O programa Primeira Infância Melhor (PIM), coordenado
pela Secretaria da Saúde do RS, promove na próxima segunda-feira o XIII
Seminário Internacional da Primeira Infância, na Casa de Música da Ospa (Av.
Borges de Medeiros, 1501). O tema desta edição é “A promoção de direitos na
primeira infância”. O evento se inicia com solenidade de abertura, às 9h, e
segue com palestras, roda de conversa e apresentações culturais até às 17h. Concomitante ao seminário, também ocorrerão o VII
Encontro Estadual de Visitadores e a entrega do IX Prêmio Salvador Celia. A
programação integra a Semana Estadual do Bebê, comemorado entre 23 e 29 de
novembro.
Discurso de Lula
“Companheiras
e companheiros do PT,
Convidados de todo o Brasil e de outros países,
Minhas amigas, meus amigos,
Esperei muito tempo para poder falar livremente ao povo
brasileiro. Esse dia finalmente chegou, e minha primeira palavra tem de ser de
agradecimento, pela solidariedade, pelo carinho e pelas manifestações de quem
não desistiu de lutar e vai continuar lutando pela verdadeira justiça.
Durante 580 dias fui isolado da família, dos amigos e
companheiros, apartado do povo, mesmo tendo o direito constitucional de
recorrer em liberdade contra a sentença injusta e fraudulenta de um juiz
parcial. Um direito que somente agora foi proclamado pelo Supremo Tribunal
Federal, para todos, sem exceção.
Com as armas da verdade e da lei, continuarei lutando
para que os tribunais reconheçam, agora, que fui condenado por quem sequer
poderia ter me julgado: um ex-juiz que atuou fora da lei, grampeou advogados,
mentiu ao país e aos tribunais, antes de desnudar seus objetivos políticos.
Lutarei para que seja anulada a sentença e me deem o julgamento justo que não
tive.
Aos 74 anos de idade, não tenho no coração lugar para
ódio e rancor. Mas quem nesse país já sofreu a humilhação de uma acusação
falsa, por causa da cor de sua pele ou por sua origem social humilde, conhece o
peso do preconceito e é capaz de sentir o quanto fui ferido em minha dignidade.
E isso não se apaga.
Nada nem ninguém vai devolver o pedaço arrancado da minha
existência, mas quero dizer que aproveitei esses 580 dias para ler, estudar,
refletir e reforçar meu compromisso com o Brasil e com nosso povo sofrido.
Voltei com muita vontade de falar sobre o presente e principalmente sobre o
futuro do Brasil.
Mas logo depois da minha primeira fala, de volta ao
sindicato onde passei o último momento de liberdade, disseram que eu deveria
ter cuidado para não polarizar o país. Que seria melhor calar certas verdades
para não tumultuar o ambiente político, para o PT não provocar uma ameaça à
democracia.
Vamos deixar uma coisa bem clara: se existe um partido
identificado com a democracia no Brasil é o Partido dos Trabalhadores. O PT
nasceu lutando pela liberdade durante a ditadura. Não tentem negar essa verdade
porque nós apanhamos da repressão, fomos perseguidos, presos e enquadrados na
Lei de Segurança Nacional por defender essa ideia.
Desde que foi criado, há quase 40 anos, o PT disputou
dentro da lei e pacificamente todas as eleições neste país. Quando perdemos,
aceitamos o resultado e fizemos oposição, como determinaram as urnas. Quando
vencemos, governamos com diálogo social, participação popular e respeito às
instituições.
Outros partidos mudaram as regras da reeleição em
benefício próprio. Nós rejeitamos essa ideia, mesmo gozando de uma aprovação
que nenhum outro governo jamais teve, porque sempre entendemos que não se pode
brincar com a democracia.
Não fomos nós que falamos em fechar o Congresso, muito
menos o Supremo, com um cabo e um soldado. Em nossos governos, as Forças
Armadas foram respeitadas e os chefes militares respeitaram as instituições,
cumprindo estritamente o papel que a Constituição lhes reserva. Nenhum general
deu murro na mesa nem esbravejou contra líderes políticos.
Não fomos nós que pedimos anulação do pleito só para
desgastar o partido vencedor; que sabotamos a economia do país para forçar um
impeachment sem crime; que sustentamos uma farsa judicial e midiática para
tirar do páreo o candidato líder nas pesquisas.
Não fomos nós os responsáveis, ativos ou omissos, pela
eleição de um candidato que tem ojeriza à democracia; que foi poupado de
enfrentar o debate de propostas, que montou uma indústria de mentiras com
dinheiro sujo, sob a complacência da mesma Justiça Eleitoral que, desacatando
uma decisão da ONU, cassou o candidato que poderia derrotá-lo.
São essas pessoas que agora nos dizem para não polarizar
o país. Como se polarização fosse sinônimo de extremismo político e ideológico.
Como se o Brasil já não estivesse há séculos polarizado entre os poucos que têm
tudo e os muitos que nada têm. Como se fosse possível não se opor a um governo
de destruição do país, dos direitos, da liberdade e até da civilização.
Aos que criticam ou temem a polarização, temos que ter a
coragem de dizer: nós somos, sim, o oposto de Bolsonaro. Não dá para ficar em
cima do muro ou no meio do caminho: somos e seremos oposição a esse governo de
extrema-direita que gera desemprego e exige que os desempregados paguem a
conta.
Somos e seremos oposição a um governo que rasga direitos
dos trabalhadores e reduz o valor real do salário mínimo. Que aumenta a extrema
pobreza e traz de volta o flagelo da fome. Que destrói o meio ambiente. Que
ataca mulheres, negros, indígenas e a população LGBT; ataca qualquer um que
ouse discordar.
Somos, sim, radicais na defesa da soberania nacional, da
universidade pública e gratuita, do Sistema Único de Saúde, público, gratuito e
universal. Nós não somos meia oposição; somos oposição e meia aos inimigos da
educação, da cultura, da ciência e da tecnologia. Nós não aceitamos mais
censura, tortura, AI-5 e perseguição a adversários políticos.
Andam negando essa verdade científica, mas a Terra é
redonda e nós estamos, sim, em polos opostos: enquanto eles semeiam o ódio, nós
vamos mostrar a eles o que o amor é capaz de fazer por este país.
Companheiras e companheiros,
Já foi dito que o PT nasceu para mudar o Brasil. E mudou.
Porque trazemos na origem o compromisso com os trabalhadores, com os mais
pobres, com os que carregaram ao longo de séculos o peso da exclusão e da
desigualdade. Porque pela primeira vez fizemos um governo para todos os
brasileiros e brasileiras, e isso fez toda a diferença em nosso país.
Se fosse para governar apenas para uma parte da
população, o Brasil não precisaria do PT.
Para o mercado decidir quem pode e quem não pode se aposentar,
quanto vai custar o gás de cozinha, o combustível, a energia elétrica, visando
somente o lucro, o Brasil não precisaria do PT.
Se fosse para entregar ao estrangeiro as riquezas
naturais, o petróleo, as águas, as empresas que o povo brasileiro construiu, o
Brasil não precisaria do PT.
Se fosse para queimar a floresta, envenenar a comida com
agrotóxicos, deixar impunes crimes como os de Marielle, Mariana, Brumadinho,
ignorar desastres como o óleo no litoral do Nordeste, quem precisaria do PT?
Para o filho do rico estudar nas melhores universidades
do mundo e o filho do trabalhador ter de largar a escola pra sustentar a
família, o Brasil não precisaria do PT.
Se é para alguns terem mansão em Miami e muitos viverem
debaixo do viaduto; para o rico ficar isento até do imposto de herança e o
trabalhador carregar o peso do imposto de renda, o Brasil não precisaria do PT.
Para manter a mais escandalosa concentração de renda do
planeta Terra, para o rico continuar cada vez mais rico e o pobre ficar cada
dia mais pobre, aí mesmo é que o Brasil não precisaria do PT.
Porque o maior inimigo do Brasil hoje e desde sempre é a
desigualdade, esse vergonhoso fosso em que 1% da população detém 30% da renda
nacional e para a metade mais pobre sobram 17%, as migalhas de um banquete
indecente.
Mas se este país quer superar a chaga imensa da
desigualdade, recuperar a soberania e o seu lugar no mundo, se quer voltar a
crescer em benefício de todos os brasileiros e brasileiras, o Partido dos
Trabalhadores é mais do que necessário: ele é imprescindível.
Esta é a enorme responsabilidade que estamos recebendo. O
Brasil nunca precisou tanto do PT. E o PT tem de ser grande o bastante para
corresponder ao que o país espera de nós. Tem de estar unido, forte e cada vez
mais conectado com o povo brasileiro.
Temos a responsabilidade de renovar o partido,
compreender o que mudou na sociedade brasileira nesses 40 anos e buscar as
respostas para os novos desafios. Fomos forjados na luta em defesa da classe
trabalhadora.
O peso da injustiça recai hoje sobre os motoristas de
aplicativos, os jovens que perdem a saúde e arriscam a vida fazendo entregas em
motos, bicicletas, ou mesmo a pé. Os que não têm a quem recorrer por seus
direitos, porque a única relação de trabalho que conhecem não é a carteira
profissional, mas um telefone celular que ele precisa recarregar
desesperadamente.
Esse é o lugar que resta aos deserdados de um modelo
neoliberal excludente, cada vez mais desumano. Um mundo em que o mercado é deus
e em que a solidariedade deixa de ser um valor universal, substituída por uma
competição individualista feroz.
É com esse mundo novo que o PT precisa dialogar, sem
abrir mão de nossos compromissos históricos, mantendo os pés firmes no presente
e mirando sempre o futuro. Se as formas de exploração mudaram, a injustiça e a
desigualdade permanecem e são cada vez mais cruéis. Temos de estar mais
organizados, mais fortes, conscientes e mais decididos do que nunca a construir
um país mais generoso, solidário e mais justo. É por isso que o Brasil precisa
tanto do PT.
Companheiras e companheiros,
Salvar o país da destruição e do caos social que este
governo está produzindo não é tarefa para um único partido. Fomos eleitos e
governamos em aliança com outras forças do campo popular e democrático. Por
mais que tentem nos isolar, estamos juntos na oposição com partidos da
centro-esquerda e estamos com os movimentos sociais, as centrais sindicais e
importantes lideranças da sociedade.
Embora tantos tenham cometido erros antes e depois dos
nossos governos, é somente do PT que exigem a autocrítica que fazemos todos os
dias. Na verdade, querem de nós um humilhante ato de contrição, como se
tivéssemos de pedir perdão por continuar existindo no coração do povo
brasileiro, apesar de tudo que fizeram para nos destruir. Preciso dizer algumas verdades sobre isso.
O maior erro que nós cometemos foi não ter feito mais e
melhor, de uma forma tão contundente que jamais fosse possível esse país voltar
a ser governado contra o povo, contra os interesses nacionais, contra a
liberdade e a democracia, como está sendo hoje.
Deveríamos ter feito mais universidades do que fizemos,
mais reforma agrária, mais Luz Pra Todos, mais Minha Casa Minha Vida, mais
Bolsa Família e mais investimento público.
Teríamos de ter conversado muito mais com o povo e com os
trabalhadores, conversado mais com os jovens que não viveram o tempo em que o
Brasil era governado para poucos e não para todos.
Também tínhamos de ter trabalhado muito mais para
democratizar o acesso à informação e aos meios de comunicação, apoiado mais as
rádios comunitárias, fortalecido mais a televisão pública, a imprensa regional,
o jornalismo independente na internet.
Antes que a Rede Globo me acuse outra vez pelo que não
disse nem fiz, não ousem me comparar ao presidente que eles escolheram. Jamais
ameacei e jamais ameaçaria cassar arbitrariamente uma concessão de TV, mesmo
sendo atacado sem direito de resposta e censurado como sou pelo jornalismo da
Globo.
Eu sempre disse que jamais teria chegado onde cheguei se
não tivesse lutado pela liberdade de imprensa. Hoje entendo, com muita
convicção, que liberdade de imprensa tem de ser um direito de todos, não pode
ser privilégio de alguns.
Não pode um grupo familiar decidir sozinho o que é
notícia e o que não é, com base unicamente em seus interesses políticos e
econômicos.
Entendo que democratizar a comunicação não é fechar uma
TV, é abrir muitas. É fazer a regulação constitucional que está parada há 31
anos, à espera de um momento de coragem do Congresso Nacional. É fazer cumprir
a lei do direito de resposta. E é principalmente abrir mais escolas e
universidades, levar mais informação e consciência para que as pessoas se
libertem do monopólio.
Enfim, penso que teríamos de ter lutado com mais vontade
e organização, fortalecido ainda mais a democracia, para jamais permitir que o
Brasil voltasse a ter um governo de destruição e de exclusão social como voltou
a ter desde o golpe de 2016.
A autocrítica que o Brasil espera é a dos que apoiaram,
nos últimos três anos, a implantação do projeto neoliberal que não deu certo em
lugar nenhum do mundo, que vai destruir a previdência pública e que ao invés de
gerar os empregos que o povo precisa está implantando novas formas de
exploração.
A autocrítica que a democracia e o estado de direito
esperam é daqueles que, na mídia, no Congresso, em setores do Judiciário e do
Ministério Público, promoveram, em nome da ética, a maior farsa judicial que
este país já assistiu.
O mundo hoje sabe que, ao contrário de combater a
impunidade e a corrupção, a Lava Jato corrompeu-se e corrompeu o processo
eleitoral e uma parte do sistema judicial brasileiro. Deixou impunes dezenas de
criminosos confessos que Sérgio Moro perdoou e que continuam muito ricos.
Como podem dizer que combateram a impunidade se soltaram
pelo menos 130 dos 159 réus que ele mesmo havia condenado? Negociaram todo tipo
de benefício com criminosos confessos, venderam até o perdão de pena que a lei
não prevê, em troca de qualquer palavra que servisse para prejudicar o Lula.
Que ética é essa que condena 2 milhões de trabalhadores,
sem apelação, destruindo empresas para salvar os patrões acusados de corrupção?
Não tem moral, não tem autoridade para discutir ética
quem deu cobertura aos procuradores de Deltan Dallagnol e Rodrigo Janot quando
eles entregaram a Petrobrás aos tribunais dos Estados Unidos, um crime de
lesa-pátria que já custou quase 5 bilhões de dólares ao povo brasileiro.
Temos muito o que falar sobre ética, sobre combate à
corrupção e à impunidade. Mas acima de tudo temos que falar a verdade.
Meus amigos e minhas amigas,
Alguns professores de deus defendem um modelo suicida de
austeridade fiscal e redução do estado, que não deu certo em nenhum lugar do
mundo. Tiveram o apoio da mídia e das instituições para culpar os governos do
PT por tudo de ruim que havia no Brasil. Mentiram que tirando o PT do governo
tudo se resolveria, por obra do mercado e do ajuste fiscal. E os problemas se
agravaram ainda mais.
Os indicadores econômicos do Brasil pioraram: a balança
comercial em queda, a economia paralisada, setores da indústria destruídos, o
investimento público e privado inexistente, o rombo nas contas aumentado
irresponsavelmente por razões políticas. O custo de vida dos pobres aumentou e
as pessoas voltaram a cozinhar com lenha porque não podem comprar um botijão de
gás.
É preciso dizer umas verdades sobre isso também.
A primeira delas é que o Brasil só não quebrou ainda por
causa da herança dos governos do PT. Por causa dos 370 bilhões de dólares em
reservas internacionais que acumulamos e querem queimar na conta dos juros. Por
causa dos mercados internacionais que abrimos e que uma política externa
irresponsável está fechando. Por causa do pré-sal que descobrimos e que estão
vendendo na bacia das almas.
O Brasil só não está passando por uma convulsão social
extrema por causa da herança dos governos do PT. Porque não conseguiram acabar
com o Bolsa Família, último recurso de milhões de deserdados. Porque milhões de
famílias ainda produzem no campo, para onde levamos água, energia, tecnologia e
recursos em nosso governo. E também porque não conseguiram destruir ainda os sistemas
públicos de saúde, educação e segurança, mas fatalmente isso irá ocorrer pela
criminosa política de cortes do investimento público.
Sempre acreditei que o povo brasileiro é capaz de
construir uma grande Nação, à altura dos nossos sonhos, das nossas imensas
riquezas naturais e humanas, neste lugar privilegiado em que vivemos. Já
provamos que é possível enfrentar o atraso, a pobreza e a desigualdade,
desafiando poderosos interesses contrários ao país e ao povo.
Soberania significa independência, autonomia, liberdade.
O contrário é dependência, servidão, submissão. É o que está acontecendo hoje.
Estão entregando criminosamente a outros países as empresas, os bancos, o
petróleo, os minerais e o patrimônio que pertence ao povo brasileiro. Trair a
soberania é o maior crime que um governo pode cometer contra seu país e seu
povo.
A Petrobrás está sendo vendida em fatias a suas
concorrentes estrangeiras.
Fiquem alertas os que estão se aproveitando dessa farra
de entreguismo e privatização predatória, porque não vai durar para sempre. O
povo brasileiro há de encontrar os meios de recuperar aquilo que lhe pertence.
E saberá cobrar os crimes dos que estão traindo, entregando e destruindo o
país.
Tão importante quanto defender o patrimônio público
ameaçado é preservar os recursos naturais e nossa riquíssima biodiversidade.
Utilizar esse patrimônio, fonte de vida, com responsabilidade social e
ambiental.
Um país que não garante educação pública de qualidade a
todas as suas crianças, adolescentes e jovens não se prepara para o futuro.
Mas parece que enfiaram o Brasil à força numa máquina do
tempo e nos enviaram de volta a um passado que a gente já tinha superado. O
passado da escravidão, da fome, do desemprego em massa, da dependência externa,
da censura, do obscurantismo.
O Brasil precisa embarcar de volta para o futuro. E não
tem ninguém melhor para pilotar essa máquina do tempo do que a juventude desse
país. Porque essa juventude, seja ela branca, negra ou indígena, ela quer
ensino de qualidade, quer adquirir conhecimento, quer de volta as oportunidades
de trabalho digno, sem alienação e sem humilhações.
Essa juventude quer e merece um mundo melhor do que este
em que estamos vivendo.
Hoje me coloco à disposição do Brasil para contribuir
nessa travessia para uma vida melhor, vida em plenitude, especialmente para os
que não podem ser abandonados pelo caminho.
Sem ódio nem rancor, que nada constroem, mas consciente
de que o povo brasileiro quer retomar a construção de seu destino; de que temos
de fazer juntos um Brasil soberano, democrático, justo, em que todos e todas
tenham oportunidades iguais de crescer e sonhar.
O futuro será nosso, o futuro será do Brasil!
Muito Obrigado!
Luiz Inácio Lula da Silva”
Artigo, Astor Wartchow - Pequenos municípios
- Advogado.
Algumas
evidências a favor de emancipações são incontestáveis. Por exemplo, quanto
maior a distância geográfica entre a sede e seus distritos, igualmente
inexpressivos são as decisões, os orçamentos e investimentos que lhes
favoreçam.
Com o agravamento
do êxodo rural ocorre outro fator desfavorável aos distritos: a perda e/ou
redução da representação na Câmara Municipal. Há inúmeros bairros na cidade que
tem o dobro dos eleitores dos distritos.
O centralismo
político-tributário é dominante e atrasa o desenvolvimento local e nacional.
Não há como prosperar. Aliás, não à toa que vigora o autoritarismo (legal), o
desperdício e a corrupção.
Então,
onde estão os obstáculos e as críticas aos pequenos municípios? Concentram-se
nos excessos que resultam da organização burocrática e legal. Especialmente na
constituição e funcionamento da Prefeitura e da Câmara de Vereadores.
Neste
sentido, defendo a criação de um novo ente federativo. Nova nomenclatura e
formatação legal e constitucional. Comunidades autônomas! Representadas por
conselheiros sem remuneração (com pequena ajuda de custo por reunião), com
poderes de deliberar, gerenciar e contratar serviços. Inclusive, um
gerente!
Ou
seja, não haveria Câmara de Vereadores. Nem prefeito. E nem Prefeitura, no
máximo um escritório. Necessidades locais (saúde, educação, segurança e obras)
seriam contratadas através de licitações, terceirizações, concessões e
consórcios regionais.
Controle
e contabilização de despesas e receitas (próprias e repasses constitucionais
estaduais e federais) contariam com auxílio de departamento anexo à Secretaria
da Fazenda do Estado.
Na
justificativa governamental (para extinção de pequenos municípios) há
injustiças conceituais. Receitas próprias como IPTU, ITBI e ISS são de difícil
realização mesmo em municípios médios, que dirá em pequenos, de raras
indústrias e alguns prestadores de serviços. E onde predominam os produtos
rurais, de pouco valor agregado, consequentemente de baixa contribuição
tributária.
Também
exagera ao não reconhecer como receitas próprias os valores repassados a titulo
de IR e IPI (transferências constitucionais obrigatórias). Direta e
indiretamente, estas populações também contribuem na arrecadação destes e
outros tributos (como o ICMS).
Ainda que
de repasses desproporcionais e extremamente favoráveis aos pequenos municípios,
não reconhecer estes créditos seria como afirmar que seus cidadãos nada
produzem e nada consomem.
O
excesso de burocracia e intervenção estatal nos pequenos municípios deve ser
minimizado, com certeza, mas sem prejuízo aos direitos pessoais e comunitários!
TRF4 mantém condenação de empresário Mariano Marcondes Ferraz
A 4ª Seção do Tribunal Regional Federal da 4ª Região
(TRF4) negou o recurso de embargos infringentes e de nulidade do
empresário Mariano Marcondes Ferraz, representante executivo da Decall Brasil
LTDA, que foi condenado em ação penal no âmbito da Operação Lava Jato. Foi
mantida a pena de 9 anos e 7 meses de reclusão, em regime inicial fechado, pela
prática dos crimes de corrupção ativa e de lavagem de dinheiro. A decisão foi
proferida por unanimidade.
Ferraz foi denunciado pelo Ministério Público Federal
(MPF) em janeiro de 2017 após investigações deflagradas pela Polícia Federal
(PF). Segundo a acusação, o réu ofereceu e pagou vantagens indevidas ao
ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, em razão dos
contratos firmados entre a Decall Brasil e a estatal no ano de 2006, com
aditivos em 2007 e 2009 e vigentes até 2012.
Os acordos tinham por objetivo renovar, com reajuste de
preços, a prestação de serviços de armazenagem e acostagem de navios de granéis
líquidos, em instalações portuárias localizadas no Porto de Suape em
Pernambuco.
Os pagamentos de propina ocorreram entre 19/05/2011 e
21/02/2014, totalizando pelo menos 868.400,00 dólares mediante oito
transferências bancárias internacionais feitas pelo réu em favor de Costa.
No esquema foram usadas uma conta pessoal de Ferraz e
contas empresariais das offshores TIK Trading, Firma Invest e Firma Part,
controladas por ele no exterior. Os valores foram transferidos para uma conta
da offshore Ost Invest & Finance Inc, cujo procurador era Humberto
Mesquita, genro de Costa, a quem a conta bancária pertencia de fato.
O juízo da 13ª Vara Federal de Curitiba recebeu a
denúncia e, em março de 2018, sentenciou o executivo a 10 anos e 4 meses de
reclusão pelos delitos de corrupção ativa e de lavagem de dinheiro.
Ele recorreu da decisão ao TRF4.
A 8ª Turma da corte julgou, em abril deste ano, a
apelação criminal e, por maioria, manteve a condenação de Ferraz pelos mesmos
crimes, apenas diminuindo o tempo de pena para 9 anos e 7 meses de reclusão, em
regime inicial fechado.
Como o acórdão não foi unânime, o réu pode impetrar o
recurso de embargos infringentes e de nulidade requisitando à 4ª Seção, órgão
colegiado formado pela 7ª e 8ª Turmas, a prevalência do voto menos gravoso
proferido no julgamento da apelação.
A defesa requereu a reforma do acórdão para que
prevalecesse o entendimento apresentado no voto vencido do desembargador
federal Victor Luiz dos Santos Laus, que o absolveu da denúncia de prática do
crime de lavagem de capitais.
A 4ª Seção, de forma unânime, negou provimento aos
embargos, mantendo inalterada a condenação imposta pela 8ª Turma.
Para a relatora do recurso, desembargadora federal
Cláudia Cristina Cristofani, “verifica-se que todos os valores ilícitos
decorrentes da prática dos crimes de corrupção eram depositados pelo réu na
conta da offshore Ost Invest & Finance Inc, de propriedade de Humberto
Mesquita, em proveito de Paulo Roberto Costa, com o objetivo de ocultar o
verdadeiro beneficiário do dinheiro. Nota-se, então, que o conjunto de atos de
pagamento de propina consiste, em suma, no depósito de valores prometidos pelo
corruptor, em contas bancárias de pessoa interposta e propositalmente
desvinculadas de real beneficiário. Esse era o método utilizado para a
ocultação ou dissimulação do dinheiro recebido, proveniente do crime de
corrupção passiva, que gerou o capital ilícito da lavagem de dinheiro”.
Ao negar o recurso, a magistrada ressaltou que “agindo no
sentido de contribuir para a efetividade do estratagema criminoso, no sentido
de ocultar a origem e a propriedade do produto do crime, seja ao providenciar o
depósito na conta da offshore Ost Invest & Finance Inc, seja ao utilizar as
contas empresariais das offshores TIK Trading, Firma Invest e Firma Part, como
fonte da transferência dos recursos, não há como negar a ciência, o
assentimento e a responsabilidade do embargante quanto à prática do delito. Por
essas razões, concluo que deve prevalecer o voto proferido pelo desembargador
federal João Pedro Gebran Neto no julgamento da 8ª Turma”.
STJ divulga 11 teses da corte sobre direitos de personalidade
A reportagem é do site Consultor Jurídico.
A pretensão de reconhecimento de ofensa a direito da
personalidade é imprescritível. Essa é uma das 11 teses consolidadas no
Superior Tribunal de Justiça destacada na nova edição da ferramenta
Jurisprudência em Teses, que trata dos direitos de personalidade.
Outra tese definida pelo STJ sobre o tema estabelece que
a tutela da dignidade da pessoa humana na sociedade da informação inclui o
direito ao esquecimento, ou seja, o direito de não ser lembrado contra sua
vontade, especificamente no tocante a fatos desabonadores da honra.
A ferramenta apresenta entendimentos do STJ sobre
temas específicos, indicando os precedentes mais recentes até a data
de especificada no documento.
Leia as 11 teses selecionadas:
1) O exercício dos direitos da personalidade pode sofrer
limitação voluntária, desde que não seja permanente nem geral. (Enunciado 4 da
I Jornada de Direito Civil do CJF)
2) A pretensão de reconhecimento de ofensa a direito da
personalidade é imprescritível.
3) A ampla liberdade de informação, opinião e crítica
jornalística reconhecida constitucionalmente à imprensa não é um direito
absoluto, encontrando limitações, tais como a preservação dos direitos da
personalidade.
4) No tocante às pessoas públicas, apesar de o grau de
resguardo e de tutela da imagem não ter a mesma extensão daquela conferida aos
particulares, já que comprometidos com a publicidade, restará configurado o
abuso do direito de uso da imagem quando se constatar a vulneração da
intimidade ou da vida privada.
5) Independe de prova do prejuízo a indenização pela
publicação não autorizada de imagem de pessoa com fins econômicos ou
comerciais. (Súmula 403/STJ)
6) A divulgação de fotografia em periódico (impresso ou
digital) para ilustrar matéria acerca de manifestação popular de cunho
político-ideológico ocorrida em local público não tem intuito econômico ou
comercial, mas tão-somente informativo, ainda que se trate de sociedade
empresária, não sendo o caso de aplicação da Súmula 403/STJ.
7) A publicidade que divulgar, sem autorização,
qualidades inerentes a determinada pessoa, ainda que sem mencionar seu nome,
mas sendo capaz de identificá-la, constitui violação a direito da
personalidade. (Enunciado 278 da IV Jornada de Direito Civil do CJF)
8) O uso e a divulgação, por sociedade empresária, de
imagem de pessoa física fotografada isoladamente em local público, em meio a
cenário destacado, sem nenhuma conotação ofensiva ou vexaminosa, configura dano
moral decorrente de violação do direito à imagem por ausência de autorização do
titular.
9) O uso não autorizado da imagem de menores de idade
gera dano moral in re ipsa.
10) A tutela da dignidade da pessoa humana na sociedade
da informação inclui o direito ao esquecimento, ou seja, o direito de não ser
lembrado contra sua vontade, especificamente no tocante a fatos desabonadores à
honra. (Vide Enunciado 531 da IV Jornada de Direito Civil do CJF)
11) Quando os registros da folha de antecedentes do réu
são muito antigos, admite-se o afastamento de sua análise desfavorável, em
aplicação à teoria do direito ao esquecimento.
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