Para quem, como eu, acompanhou a trajetória de Lula desde o começo, votando nele quase sempre, é difícil escrever este artigo.
Mais pela emoção do que pela razão, não consigo comemorar sua condenação. Meu sentimento é de pena e decepção, não de júbilo, como deve ser o de milhões que o rejeitam.
Mas também me recuso a embarcar nessa onda paranoica de que o juiz Sérgio Moro veio ao mundo para perseguir o líder petista. Ao contrário, ele disse que tinha elementos para decretar a prisão, mas não o fez por se sentir “intimidado” pelos possíveis “traumas” que ela envolveria.
Conheci Lula em 1976, quando o Grupo Casa Grande, que promovia ousados debates ainda na vigência da censura, trouxe aquela novidade paulista ao Rio pela primeira vez para uma palestra.
Era uma plateia de mais de mil estudantes e intelectuais, que ouviram embevecidos Lula criticar estudantes e intelectuais. Franco, carismático, foi uma revelação.
Quatro anos depois, ele fundaria o PT, cuja ata inaugural trazia 32 assinaturas, como as de Antônio Candido, Sérgio Buarque, Apolônio de Carvalho, Mario Pedrosa e Lélia Abramo, Paulo Freire e Plínio de Arruda Sampaio.
Voltei a me encontrar com ele em 1993, quando cobri para o “JB” a sua primeira Caravana da Cidadania, que percorreu 54 cidades do Nordeste.
Foi uma incrível experiência jornalística acompanhá-lo durante 24 dias por bolsões de miséria que não dispunham de progresso e cidadania, às vezes nem de água e comida.
Assisti a cenas como a de sua entrada triunfal em Nova Canudos, acompanhada de uma chuva torrencial, após três meses de seca inclemente.
Não foi só por esse mergulho no Brasil profundo que admirei Lula, mas também porque o seu “partido da ética” prometia não roubar nem deixar roubar. E, durante um tempo, foi assim. Era um desafio encontrar em algum escândalo um membro do PT. Hoje, é não encontrar.
Sinto a triste lembrança do tempo em que a única acusação contra ele era de atentado à gramática, por falar “menas”.
O PT e Lula podem não acabar. Mas a utopia que eles encarnaram, essa acabou.
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