Há menos de três semanas o ex-governador de São Paulo,
Geraldo Alckmin, presidenciável do PSDB, era carta fora do baralho na sucessão,
a julgar pelo noticiário da imprensa e pela análise dos comentaristas. O mais
que se dizia de Alckmin era que ele estava empacado nas pesquisas. E aqui e ali
aparecia uma nota que falava do desânimo dos seus apoiadores e das articulações
nada discretas, inclusive no âmbito do seu próprio partido, para substituí-lo
por um nome mais competitivo.
Alckmin, entretanto, com perfeito domínio de “timing” e
mais ainda dos nervos, seguiu a trajetória que se havia traçado. Era hora,
segundo ele, de conquistar aliados nos partidos, capazes de reforçar as
alianças nos estados e de aumentar o tempo de rádio e televisão na campanha.
Partia de um pressuposto mais do que óbvio: a campanha é no rádio e na
televisão. Não há mais comícios, showmícios, e carreatas não ganham votos, só
esgotam as energias do candidato.
Pouca gente, se é que existia, nos jornais, na televisão,
entretanto, lembrava desse fator vital na campanha: o poder do rádio e da tevê,
na hora decisiva, isto é, nos últimos dias em que boa parte do eleitorado toma
o rumo e faz sua escolha, antes de ir à urna.
Dizem que ele “jogou parado”. É lenda criada pelos
comentaristas políticos. Alckmin se movimentou e muito, fez incontáveis
reuniões, foi vencendo resistências e convencendo lideranças de partido após
partido.
Tinha diálogo fácil com todas as correntes, pois nunca
saiu por aí a desferir desaforos contra os adversários, como gosta de fazer
Ciro Gomes. Nem faz esse jogo fácil do PT, Marina Silva, Álvaro Dias e Jair
Bolsonaro, que criticam as alianças do tucano, com “a política velha”, “o
atraso”, o “centrão conservador”, as mesmas forças que eles não tiveram
capacidade de atrair para as suas candidaturas, inclusive as que estavam em
melhor posição nas pesquisas eleitorais.
De todo o modo, se é assim, se essas forças da aliança de
Alckmin são contaminadas, e delas, guiados pela ética e pela boa política, se
deve guardar distância, com quem pretendiam governar, se um deles fosse eleito?
A escolha de Ana Amélia Lemos para vice foi outra jogada
de mestre. Trata-se de um nome de ficha limpa, de uma senadora presente e
atuante. A candidata a vice encorpa a candidatura de Alckmin não apenas no Rio
Grande do Sul, onde tinha uma posição frágil, mas também nos estados produtores
do agronegócio, como Mato Grosso e Goiás, onde Ana Amélia, por sua atuação e
coerência, é merecidamente respeitada.
Ninguém é tolo de dizer agora que Alckmin vai ganhar.
Nunca se sabe direito o que está na cabeça do eleitor. As pesquisas são meras
projeções quantitativas da intenção de voto, num dado instante. Eleitor é
temperamental e volúvel. Os sentimentos coletivos, com frequência, se alinham
em certa direção, e aí nada pode mudá-los, como acontece com a água morro abaixo
e o fogo morro acima. Mas Alckmin agora está no páreo para valer, contrariando
todas as previsões dos “especialistas”, inclusive as que projetavam (ou torciam
para) o fim do ciclo de influência e poder dos tucanos.
titoguarniere@terra.com.br