Artigo, Tito Guarniere - William Waack não é racista
O episódio de "racismo" do jornalista William
Waack encerra várias lições, nenhuma para ser tomada como exemplo. O menos
culpado de toda essa onda é o jornalista. Tenhamos paciência: não é possível
que uma expressão dita em privado (embora gravada), há um ano atrás, em
determinada circunstância, sem a intenção de ofender ninguém, se transforme em
um caso de racismo.
O muito de que se pode inculpar Waack é de um desabafo,
desses que nós fazemos todos os dias no trânsito, talvez com outras palavras,
quando alguém dá uma fechada no nosso carro, quando manifestações de protesto
impedem a nossa livre locomoção, quando ferem nossos ouvidos com a buzina
estridente, quando temos de aturar o nosso próprio mau humor e o dos outros.
Contam-se todos os dias, em todos os ambientes, piadas de
preto, loura burra, japonês, português, judeu (como Waack), gringo americano,
gringo argentino e gringo italiano. Se a gente levar na ponta da faca, se
estivermos tomados de uma má vontade doentia, de um pessimismo mórbido, são
atos de racismo, muito piores do que aquele atribuído a William Waack. Mas se
formos apenas normais, então entraremos no jogo e daremos risada. É parte
saudável de nós acharmos graça de nossas mancadas, misérias e fraquezas. E quem
- digam com sinceridade -, quem já não riu de uma piada de baiano, de gaúcho,
de barriga-verde? E somos racistas por ouvi-las sem reagir e ainda rindo à
solta?
E Waack, como sabemos agora, é daqueles que faz humor
sobre si mesmo, sua idade, suas olheiras. Racistas não riem de si mesmos. Rir
de si mesmo é sinal seguro de equilíbrio e sanidade.
E no entanto, a expressão dita em momento de raiva, ou
por pura ironia, transformou Waack em uma espécie de monstro racista,
enxovalhado impiedosamente nas redes sociais. A não ser uns poucos, ninguém
olhou o conjunto da obra, os 40 anos de carreira de um dos jornalistas mais
completos e competentes do país, feita de retidão, honestidade e
profissionalismo. Massacraram-no sem comiseração, em uma das campanhas mais
sujas que já houve por aqui.
A maior parte dos ataques foi de gente que não gostava do
jornalista, de sua independência e visão de mundo. O fato é que Waack não
pertence à grei comum do jornalismo brasileiro, que faz o fácil , que se
compraz com a versão barata, que publica matérias com a profundidade de uma
poça d’água. O que não lhe perdoam é o sucesso, a inteligência, o domínio pleno
do seu ofício. A revista Veja lhe dedicou matéria de capa que mal disfarça o
prazer pelo "erro" de Waack.
Talvez a independência de Waack estivesse incomodando a
Globo, hoje em dia tão empenhada em se mostrar politicamente correta, porta-voz
de minorias exaltadas, excludentes, que, para o fim de impôr seus valores,
destilam fel, desancam, desmerecem e listam no rol de inimigos todos aqueles
que não se filiam aos seus sindicatos, não aderem incondicionalmente às suas
causas.
A Globo, a velha Globo, ao suspender e tornar pública a
suspensão de Waack, porque tudo "indicava" que ele cometeu um ato de
racismo, escreveu uma página pouco edificante na sua história.
titoguarniere@terrra.com.br
Bravo!!!
ResponderExcluirBravíssimo!!!
ResponderExcluira honra, o carater, sucesso e o bem fazer, incomoda muitas pessoas
ResponderExcluirIndependente do profissional, o gesto não deixa de demonstrar o lado racista.
ResponderExcluirFoi racismo, sim.
Concordo plenamente com a teoria escrita, mas sinto muito, o mundo real é assim. Se na internet eu - que não sou ninguém - tenho cuidado com o que eu escrevo... uma figura publica em volta de cameras tem a responsabilidade de viver no pavor e cuidar 100%.
ResponderExcluirNão gostou? Eu também não gosto. Gostar é pre-requisito para aceitar?