Os olhos do Brasil estão voltados para Porto Alegre. Do
resultado que vier do TRF4 dará para ver com certa nitidez os rumos da política
brasileira, nos próximos meses e até a eleição presidencial deste ano. Ou, de
outro modo, o quadro se cobrirá de sombras, e quem quiser saber o que vai rolar
neste país, na política e na economia, que contrate um vidente de confiança:
não é páreo para analistas.
Para Lula, a condenação no tribunal deve ser um pesadelo
assustador e recorrente. Seria o fim de carreira de um personagem singular,
dono de uma história pessoal e de uma trajetória política absolutamente
incomum, triunfante e luminosa, ao menos até certa altura da linha do tempo,
até o final do seu primeiro governo.
Lula brilhou e conviveu com a glória, mas nestas alturas
ele não está livre nem de passar uma temporada na cadeia. E a ninguém
convencerá – a não ser os seus mais fanáticos seguidores – que ele terá sido
preso porque quis o bem do povo, porque as elites não suportam que os pobres
viajem de avião, e outras dessas lendas intoleráveis que eles costumam repetir
à exaustão, mas pela prática continuada da mais nefanda corrupção.
O que espanta em toda esta conjuntura é que o Brasil
tenha chegado ao ano de mais uma eleição presidencial, tendo Lula como o nome
que lidera todas as pesquisas de opinião. Lula, que se escapar do tríplex de
Guarujá, acabará enrolado em algum dos seus quase 10 processos que ainda estão
no seu começo (ele já é réu em oito). Então é isto que temos de melhor para
apresentar depois de todos estes anos de democracia, depois da Constituição
cidadã?
A condenação de Lula dará oxigênio ao discurso de uma
eleição ilegítima, da qual foi impedido de concorrer, no tapetão, o favorito. O
PT é especialista na tática de repetir uma ladainha até à exaustão, de tal
sorte que até eles próprios – os petistas – acabam acreditando nela. Nunca um
candidato concorreu à presidência trazendo nos ombros o peso de uma condenação,
mesmo que em primeira instância.
Por mais justa que seja a sua eventual condenação, por
inequívocas que sejam as suas culpas em cartório (e na minha opinião, são), um
contingente incalculável de eleitores verá , no seu afastamento, um golpe, mais
um, levado a efeito pelas “elites”.
Uma hipótese razoável, possível, é uma decisão do TRF4
que propicie brechas para a judicialização da candidatura de Lula. Isto é, a
torne dependente de uma decisão judicial em tribunal superior. Então, é certo
que o país atravessará um período de insegurança e incerteza, jurídica,
institucional, política e econômica, de consequências dramáticas e
imprevisíveis.
Teremos um governo Temer de final de feira, enfraquecido,
incapaz de qualquer iniciativa; um Congresso paralisado pelas eleições; as
contas públicas (sem a votação da reforma da Previdência) em processo de rápida
deterioração; uma eleição indefinida, com um candidato na corda bamba da
Justiça, podendo, no limite, ter sua candidatura impugnada a meio caminho ou
até mesmo após a eleição.
A tempestade perfeita começa a se formar amanhã, na
decisão do TRF4.
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