Artigo, espeial, Facundo Cerúleo - O grande coach do futebol brasileiro

Do que necessita um time de futebol: de um coach ou de um treinador? É a pergunta que deveriam responder certos formadores de opinião.

O coach é uma mistura de conselheiro, psicoterapeuta, guru e orientador, que ajuda o cliente, num contato pessoal, a alcançar objetivos traçados, reforçando-lhe a motivação. Embora haja sido banalizado no Brasil - por gente incompetente metida na coisa -, esse trabalho até pode trazer bons resultados, a depender do preparo e da seriedade do coach.

Um treinador de futebol com talento de coach é sopa no mel, desde que a equipe esteja bem treinada... Ele vai motivar cada atleta a fazer o seu melhor e o grupo vai crescer. Pelo que falam certos moços da crônica, o maior coach do futebol brasileiro hoje é Renato Portaluppi, que "tem o grupo na mão". Quando ele pega um time treinado... Só vai!

Lembram 2016? Ele chegou no Grêmio e pegou um time preparado por Roger Machado. E deu certo. Com Roger, o Grêmio tinha vencido o jogo de ida pelas semifinais da Copa do Brasil com o Athletico Paranaense. Renato assumiu e perdeu o jogo de volta: quase a vaca foi pro brejo. Mas nos pênaltis, venceu, passou à final e terminou campeão. Depois veio a Copa Libertadores e o título. E ninguém dirá que não havia algo dele no time que conquistou o que foram os últimos grandes títulos do Tricolor.

Mas veio a necessidade de trocar jogadores, de renovar e de retreinar o time. E o Grêmio de Renato começou a descer uma ladeira que só parou na segundona. "Coaching" pode ser útil, mas "treino" é imprescindível! Como jogar sem treino? Adianta perder motivado? Sem treinamento eficaz, com método e disciplina, uma equipe não vai a lugar nenhum!

Aqui me valho do depoimento de Marcio Bolzoni. Ele foi médico do Grêmio por mais de 25 anos e conhece a intimidade do clube. Já falei aqui de um podcast em que ele diz: "Eu presenciei no Grêmio, nos meus últimos anos lá, um treinador que certamente escondia o fato de não saber dar treino." Apertado pelos repórteres, admitiu que falava de Renato. E disse: "Existem quatro tipos de treino com o Renato: ou era coletivo ou era rachão; ou era um treino que chamavam lá 'treino alemão', ou era cruzamento e chute a gol. Deu!" Ou seja, não havia treino técnico-tático, sem o qual nenhum time funciona.

Não faltará quem diga: "oh, Renato nem era o técnico em 2021!", ano do rebaixamento. Mas um desastre daqueles não se faz de um ano a outro. É Bolzoni quem diz: "Quem montou o time que foi parar na segunda divisão? Quem indicou aquelas contratações? A lista de contratações fracassadas do Grêmio de 2018, 2019 e 2020, pelo amor de Deus!"

E por que falar disso? Porque um comentarista, em tom categórico, disse que Renato é melhor que Mano Menezes. Talvez ele não goste do estilo do Mano, que é diferente do Fernando Diniz e do Abel Ferreira, para citar só dois técnicos e dois sistemas de jogo. Podemos preferir um deles. Daí a comparar Mano com Renato já é outra coisa. Se gostamos ou não do Mano é irrelevante para admitir um fato: ele é competente para pôr em prática as suas convicções. Ele treina e os jogadores entendem o que ele quer. Já Renato é diferente: ele é mais coach que treinador. Em 2023, o ano perdido, só o Grêmio, entre todos os times da 1ª divisão, não tinha uma única jogada ensaiada - subaproveitando o talento de Luis Suárez.

Se não fosse ruim seria engraçado o debate burro em torno do treinador do Grêmio: Mano deve ou não ficar? Gente com diploma de jornalista não consegue formular o problema. Para começar, a escolha do técnico deve ter em vista dois aspectos: que sistema de jogo se pretende e, ainda, que jogadores estarão à disposição. Fará sentido investir milhões em um técnico para comandar uma equipe apenas mediana? Não terá o Grêmio que fazer planos para médio e longo prazo e, nesse caso, pensar num técnico não para títulos em 2026, mas para preparar 2027? Pode a nova direção do Grêmio ter outra prioridade que não seja pôr as finanças em ordem?

Não é o que a torcida quer ouvir. O torcedor médio abraça ilusões doces e vira a cara à realidade amarga. E o pessoal de mídia, seja da imprensa tradicional ou dos canais monetizados, ganha muito com a alienação das massas. Como resultado, o futebol gaúcho virou periferia no Brasil. E isso é trabalho de todos: de dirigentes fracos e de pouca transparência, da torcida e suas crenças irrefletidas e de formadores de opinião que lucram com a bobice das massas. E vai piorar, a menos que os clubes, de uma vez por todas, profissionalizem suas administrações.

Para que não fique no ar, o referido "tom categórico" foi de um moço da Bandeirantes, que, posso dizer, é um cara inteligente, embora haja manifestado uma ideia claramente absurda. Faço votos de que ele reflita bem e entenda que ao Grêmio convém um técnico, não um coach.

P.S. Veja o vídeo com Marcio Bolzoni no link:

https://www.youtube.com/watch?v=0ZYB9N3NVq4


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