Entrevista de Bia Doria

Bia Doria, a primeira-dama paulista, diz que a desistência do marido de disputar a Presidência, anunciada na manhã desta quinta-feira (31), foi um "grande alívio, a proteção da minha família".

"Quero meu marido de volta em casa. Ele tem que voltar para casa, preciso dele íntegro para cuidar da família, dos filhos. Nosso patrimônio está se dilapidando, nossa família estava sendo ameaçada, o povo joga bomba, joga coisas na nossa casa. Não sei de onde vem essa raiva de quem trabalha. Nós estamos sendo ameaçados de vida."

Bia afirma que não participou da tomada de decisão que abalou o mundo político e pode mudar os rumos da eleição presidencial.

"Ele refletiu sozinho, estava muito magoado com tudo, uma coisa estranha. E então dialogou conosco", ela diz, mas depois afirma ter incentivado a desistência. "Falei para ele terminar o mandato e voltar para a família, voltar para nós, o desgaste é insano."

Ela não quer, inclusive, que o marido volte para a vida política depois do atual mandato de governador. "Não quero mais um futuro político. Se depender de mim e dos filhos, política nunca mais."

Essa desilusão com a política se estende a todo o panorama atual. "O que está aí não me representa", diz Bia, acrescentando que votará em branco para o resto da vida. "O problema são os políticos velhos, enraizados, os políticos antigos que não aceitam novas ideias, uma nova liderança."

A primeira-dama não quis citar nomes de adversários políticos do marido, mas se ressente da forma como o governo João Doria foi avaliado. "Cadê o reconhecimento do povo paulista? Ele lutou pelas vacinas para salvar vidas, e os mercenários queriam que ficasse aberto o comércio."

Sobre o atual quadro político e o apoio à eleição de Bolsonaro em 2018, Bia Doria diz que ela e o marido sabiam "desde o início que Bolsonaro era uma loucura". "Nós votamos no Bolsonaro achando que poderia haver uma mudança, mas nunca mais.



Taxa de desemprego fica em 11,2%

 A taxa de desocupação no país atingiu 11,2% no trimestre móvel de dezembro de 2021 a fevereiro deste ano. O índice é inferior aos observados no trimestre findo em novembro (11,6%) e no trimestre encerrado em fevereiro do ano passado (14,6%).


O dado, da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), foi divulgado hoje (31) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).


A população desocupada também recuou e chegou a 12 milhões de pessoas no trimestre encerrado em fevereiro, 3,1% abaixo do trimestre anterior (encerrado em novembro), ou seja, 389 mil pessoas a menos. Na comparação com o mesmo trimestre do ano passado (encerrado em fevereiro de 2021), a queda foi de 19,5%, ou menos 2,9 milhões de pessoas.


A população ocupada (95,2 milhões) manteve-se estável em relação ao trimestre anterior, mas cresceu 9,1% na comparação com o mesmo trimestre do ano passado.

Governo Central registrou déficit primário de R$ 20,6 bilhões em fevereiro.

O resultado ficou abaixo do esperado (- R$ 16,2 bilhões). Essa divergência foi explicada principalmente, pelas despesas (que subiram 6,5% na comparação interanual, em termos reais): houve avanço dos gastos com abono salarial, despesas obrigatórias, incluindo despesa com o Auxílio Brasil, e despesas discricionárias, diante da base de comparação reduzida, já que o orçamento anual não havia sido aprovado em fevereiro de 2021, impedindo gastos maiores nessa rubrica no período. Do lado da receita líquida (alta de 14,8% ante mesmo período do ano passado, em termos reais), destaque para o recebimento de R$ 11 bilhões pela concessão de blocos de petróleo na segunda rodada de leilões da cessão onerosa, ocorrida em dezembro. Para o resultado do setor público consolidado do período, a ser divulgado em breve pelo Banco Central, também esperamos déficit primário, a despeito da contribuição positiva do resultado dos governos regionais.

Guilherme Baumhardt, Correio do Povo - Quem vai parar Alexandre de Moraes?

Há exageros, há excessos e, principalmente, há a ausência daquilo que deveria ser a marca da magistratura: o respeito à lei


Uma locomotiva sem freios, uma jamanta ladeira abaixo. Não parece haver limite para um dos ministros (uso a palavra por obrigação formal) do nosso Supremo Tribunal Federal. Alexandre de Moraes, pelas suas decisões recentes, em quase nada lembra um ministro. Não há moderação, não há ponderação, não há respeito aos limites de atuação de um integrante do STF - o inquérito aberto de ofício é o maior exemplo. Há exageros, há excessos e, principalmente, há a ausência daquilo que deveria ser a marca da magistratura: o respeito à lei.


É possível que eu já tenha expressado aqui o que estará nas próximas linhas (a culpa pela repetição não é minha, é do Alexandre): pelo deputado federal Daniel Silveira não nutro simpatia e não endosso algumas das bandeiras que ele defende. Mas ele foi eleito. E, especialmente no caso envolvendo a Suprema Corte, passo a ter uma admiração pela sua postura, por dizer o que precisa ser dito e por expor ao ridículo a decisão de submetê-lo a uma tornozeleira eletrônica. E o que ele disse?


Para um jornalismo que só enxerga radicalismo na direita e que é incapaz de escrever “extrema-esquerda”, para uma imprensa que morre de medo do “ditador Bolsonaro” – que só ela vislumbra – e que fecha os olhos para os arroubos do STF, Daniel deu uma aula (ou seria chinelada?): “Vocês fazem ideia do que está acontecendo? O ministro Alexandre de Moraes já desbordou todas as legalidades constitucionais e tem a mídia aplaudindo isso. Vocês não vão acordar, não? Vocês não estão vendo que é o único ministro que está fazendo um bando de atrocidades jurídicas, que qualquer aluno do primeiro período de Direito sabe que está errado? E vocês estão aplaudindo. Vocês sabem o que vai acontecer daqui dez anos se houver uma escalada por uma única pessoa da Corte?”.



Daniel Silveira tem imunidade parlamentar, o que dá a ele uma condição especial na hora de falar, de se manifestar. A lei confere isso aos deputados e senadores. Salvo alguma informação que não tenha vindo a público ainda, ele não fez absolutamente nada que justificasse prisão ou uso de tornozeleira. Daniel disse o que pensa, teceu críticas ao que faz o Supremo. Críticas duras, sim. Mas a vida não é um mar de rosas. Como o vitimismo barato tomou conta do país, não é preciso muito para que uma “crítica” seja transformada em “ataque”. E se é uma crítica a um dos poderes constituídos, mesmo que venha de um parlamentar, ela está a um passo de virar um “ataque à democracia”. Coisa de quem nunca assistiu a um debate no parlamento britânico ou viu o trabalho de uma comissão do Senado dos Estados Unidos. Não colocar Merthiolate em joelho ralado de moleque dá nisso. Criamos a geração "palavras machucam".



As decisões de Alexandre de Moraes contra o deputado, além de não encontrarem respaldo legal, escancaram um Supremo Tribunal Federal que é feroz na hora de amordaçar aqueles que lhe são críticos, mas é incapaz de punir gente com colarinho branco e longa ficha de serviços pouco republicanos prestados. Contra Renan Calheiros adormecem perdidos em gavetas do STF processos que poderiam resultar, quem sabe, na sua inelegibilidade. E Lula? Condenado em primeira, segunda e terceira instâncias (STJ), eu pergunto: quais foram os arautos que viram uma injustiça contra a alma mais honesta do Brasil?



Ministro das Suprema Corte podem muito, mas não podem tudo. Quem vai parar Alexandre de Moraes? A tarefa cabe ao Senado, mas por lá poucos se manifestam – uma das raras exceções é o gaúcho Lasier Martins, quase um cavaleiro solitário na tarefa de questionar os exageros do STF e de seus ministros.