Um dia um pintor chamado Apeles resolveu, como era seu
costume, expor um quadro na frente de seu atelier para ouvir os comentários dos
transeuntes. Neste dia passou um sapateiro e observando o quadro constatou que
as chinelas do personagem representado não estavam pintadas corretamente.
O pintor ouviu o comentário do sapateiro e constatou que
o mesmo tinha razão. Ato contínuo, corrigiu o defeito da pintura e voltou a
expor o quadro no dia seguinte.
Acontece que o mesmo sapateiro passou novamente em frente
ao atelier e, vendo que sua crítica havia sido acatada, comentou em voz alta
que havia também um erro na pintura do casaco do personagem.
Saindo de trás do quadro, o pintor proferiu a frase
lapidar: “Não vá o sapateiro além das chinelas”.
Leio no noticiário de hoje que o general Mourão afirmou
que o aborto é uma questão pessoal da mulher. É ela que deve decidir se aborta
ou não.
Não quero opinar sobre o aborto, até mesmo porque este
não é o propósito deste meu comentário, e sim sobre a autoridade do general
Mourão para fazer julgamento sobre tema tão controverso neste momento.
O que sabe Mourão sobre aborto? Que autoridade tem para
tratar deste assunto?
Imagino que sobre estratégia de guerra o general possa
ser uma autoridade, mas sobre aborto? É pior do que o sapateiro querendo opinar
sobre o casaco. Completamente fora do contexto.
Algumas pessoas deste governo, e não só o Mourão, devem
passar a noite elucubrando sobre qual besteira irão se pronunciar no dia
seguinte.
O que se tem visto e ouvido de disparates proferidos por
Mourão, por alguns dos filhos do Bolsonaro, por jovens políticos do PSL e até
mesmo por alguns ministros chegam às raias do ridículo.
O que pretendem ganhar com isto? Holofotes? Só pode ser
isto. Parece que estão deslumbrados e, por ocuparem posições de destaque no
meio governamental, pensam que se transformaram em oráculos, cujos vaticínios
todo mundo quer ouvir.
Estão piores do que muitos artistas e jogadores de
futebol que não sentem a mínima vergonha em discutir temas políticos sobre os
quais não têm o menor conhecimento. É deprimente.
A liberação da posse de armas começou a me preocupar
porque estes neófitos do poder poderão fazer na prática o que fazem
verbalmente: dar tiro no pé. Nisto são experts.
Tá mais do que na hora do Bolsonaro dar um para-te-quieto
nestas bocas incontinentes sob pena de acabar denegrindo de vez a imagem do seu
governo, ainda muito promissor, mas já contaminado pelo besteirol que começa a
tomar conta da mídia e das redes sociais.
O autor é diretor da FJacques - Gestão através de Ideias
Atratoras, Porto Alegre, e autor do livro “Quando a empresa se torna Azul – O
poder das grandes Ideias”.
Contato com o autor:
http://www.fjacques.com.br - fabio@fjacques.com.br