Artigo, Tito Guarniere - Pérolas jornalísticas
Acompanho, com certo método, o que escreve boa parte dos
articulistas brasileiros. E todo o santo dia me surpreendo com as pérolas que
alguns deles produzem em seus espaços.
Um dos meus favoritos – neste caso para me afastar o mais
distante possível dos seus conceitos e cometimentos – é Vladimir Safatle (Folha
de São Paulo). Safatle é professor da USP e petista, uma combinação de alta
voltagem. Gosto mais quando ele escreve sobre filosofia, porque não me incomodo
muito: simplesmente não entendo o que ele quer dizer. Safatle é daqueles que
escrevem difícil, enviesado, cheio de empolações, para aparentar profundidade e
erudição.
Em artigo recente ele partiu para uma tarefa ousada:
defender o populismo. É preciso muito estofo para tal. E disto Safatle não dispõe.
Para ele, entre outras virtudes, o populismo expressa a posição política dos
que “insistirão na refundação institucional da democracia”. Populismo é “uma
forma de integração das massas ao processo político da construção do ‘povo’
como agente” .
Deduz-se, então, que a democracia que aí está não serve,
precisa ser refundada. Democracia, então, não é o pacto do povo, decidido em
instância legítima, eleita pelo voto popular, deliberando sobre as funções do
Estado, os limites do poder, os direitos humanos, individuais e sociais, o
sistema tributário. Não é para ser reformada e aprimorada, no tempo histórico,
no consenso possível dos concidadãos. Democracia é o que ele acha que é
democracia. Ele quer uma democracia de encomenda, só para si, uma democracia
para chamar de sua.
Já o venerando Jânio de Freitas está cada vez mais
resoluto nos seus equívocos. Também da Folha, em artigo da semana passada,
defende duas teorias exóticas. A primeira é a de que, sem Lula, as candidaturas
de Jacques Wagner e Fernando Haddad, como alternativas, foram habilmente
induzidas ao PT pelo campo conservador. E a outra, em que elogia José Pedro
Stédile (MST) e Guilherme Boulos (Movimento dos Sem Teto), e defende que o PT e
as esquerdas devam cogitar de tais nomes para disputar a eleição presidencial,
se Lula for impedido.
Sempre achei que Jânio, a julgar pelo que costuma
escrever, tem um certo enfado de viver no Brasil e de ser brasileiro. Mas um
jornalista veterano, membro do Conselho Editorial da Folha, quando sugere
Stédile ou Boulos para a presidência é porque não foi vacinado contra a febre
amarela.
O caso de Laura Carvalho (FSP) é diferente. Trata-se de
um talento precoce – é mais jovem - para escrever bobagens, daquelas que causam
rubor na face de quem lê. A análise que ela faz do enredo da escola de samba
Paraíso do Tuiuti, no Carnaval do Rio, é uma primorosa antologia de clichês
ideológicos, um desfile de conceitos submarxistas, adquiridos na leitura
superficial de orelhas de livro. Segundo ela, o enredo da Tuiuti é que vai
pautar o debate eleitoral no Brasil. Nada de ficha limpa, Lava Jato, essas
ninharias. No texto, usa cinco vezes as expressões “escravidão”, “elite
escravagista”, “escravo”. Ou seja, no mundo em que Laura vive, o problema do
Brasil é a persistência da escravidão.
titoguarniere@terra.com.br
Faltou ainda mencionar outro dinossauro da estupidez ideológica que aos sábados nos ilumina com sua verve esquedeopática delirante. Trata-se do André Singer. Não consigo entender como a Folha continua prestigiando esses "iluminados", quando os comentários de seus leitores, quase unanimemente, execram o obscurantismo das suas opiniões.
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