Artigo, Astor Wartchow - Fazendas lá, florestas aqui


- O autor é advogado, RS.

                A intromissão estrangeira em assuntos relacionados à região amazônica, especialmente no que tange à “Amazônia brasileira”, tem alternado  questionamentos educados com desrespeitosos. Afinal, parece provocação cobrar o recém instalado governo acerca do desmatamento, uma histórica, continuada e preocupante prática local.
                O presidente Bolsonaro não reúne as qualidades retóricas e técnicas para este debate, mas não reagiu errado ao reafirmar que a “Amazônia é nossa”. Aliás, região que abrange diversas e importantes razoes locais e suspeitos interesses internacionais.
                É famoso o discurso do então senador Cristovam Buarque - durante um debate nos Estados Unidos (2000) - quando foi questionado sobre a hipótese de internacionalização da Amazônia. O autor da pergunta acrescentou que esperava a resposta de um humanista e não de um brasileiro.
                Disse Cristovam: "De fato, como brasileiro eu falaria contra a internacionalização da Amazônia. Por mais que nossos governos não tenham o devido cuidado com esse patrimônio, ele é nosso”.
                E passou a enumerar exemplos negativos de outras nações cujo fim também poderiam ser internacionalizados (especulação financeira, bombas nucleares, pobreza e fome), e encerrou dizendo:
                “Como humanista, aceito defender a internacionalização do mundo.
Mas, enquanto o mundo me tratar como brasileiro, lutarei para que a Amazônia seja nossa!”
                Sobre ocupação do solo e preservação ambiental brasileira recomendo olhar um vídeo-palestra do pesquisador da Embrapa Territorial, Evaristo de Miranda (vá em https://www.youtube.com/watch?v=oDixTvtEsx8). Imperdível!
                Leia também uma reportagem da Folha de São Paulo, do dia 21 de junho de 2010, que reproduz um relatório norte-americano nominado “Farms here, forests there”. Traduzido, significa o seguinte: Fazendas aqui (nos EUA), florestas lá (no Brasil)!
                Em resumo.“Estudo diz que americano pode ganhar até US$ 270 bi em 2030 com queda no desmatamento. O argumento é que a maior proteção às florestas prejudicará a produção de carne, soja, dendê e madeira em países como o Brasil. Isso levaria a um aumento dos preços e à abertura de um buraco na oferta, que seria preenchido pelos EUA.
                 Eliminar o desmatamento até 2030 limitará a receita para a expansão agrícola e para a atividade madeireira nos países tropicais, nivelando o campo de jogo para os produtores americanos no mercado global de commodities.
                O estudo corrobora a visão de que a conservação ambiental é uma desculpa dos países desenvolvidos para impor barreiras à agricultura do Brasil, mais competitiva.”           Entendeu o jogo, caro leitor?
                Recado ao presidente: desista da indicação do filho para a embaixada nos Estados Unidos.  Política externa é para profissionais.  Países não têm amigos; países tem interesses!


Estratégia do governo quanto ao meio ambiente


Se em algumas áreas o governo encontra resistência do Congresso para promover mudanças na linha ideológica adotada em governos anteriores, na gestão da política ambiental a nova abordagem avança sem muito atrito.

A bancada "verde" do Congresso não conseguiu demarcar território, ainda mais se comparada à atuação das frentes parlamentares ligadas à defesa dos interesses da indústria e da agropecuária.

Junta-se a esse quadro a estratégia do governo, baseada em um discurso enfático e ações em várias áreas para mudar a política ambiental.

Desde janeiro, o governo modificou toda a gestão do Ibama, criando outro enfoque para a fiscalização; reduziu o papel do Instituto Chico Mendes; paralisou o Fundo Amazônia; limitou a participação social nas políticas ambientais; e desacreditou os dados produzidos pelo Inpe sobre o desmatamento da floresta amazônica; entre outas ações.

E o presidente Jair Bolsonaro já transmite outra mensagem para a comunidade internacional.

Em todos os fóruns internacionais e entrevistas em que tratou do tema, ele tem sido enfático: o Brasil tem o que ensinar ao mundo sobre meio ambiente e as bases de negociações dos governos passados não estão mais disponíveis.

Um exemplo recente da nova abordagem internacional foi o envio de representante diplomático à Conferência Internacional sobre Mudança do Clima, organizada pelo The Heratland Institute.

A entidade reúne os maiores especialistas da tese que o Estado não deve agir para mitigar os efeitos do aquecimento global, porque não haveria indícios científicos suficientes de que há esse fenômeno.

Em governos passados, o Brasil sempre se manteve alinhado ao entendimento contrário, tanto que trabalhou ativamente na construção do Acordo de Paris.

A postura rendeu ao país a liderança dos debates nos fóruns internacionais.

Sem a resistência do Congresso, a única trava interna que poderia afetar a nova política ambiental vem do Judiciário, que até agora se envolveu pouco nesse campo.