Vivemos uma das mais importantes transformações da
história
NÃO FOI À TOA que ele virou sinônimo de velhice:
Matusalém, o personagem mais longevo da Bíblia, viveu 969 anos. Menos conhecida
é a trajetória de seu avô, Jrede, que não ficou muito atrás-morreu aos 962
anos. Outra família bíblica de destaque é a de Adão, o primeiro homem criado
por Deus. Ele viveu 930 anos, um pouco mais que seu filho Sete, irmão de Abel e
Caim, mortos aos 912.
Eis um mistério que a ciência agora pretende desvendar: o
que faz com que algumas famílias sejam mais propensas à longevidade? Deve haver
algo de especial nos genes de quem vive muito (e o muito, terrenamente, é uma
coisa mais modesta, como chegar à 12ª década de vida).
Esse grupo com idade por volta de 110 anos, os
supercentenários, estimado em menos de 1000 pessoas, é menos propenso a
desenvolver enfermidades como Alzheimer ou problemas do coração. A suspeita é
que tenha também uma proteção natural contra o envelhecimento. Existe ai algo a
ser dividido com o restante da humanidade.
Esse é apenas um dos terrenos explorados pelos cientistas
na busca por uma vida mais longa. Há um imenso frenesi em torno da pesquisa de
ponta. Atualmente, graças aos avanços da medicina, cada ano vivido adiciona
dois meses e meio à vida, em média. Mas esse número tende a crescer, expandindo
a perspectiva humana. Qual o limite? Hipoteticamente, se ganharmos um ano a
cada doze meses, conquistaremos a imortalidade. Duas semanas atrás, veio um
choque de realidade: segundo pesquisadores da Universidade do Arizona, há uma
impossibilidade matemática na pretensão de anular o envelhecimento. O mais
provável é que nosso tempo de vida continue aumentando, mas até certo ponto. O
número de centenários está em franco crescimento, mas ninguém chegou aos 130. O
recorde de Matusalém parece seguro.
Em teoria, o envelhecimento é um desafio para a economia.
A população idosa tende a poupar menos, e isso levaria a um aumento dos juros e
prejudicaria o crescimento – a descrição de como mudamos o nosso padrão de
consumo ao longo da vida rendeu um Prêmio Nobel ao ítalo-americano Franco
Modigliani. Um número maior de dependentes sobrecarrega o grupo que está no
mercado de trabalho. Por isso tanta aflição em aproveitar o fenômeno batizado
de bônus demográfico: o momento em que o grosso da população está trabalhando.
Muito do sucesso da Ásia nas últimas décadas deveu-se ao bônus. No Brasil,
estamos no momento histórico de demografia favorável, que deve perdurar por
mais um punhado de anos. Aliás, é quase uma proeza viver a maior crise de nossa
história num período especialmente propenso ao crescimento.
Uma vida mais longa não precisa ser um fardo econômico.
As pessoas podem mudar – por exemplo, aumentando o esforço de poupança para
encarar bem os anos adicionais de vida. Nos países ricos, o envelhecimento
ocorre em condições favoráveis: muito da infraestrutura necessária para uma boa
vida – metrô, casa, estradas – já está lá. Uma queda na poupança não é um
drama. Bem diferente é o nosso caso. Alguém de fato acredita - honestamente-
que dá para continuar se aposentando aos 50 anos?
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