Os depoimentos de alguns presidentes
do sindicato dos metalúrgicos do ABC transcritos no HYPERLINK
“http://www.abcdeluta.org.br/” \n _blanksite HYPERLINK “http://www.abcdeluta.org.br/”www.abcdeluta.org.br
são importantes para entendermos o significado de uma elite sindical que chegou
ao poder e dominou o aparelho de Estado por mais de 13 anos. Claro que o
primeiro depoimento tinha de ser de Lula.
Em 1966, começou a
trabalhar na Villares. Três anos depois fez parte da diretoria do sindicato
como suplente, por indicação do irmão, frei Chico, vinculado ao PCB: “Nessa
época, eu só lia A Gazeta Esportiva,”diz ele. Em 1972 foi eleito
primeiro-secretário. Sua liderança se consolidou em 1977, quando da campanha de
reposição salarial referente à manipulação da inflação de 1973: “O Delfim
Netto”, diz ele, “tinha falsificado os índices de inflação.” No ano seguinte
começaram as grandes greves, sem que a iniciativa fosse do sindicato. Em 1979,
nova greve. A diretoria preparou a categoria para uma longa paralisação,
construiu um ambiente de guerra, como explica Lula. Porém, os empresários
cederam e atenderam às reivindicações. Na assembleia os milhares de operários
desejavam continuar a greve. Cada orador que falava em terminar o movimento era
vaiado: “Já tinha visto dois falarem na minha frente e sabia que os
trabalhadores não queriam voltar ao trabalho.” Continua Lula: “ao invés de
propor a aceitação do acordo, pedi um voto de confiança. Aí, a categoria me deu
o voto de confiança.” Pouco depois, se reuniu com os empresários e acabou com a
greve.
Alonga (e derrotada) greve de 1980, para Lula, foi uma
vitória: “Não ganhamos nenhum vintém, não ganhamos nenhum centavo. Perdemos
muito, entretanto, do ponto de vista político, nós nunca ganhamos tanto,
porque, depois da greve, veio a consolidação do PT enquanto partido político.”
Sobre as centenas de demissões, nenhuma palavra. Conta alegremente os 31 dias
de prisão, em 1980, e que lhe renderam uma aposentadoria. O delegado Romeu
Tuma, do DOPS, atendeu todas as suas solicitações: desde um dentista até uma
televisão para ver os jogos do Corinthians. Mesmo assim, houve uma greve de
fome, contra a vontade de Lula: “Eu até tentei guardar umas balinhas embaixo do
travesseiro. O Djalma descobriu e jogou fora as minhas balinhas.”
Em
1981 Lula foi substituído por Jair Meneghelli, que começou a trabalhar na
Willys, em 1963. Filiou-se ao sindicato somente 14 anos depois. Queria cursar
madureza (o supletivo de então): “Quem era sócio pagava metade, quem não
era sócio pagava integral. Então eu fiquei sócio para pagar metade.” Tinha como
leituras prediletas o gibi infantil Tio Patinhas e A Gazeta Esportiva.
Em
1978 recebeu de um militante comunista, o livro “Dez dias que abalaram o
mundo”, do célebre jornalista americano John Reed, que trata da Revolução Russa
de 1917. Diz que não entendeu nada: “Lia duas páginas e me esquecia o que eu
tinha lido. Tinha lá exército vermelho, verde, cor-de-rosa, sei lá, um monte de
coisa, cheguei para o Wagner, devolvi o livro e falei: ‘Wagner esse negócio é
muito confuso rapaz, é um monte de partido naquela desgraça, o bom é aqui no
Brasil, só tem Arena e MDB’.” Foi durante 8 anos presidente do Sesi designado
por Lula. Vicente Paulo da Silva sucedeu Meneguelli. Aos 20 anos, em 1976,
migrou para São Bernardo. Conseguiu emprego 11 dias depois. E isto “porque eu
fiquei escolhendo onde trabalhar.” No ano seguinte se filiou ao sindicato.
Achava que era um clube: “imaginava que tinha clube mesmo, para poder se
encontrar, ir para alguma festinha.” Participou pela primeira vez de uma greve
em 1979. Dois anos depois entrou para a diretoria. Em 1987 é eleito presidente
do sindicato e sete anos depois assumiu a presidência da CUT. Acabou sendo eleito
várias vezes deputado federal. Luiz Marinho foi o próximo. Chegou a São
Bernardo em 1978, quando foi trabalhar na Volkswagen. Tinha 29 anos. Dois anos
depois foi ao sindicato para se associar. Como esqueceu a carteira profissional
não foi possível a filiação. Desistiu. Só voltou meses depois. Mesmo assim, em
1984 foi eleito tesoureiro. Permaneceu 12 anos em cargos burocráticos. Em 1996
chegou à presidência do sindicato e seis anos depois foi eleito presidente da
CUT. Foi duas vezes ministro de Lula e prefeito de São Bernardo do Campo.
Quatro biografias de êxito: presidente da República, deputado federal, ministro
de Estado e presidente do Sesi. O que chama a atenção nos relatos é o
arrivismo, o baixo nível de consciência política, a breve militância e a
rapidez na ascensão burocrática, além do desejo de se afastar do universo da
fábrica. A formação cultural é paupérrima. Não se fala em livros, jornais,
panfletos, como na tradição do movimento operário. O mundo se resume ao
sindicato, ao bar. São mais pequenos burgueses que operários. Almejavam a
ascensão social. E conseguiram. Marco Antonio Villa é historiador
Nenhum comentário:
Postar um comentário