O PT, Lula e seus simpatizantes continuam fazendo apostas
temerárias, de confronto e radicalização. Lembra muito o partido nos seus
tempos heroicos de oposição, vertical, duro, intransigente. A postura original
já denotava soberba: só o PT e os seus impolutos filiados e militantes tinham a
cara limpa para apresentar tal compromisso com práticas virtuosas na vida
pública, tal lisura de propósitos, a flor no lodo da política brasileira.
Como sabemos agora, isso valeu somente enquanto o partido
era de oposição. No poder, mancomunou-se com as oligarquias mais atrasadas,
afundou-se em lambanças como nunca antes neste país, e hoje, em desespero,
tenta demonstrar que no seu âmago ainda existe alguma lucidez e coerência.
Foi-se o tempo em que era estilingue. Agora, é vidraça onde todos atiram pedra.
Autocrítica, nas esquerdas, sempre foi um mea culpa de
dissidentes arrependidos, jamais dos comissários dirigentes, das cúpulas
partidárias. E no PT, apesar de todas as sombras que o envolvem, das dúvidas
sobre o seu futuro, das inquietações que agitam o partido, no mar de lama onde
chafurdam, não cogitam de renovar o programa, de reinventar suas práticas de
ação e atuação, ou de fazer um balanço honesto de sua experiência histórica,
até aqui.
Assim, o partido salta de um equívoco a outro, sem tempo
de refletir e tomar novo fôlego. Vejam o julgamento de Lula no TRF4. Os
petistas apostaram todas as fichas na tática de artilharia pesada contra a Polícia
Federal, o Ministério Público e a Justiça Federal, acusando-os de
“conspiração”, destinada a afastar Lula da sucessão presidencial. A cada
pesquisa que confirmava a maioria das intenções de voto para Lula, aumentava o
tom e a intensidade dos ataques, das proclamações injuriosas contra aquelas
instituições, e contra alguns dos seus membros mais destacados.
O PT, os seus “movimentos sociais”, têm uma fé cega no
poder das mobilizações de massa, para fazer valer sua “vontade política”, sua
visão de conjuntura e de mundo (embora quando as ruas são tomadas pelos
adversários, na paranoia comum do lulopetismo, se trata de uma manipulação das
massas pelas “elites”).
Na cegueira geral, não percebem que, nas suas
manifestações manjadas, feitas pelos mesmos e indefectíveis atores, do PT, da
CUT, do MST e quejandos, eles falam apenas entre si e para si, sem ganhar um só
adepto, sem colher com uma única e só assinatura de fora das suas hostes para
as suas demandas.
E dessa forma, atacando sempre, em ofensiva permanente e
exaltada, acreditando na magia das passeatas e manifestações, no poder do
berro, e às vezes de pneus queimados nas vias públicas, imaginavam que iriam
inibir os juízes do TRF4. Deu-se o previsível: além das razões que já detinham
aquelas autoridades, e para ficar patente e claro que não estavam intimidados,
confirmaram a condenação de Lula e aumentaram a pena. Não estavam dispostos a
permitir que prosperasse a jurisprudência de que a Justiça e a Lei devam se
subordinar ao alarido, às pesquisas de intenção de voto, ao clamor das ruas.
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