.
Qual é a projeção do governo em caso de aprovação das medidas? Quanto o Estado deixará de gastar?

 - É importante dizer que o Estado já gasta um dinheiro que não tem. Vamos deixar de endividar o Estado, de pressionar o orçamento com algo que não conseguimos atender. Nossa projeção para os próximos 10 anos é de um impacto de R$ 25 bilhões. Ou seja, o dinheiro que o Estado não tem, que compromete o pagamento do salário dos servidores em dia e, mais difícil ainda, falar em reajuste e reposição da inflação. Queremos reorganizar as contas para que, a partir dessa economia, o Estado consiga retomar a capacidade de pagar em dia, voltar a repor a inflação, de forma a manter o poder de compra dos servidores sem gerar aquele efeito cascata por conta das vantagens temporais, entre outras. Então, a reforma é algo que se impõe, pela inevitabilidade, pela inadiabilidade das medidas, para que sejamos responsáveis com o futuro do nosso Estado, com quem é servidor e com quem não é servidor público também. É uma responsabilidade nossa, e a hora é agora.

Além da reforma, outras medidas estão sendo tomadas para ajustar as contas do Estado. Quais outras iniciativas o senhor destaca?
Costumo dizer que não existe uma bala de prata. Sempre que vamos falar sobre reformar o Estado, reorganizar as contas, cada um tem sua solução, e a verdade é que não existe uma solução sozinha. Há uma série de medidas que precisam ser tomadas para que o Estado consiga sair da grave crise em que se colocou justamente por não ter tomado as medidas corretas em outros momentos. Além das privatizações da CEEE, da CRM e da Sulgás, já autorizadas pela Assembleia, aumentamos muito a velocidade da cobrança dos sonegadores. Só para ter uma ideia, no primeiro semestre do ano passado, a Secretaria da Fazenda arrecadou R$ 700 milhões em processos administrativos. Neste ano, foram R$ 4 bilhões. Estamos apertando o cerco aos sonegadores, bem como buscando a revisão dos incentivos fiscais. O governo tem sido transparente como há muito tempo se demandava que fosse nessa área. Entregamos ao Tribunal de Contas do Estado, de forma discriminada, quais são os benefícios que o RS oferece e esperamos encaminhar, no primeiro semestre do próximo ano, a revisão dos benefícios fiscais à Assembleia Legislativa. Entre outras medidas, buscamos com o governo federal uma melhor repartição dos recursos da cessão onerosa do pré-sal. O Estado iria receber apenas R$ 150 milhões. Nos mobilizamos, fui pessoalmente ao Congresso Nacional, e conseguimos aumentar, com o apoio da bancada gaúcha e de deputados de outros Estados, para R$ 450 milhões os recursos que serão aportados. Ou seja, estamos trabalhando em todas as frentes para que o Estado possa reequilibrar suas contas e tenha um ambiente mais favorável aos negócios. É por isso que tem Código Ambiental sendo rediscutido na Assembleia Legislativa, é por isso que tem concessão de estradas à iniciativa privada para viabilizar investimentos, além de medidas que procuram reduzir burocracia, melhorar logística e reduzir impostos. Tudo isso junto vai criar um ambiente que favorece o investimento privado. E, com investimento privado, vem geração de riqueza, mais arrecadação de impostos e geração de emprego. Todos os servidores precisam saber, como salientei no começo da conversa, que, antes de serem servidores, são cidadãos e querem um Estado, no futuro, com capacidade de entregar a eles aquilo que desejam: segurança, saúde, educação, boas estradas, empregos para seus filhos e para as futuras gerações.
Entrevista: Guilherme Hamm/Secom

Francisco Ferraz, Estadão - Forçando os limites da democracia

Ex-reitor da Ufrgs, RS. Professor de Ciência Política, é criador e diretor do site www.mundodapolitica.com

A crise, na época do artigo citado em epígrafe, não era tão grave ainda como veio a se tornar. Às dificuldades econômicas vieram se agregar outras de natureza política e
moral: a agressividade não resolvida da campanha eleitoral, o impacto desmoralizante das revelações de corrupção da Lava Jato e uma grave divergência sobre valores culturais e sociais. Esses componentes geraram uma Crise sistêmica, salientada neste artigo pelo uso da letra maiúscula.
Passadas duas eleições presidenciais, duas congressuais, um impeachment e uma investigação implacável – que desvelou uma corrupção em escala nacional por mais de uma década, com valores até então inimagináveis –, a crise tornou-se a Crise sistêmica por seu inevitável poder de contaminação das relações políticas, sociais e morais. Não era apenas mais uma crise econômica. Tornou-se uma emergência nacional pelos ressentimentos provocados no impeachment, pela fragilidade do governo Temer e pela proximidade da eleição presidencial intensamente radicalizada.
Com essa atmosfera de animosidade, hostilidade e espírito de revanche a Nação dividiu-se em dois blocos políticos, exacerbados pela novidade do acesso facilitado à expressão dos sentimentos nas redes sociais. A vitória de Jair Bolsonaro não apaziguou o conflito. De todas as autoridades se passou a exigir uma definição política, mesmo daquelas de quem se esperam isenção e independência. Esse procedimento se universalizou pelos três Poderes, o que causou (e causa) fortíssimo estresse no desempenho de suas funções constitucionais.
Esse clima político trazia consigo uma sensação de vigilância ideológica que inevitavelmente produz em muitos a timidez decisória, a postergação da decisão, a fuga da responsabilidade e o medo de se opor às manifestações contrárias à aprovação de projetos do governo. Em consequência, todas as instituições mais importantes do nosso sistema político foram abaladas pela descrença e desconfiança.
Estamos enfrentando uma Crise estrutural como se fosse conjuntural, quando se trata da mesma crise que volta e meia nos visita, sempre agravada. Desta vez ela se faz acompanhar de uma chuva de impasses e bloqueios cumulativos e interdependentes de natureza política, jurídica, moral.
O que a torna mais perigosa é o fato de que nenhum dos Poderes tem legitimidade para resolvê-la individualmente; por outro lado, cada órgão político envolvido tem algum poder de veto sobre os demais ou de interferir na liberdade decisória dos outros Poderes por sua ação ou omissão. A relação entre os Poderes deixa de ser de harmonia e colaboração para se tornar de impasses e bloqueios entre eles.
A Crise tornou-se emergência nacional porque está destruindo as instituições que poderiam resolvê-la, pelo abalo e pela descrença no sistema político, por excessiva e descabida transferência de responsabilidades políticas para o Poder Judiciário. Isso em meio a uma atmosfera política de conflito radicalizado que contaminou a sociedade e de uma contestação de valores sociais que dividiu famílias, amigos e a cidadania, a tornar inviável um mínimo de consenso.
A Crise pôs a nu a incapacidade das instituições e da classe política de darem respostas tempestivas e resolutivas aos desafios que nos ameaçam.
O governo Temer, com legitimidade precária, pouco pôde fazer. O governo Bolsonaro recém-empossado dependia da aprovação de seus projetos por um Legislativo em busca de recuperar um poder que perdera pelos escândalos da Lava Jato e de um Judiciário progressivamente atraído pela política. Isso foi tudo o que o sistema político conseguiu reunir para enfrentar uma Crise que se tornava estrutural e sistêmica.
A Crise e a grave e urgente agenda política do País foram então entregues a um Executivo que tinha mais responsabilidades que poder, a um Legislativo que temia usar o poder que tinha e a um STF cada vez mais politizado, na condição sempre fatal de desfrutar o poder sem a correspondente responsabilidade política.
Em si mesma a Crise não surgiu de problemas insolúveis. Seu diagnóstico era conhecido e as medidas para resolvê-la, repetidamente anunciadas na campanha presidencial, tiveram sua urgência enfatizada.
Entregue o projeto ao Legislativo, perdeu-se tempo precioso ao tentar convencer a opinião pública de que articular apoio não era negociar; não reconhecendo a urgência, a Câmara tratou o projeto da Previdência como matéria rotineira. Em vez de levá-lo com cuidado para a UTI, levou a maca com o doente para o corredor. A reforma da Previdência levou dez meses para ser aprovada, um quarto do mandato presidencial, como se o tempo perdido não cobrasse seu preço.
Uma crise implica sempre perda de tempo valioso para corrigir o que a está causando.
Sua solução depende de respostas corretivas que devem ser urgentes e resolutivas. A razão para o seu agravamento é conhecida. Na nossa política, enraivecida pelas políticas ideológicas e personalistas, o País sempre poderá tornar-se refém numa 2/6 políticas ideológicas e personalistas, o País sempre poderá tornar-se refém numa batalha política que não finda nem mesmo com o pronunciamento do eleitorado.
Hoje nos encontramos ainda enredados nesta crise que está destruindo toda a estrutura institucional de governo, na realidade de seu funcionamento e na mente dos cidadãos.
É inegável que a cultura política brasileira tem uma relação mal resolvida com o tempo.
Não aprendemos com o passado e não decidimos para o futuro. Vivemos politicamente como se apenas houvesse o presente e aquele futuro imediato que com ele pode se confundir.
Por que não somos capazes de enfrentar e resolver crises? Essa é uma pergunta que não se faz porque não se quer saber a resposta.

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https://www.youtube.com/watch?v=WoLHaXFRVQg&feature=youtu.be

Artigo, Astor Wartchow - Mentira e poder


- O autor é advogado no RS.

      Em meados de 2013, escrevera sobre dois fenômenos políticos do nosso tempo, a antipolítica e a pós-política. As duas práticas questionam (e transformam) gravemente a democracia, assim como a popularmente compreendemos (ainda que de modo equivocado).
      A antipolítica pode vir a ser uma nova utopia, uma possibilidade de revitalização das idéias e das esperanças. Principalmente, poderá desmascarar um tradicional (e fraudulento) discurso político, que afirma que os interesses da classe política são idênticos aos interesses da comunidade. Ou, que os interesses do Estado se equiparam aos objetivos da população. Ambos falsos!
      Em seu premiado ensaio de 1985, o escritor húngaro George Konrád (1933-2019) definiu a antipolítica como “uma força moral da sociedade civil que articula a desconfiança e rejeição públicas do monopólio de poder da classe política dentro do Estado – um poder usado contra as populações através de legislação. Esta força moral não pretende derrubar o poder político, mas opor-se à opressão que ele exerce sobre as populações”.
      Enquanto que a antipolítica quer refazer e recuperar o sentido e o debate ideológico (mas questiona os partidos e suas práticas), a pós-política representa o contrário. Pensa, acredita e aposta no fim da ideologia.
      Se a antipolítica ainda não sabe como agir, a pós-política sabe muito bem o que fazer, como fazer e o que quer: o poder.  E o poder se estabelece pela conquista do Estado. A pós-política é realista. Joga o jogo do sistema. Não tem ilusões, nem pudores.
      Utiliza e manipula os partidos, faz permanente cooptação das instituições sociais, as despolitiza e as converte em instrumentos de sua manutenção de poder.
      A antipolítica, ao contrário, quer recuperar as manifestações e os movimentos sociais, sua cultura e dinâmica. Ainda que utópico desejo, sabe, entretanto, que “não há vida saudável dentro do sistema”.
      Entre esses dois movimentos políticos há algo essencial em comum, mas por razões diferentes. Os meios de informação e conhecimento são ponto central de ação da antipolítica para expandir a comunicação e as redes de integração do debate político-ideológico.
      A pós-política, porém, reconhecendo os inerentes riscos à sua manutenção de poder, tenta impor o controle sobre os meios de comunicação. Ou, então, mais recentemente, adere grosseiramente a pós verdade.
      Governos, sindicatos, universidades e imprensa, por exemplo, perderam credibilidade, e, consequentemente, já não conduzem o debate público. A busca e afirmação da verdade ficou em segundo plano.
      No criativo e incessante fluxo das redes sociais, líderes da preferência popular em informação (via celulares cada vez mais potentes), a arte da boataria e da desinformação predominam. Na falta de um certificado de autenticidade, prolifera a pós-verdade. Não só aqui. Mundialmente!