Artigo, Hélio Schwartsman, Folha - Lula e as alucinações
Alguns neurocientistas descrevem a percepção como uma
alucinação controlada, tantas são as gambiarras de que o cérebro se utiliza
quando organiza as toneladas de dados que recebemos de nossos sentidos. A
imagem é provavelmente um pouco exagerada, mas explica bem a reação de alguns
petistas e simpatizantes à confirmação da condenação de Lula pelo TRF-4. A
ideologia e investimentos emocionais estão entre as gambiarras que moldam
nossas percepções.
Apesar de os três desembargadores terem fundamentado de
forma convincente a decisão de manter a condenação, alguns militantes insistem
em descrever o julgamento como uma farsa jurídica, uma versão tropical dos
Processos de Moscou, montada para destruir a principal liderança do único
partido verdadeiramente popular do Brasil.
Não é que a condenação esteja acima de qualquer crítica.
Embora a argumentação do relator tenha sido suficiente para dirimir as dúvidas
que eu tinha, estou certo de que um advogado experiente poderá apontar uma
infinidade de problemas. Mas, descontadas diferenças doutrinárias, custa-me
crer que eles bastem para caracterizar o juízo como uma fraude.
Lula e seus seguidores insistem nessa narrativa porque é
o único caminho que lhes resta. O PT surgiu como o partido que iria
reintroduzir a ética na política. Nos primeiros anos, essa até parecia uma
promessa crível (eu pelo menos acreditei). Mas bastou que o PT conquistasse
postos no Executivo para que adotasse e aprimorasse as piores práticas das
piores agremiações. Lulanão vai agora simplesmente admitir que também ele
sucumbiu. Mais fácil denunciar um suposto complô das elites para condená-lo e
confiar que a cegueira ideológica faça com que seus simpatizantes acreditem
nisso.
A verdade, porém, é que, lamentavelmente, Lula se
corrompeu. E isso é algo que agora podemos afirmar com respaldo da Justiça.
Ninguém se corrompe por quaisquer que sejam as circunstâncias, se já não é corrupto quando a ocasião se apresenta. O corrupto é um cidadão pobre de valores, vulnerável por índole e apenas alguns se parecem confiáveis porque, por pura corrupção, desenvolveram ainda a arte de mistificar. Lula é a essência da falta de caráter, comprovadamente manifestada antes mesmo do seu primeiro mandato de presidente. Um sujeito que vota contra a lei de responsabilidade fiscal, contra o plano real, e outras medidas claramente de interesse nacional, vindas seja de quem for, ou sofre de clara má fé ou de oligofrenia crônica. Quem se permitiu deixar-se enganar com o Lula, tinha, com certeza, usando a metáfora do articulista, montado uma gambiarra mental imbuído de uma esperança tola, de que um simplório e tosco homem rude, iria contribuir com algo de útil para nossa gente.
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