* Stella Kochen Susskind
Qual é o país mais sorridente do mundo? Ao contrário do
que os brasileiros possam pensar, a Irlanda lidera esse disputado ranking. Pelo
menos no que se refere ao atendimento ao cliente. A 12ª edição da pesquisa
Smiling Report – conduzida em 61 países (Ásia, Europa, América do Norte e
América do Sul) – mostra que 100% dos atendimentos dos irlandeses têm início
com um sorriso. O Brasil aparece na 25ª posição com 84% de atendimentos
sorridentes. A posição verde-e-amarela no ranking, que parece razoavelmente
boa, não é.
Como coordenadora da pesquisa no Brasil – e apaixonada
confessa pelo tema atendimento ao consumidor – defendo a importância de
analisar esses números criteriosamente. A pesquisa revela que a cada 100
atendimentos, 16 são iniciados sem um tímido sorriso do vendedor. Em tempos de
uma grave crise econômica, a possibilidade de perder vendas por falta de
simpatia (e empatia) é muito grave. O outro lado da moeda é que há muito espaço
para melhoria no atendimento.
No Brasil, dos 22 mil entrevistados pela Shopper
Experience para o Smiling Report, 67% são do Sudeste; 13% do Sul; 12% do
Nordeste; 6% do Centro-Oeste; e 2% do Norte. Na análise dos atendimentos
iniciados com sorrisos, os índices são: 46% no Sudeste; 33% no Nordeste; 10% no
Sul; 6% no Norte ; e 5% de no Centro-Oeste. Ou seja,
embora os profissionais de venda do Sudeste sejam os mais sorridentes –
guardadas as devidas proporções – estamos longe de atingir um índice
confortável e condizente com tempos de crise.
A avaliação de vendas adicionais (sugestões dadas aos
cliente quando a compra inicial está sendo concluída) mostra que o Brasil está
na 39ª posição da pesquisa, estando à frente somente do Paraguai e Japão. O
líder da categoria é a Guatemala (93%). O quanto se perde ao não oferecer um
item adicional associado à compra? Se o consumidor vai comprar uma calça, por
exemplo, é importante mostrar acessórios. É claro que isso deve ser conduzido
de forma elegante e sem aborrecer o cliente, mas é importante mostrar que há um
mix de produtos disponível, que ele pode adquirir, inclusive, em outra ocasião.
Embora o atendimento ao cliente tenha passado a ser um
diferencial importante no Brasil, impulsionado pela consolidação do Código de
Defesa do Consumidor, a prática não está tão arraigada entre os empresários e
profissionais de vendas. Em contrapartida, o brasileiro – até então easy
grader, tolerante e paciente – passou a ter consciência dos seus direitos seja
com relação à qualidade do produto, seja com relação ao atendimento. Está mais
exigente e valoriza muito o atendimento diferenciado. Isso ocorre em
consumidores de todas as classes sociais. Na prática, temos duas realidades
dissonantes que precisam de um ponto comum.
Como somos brasileiros, devemos usar essa incrível
capacidade de nos reinventar para vencermos juntos a grave crise econômica.
* Stella Kochen Susskind
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