Entro com atraso na polêmica do QueerMuseu e da
performance "La Bête" em São Paulo, por causa de uma entrevista do
ministro da Cultura Sérgio Sá Leitão, publicada no blog do jornalista Reinaldo
Azevedo. Finalmente, alguém diz coisa com coisa, sem descambar para a ideia de
que toda a crítica que se faça ao QueerMuseu ou à "La Bête" é
primitiva, fascistizante, um ataque à liberdade de criação artística, ou de que
toda nudez na obra artística é pecaminosa, e portanto deve ser censurada.
Conheço museus do Brasil, dos Estados Unidos e da Europa.
Em salas abertas para o público em geral (incluindo menores) há nudez mas não
há cenas explicitamente eróticas, como em algumas obras do QueerMuseu. As
performances como em "La Bête", de homens nus ou mulheres nuas, como a
do Museu de Arte Moderna de São Paulo, não são raras no mundo, e não estou
falando de pornografia. Mas não há surpresa: tudo é avisado com antecedência e
em cartazes bem visíveis. Nada disso causa polêmica em países avançados.
E tudo porque é absolutamente simples manter o equilíbrio
entre a manifestação artística e os valores que segmentos familiares e
religiosos legitimamente defendem. Basta definir uma classificação etária, como
se faz com os filmes, e dar aviso prévio e claro do caráter da mostra ou
perfomance.
Ninguém dirá que a proibição de vender bebidas alcoólicas
a menores é norma atrasada, conservadora, ou seja lá o que for. Isto é assente
em todas as categorias e classes sociais. Ele, o menor, ainda não está maduro
para saber das consequências da ingestão de bebidas alcoólicas. Ao mesmo tempo
não se estabelece a lei seca - ainda bem. Beber com moderação um bom vinho, uma
boa cerveja, para muita gente pode ser um agradável prazer.
Só no Brasil destes tempos estranhos é que esses dois
eventos, o Queer Museu e "La Bête", provocam polêmica com tantos
desaforos trocados, com tanta intolerância à solta. Se você é adulto, faz o que
bem quiser, vai ou não vai ao museu, ao show, ao filme. Porém, se você tem
filhos menores, tem o direito de exigir que obras artísticas expostas ao
público, suscetíveis de ferir valores razoavelmente comuns, contenham as
advertências de praxe, previa e claramente. O que não pode é a criança se
deparar, de repente, com a performance de um homem nu, ou uma obra de sexo
explícito em meio a uma exposição.
Em essência, é o que diz o ministro Sá Leitão. E quando
surgem as controvérsias, o que fazer? Sá Leitão responde: "Em momentos de
polarização, é fundamental recorrer ao denominador comum da sociedade, que é o
estado de direito". Para ele, não há incompatibilidade entre a proteção de
crianças e adolescentes e respeito às religiões e os princípios da liberdade de
criação, expressão e manifestação: basta ponderar com a lei. Nada de censura
oficial ou dirigismo estatal.
O ministro defende o direito ao protesto e ao boicote de
eventos culturais, desde que feito dentro da lei. E acha que "precisamos
entender que a vida em sociedade pressupõe regras, deveres e responsabilidades,
além de direitos e garantias. A ideia de que não há limites é infantil".
tiguarniere@terra.com.br
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