Dias atrás, tocamos em Porto Alegre, Brasil, para um
público maravilhoso, em um armazém perto do aeroporto. Ao entrar no lugar, meu
coração afundou um pouco - era uma caixa semelhante a um hangar, com barras
espalhadas. Eu não achei que seria bom para o som, ou confortável para o
público... Mas estava errado, pelo menos em parte. O entusiasmo do público mais
do que compensou qualquer deficiência do local.
O diretor musical da minha seção de percussões, Mauro
Refosco, tem um amigo na cidade com um estúdio de gravação. Então, depois de
desembarcar na véspera do nosso show, alguns de nós foram lá para uma sessão e,
em seguida, para um churrasco brasileiro — o que significa montes de carne.
Me disseram que havia seguranças posicionados do lado de
fora do estúdio. No Brasil, isso é comum. É um país parcialmente sitiado por
seus próprios habitantes. Um preço da desigualdade é a perda de liberdade.
Também fui aconselhado a não caminhar para um restaurante próximo à noite.
Pensei: 'Passei minha vida em todos os tipos de bairros de Nova York, essa área
não me parece muito perigosa'. Mas acatei o conselho (por ora).
Um grupo de cicloativistas chamado Loop entrou em contato
conosco, então na manhã seguinte fomos encontrá-los para uma volta de
bicicleta. Um casal que produz roupas para ciclismo e um professor de
arquitetura também se juntaram. Nos levaram para uma volta na cidade, seguida
de um passeio adorável ao longo do rio.
O ciclismo está pegando por aqui, apesar de ainda
enfrentar alguma resistência. Em 2011, um motorista intencionalmente abriu
caminho com seu carro por dentro da manifestação do grupo Massa Crítica.
Trágico e horrível — apesar de eu simpatizar com os que
consideram que, às vezes, a tática do Massa Crítica de bloquear o trânsito não
é a melhor forma de ganhar apoiadores.
Porto Alegre é uma cidade jovem — tem 200 anos, mas
parece ainda mais jovem do que isso. Existem ciclovias! Algumas, inclusive
protegidas do trânsito. Não por todo lado, mas parece haver uma malha
considerável e crescente; é possível circular com bastante segurança. Passeamos
por alguns parques adoráveis e passamos por um prédio enorme e singular. É o
Centro Administrativo Fernando Ferrari. A construção do prédio começou em 1976.
Apesar de, me disseram, ter sido logo interrompida. Eventualmente, recomeçou,
mas quando isso aconteceu, os andares superiores projetados foram descartados
do projeto. Finalmente abriu em 1987.
Mais adiante, passamos pelas ruínas de um sistema de
transporte elevado. O inovador projeto, Aeromóvel, foi desenhado por um
engenheiro local, Oskar Coester. Os veículos foram criados para se mover em uma
pista elevada, com propulsão a ar, e viajando 1.010 metros em cerca de 90
segundos. E, sendo elétricos, não poluem.
O sistema foi parcialmente construído e, depois,
abandonado, décadas atrás. Um veículo solitário está parado, inacessível, no
meio da pista.
A tecnologia era boa. Funcionava, e as ideias do
engenheiro foram adotadas na Indonésia e em outros lugares. Citei aquele velho
ditado, de que o talento nem sempre é reconhecido onde é criado; meus
companheiros de viagem concordaram.
Fomos então para um lindo caminho ao longo do rio. Um do
nosso grupo faz ali sua rota diária para o trabalho, o que deve ser ótimo —
quem não preferiria isso ao trânsito de Los Angeles ou São Paulo?
Paramos para tomar uma água de coco perto de um ponto
onde há um anfiteatro gratuito a céu aberto. Ele foi construído por um
discípulo de Niemeyer, o conhecido arquiteto brasileiro (mais dele e seu
trabalho a seguir). Era para ter sido feito totalmente em concreto, como são os
prédios de Niemeyer, mas em certo ponto aço foi usado. À distância, é
imperceptível. Adorei a ideia de um teatro público e gratuito, e shows musicais
ali. Se alguém imaginar as colunas amarelas como quadris — é um discípulo de
Niemeyer, afinal de contas —, então a sexy protuberância ao fundo não será
surpresa.
Passamos por uma enorme loja chamada BIG — o que não era
exagero algum. É propriedade do Walmart, e algumas vezes vimos mercados BIG e
Walmart nas mesmas estradas. Walmart foi pego subornando servidores de governos
na América Latina para driblar regras comerciais e receber os melhores locais.
Uma entrada: um dos integrantes do grupo disse que seu
avô costumava nadar ali sempre, seu pai às vezes, e ele e seus amigos, nunca.
Chegamos na Fundação Iberê Camargo, um museu de arte do
famoso arquiteto Álvaro Siza, com um design espiral semelhante ao Guggenheim.
Infelizmente, o orçamento para artes foi cortado aqui em Porto Alegre, e agora
o museu está aberto apenas dois dias por semana. Em seguida, passamos pelo
estádio do Internacional - visto aqui atrás de um campo com mato alto.
Há dois times em Porto Alegre - o vermelho e o azul.
Originalmente, o vermelho (e branco) Internacional era identificado com os
trabalhadores, o que parece óbvio, dado o nome e a cor. Hoje, quase não há
distinção entre os torcedores. Internacional ganhou vários títulos nacionais e
internacionais. Essa cidade vai muito além de seu tamanho no futebol - muitas
vezes rivaliza com São Paulo.
Próximo ao estádio, há um complexo residencial
"ilegal" — não deveria ter sido construído no morro. Mas nos anos 70
e 80, quando eles foram construídos, ou os oficiais foram subornados ou não
deram atenção.
Finalmente, chegamos de volta a nosso hotel. Muito
obrigado à Loop e a todos os outros, que foram tão generosos nos mostrando
tudo, e parabéns pelo excelente trabalho que todos estão fazendo.
Nosso show foi incrível. Fomos embora na manhã seguinte —
um terminal aeroportuário estava sendo demolido, pertinho do nosso
portão."
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