Ricardo Noblat
Assim como nenhum ministro da Fazenda pode admitir que a
inflação dará um novo salto ou que as perspectivas de crescimento da economia
são sombrias, os ministros da Defesa e da Justiça, às vésperas de um
acontecimento planetário como os Jogos Olímpicos, também não podem igualmente
admitir, mais ainda a levar-se em conta episódios recentes registrados em
outros países, que a ameaça terrorista é o que mais preocupa o governo
hoje.
A menos de três semanas da abertura dos jogos no Rio, o
ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, em entrevista ao jornal Folha de S.
Paulo, afirmou que “a criminalidade preocupa mais que o terrorismo". E
acrescentou:
- A população pode ficar tranquila que tudo o que é
possível em termos de inteligência, monitoramento, rastreamento, e existente,
está sendo feito no Brasil. O governo, a Polícia Federal, a Abin (Agência
Brasileira de Inteligência), estamos todos preparados tanto na questão de
inteligência, quanto na questão de monitoramento.
Depois do atentado na cidade francesa de Nice, no último
dia 14, o general Sérgio Etchegoyen, ministro-chefe do Gabinete de Segurança
Institucional da presidência da República, havia dito que aumentara a
preocupação do governo com o terrorismo.
Por “criminalidade”, o ministro da Justiça quis dizer a
violência do tráfico de drogas que assusta o Rio e provoca o aumento do número
de pessoas mortas e feridas. Nenhuma voz oficial pode assumir a informação de
que as autoridades de segurança pública têm canais de comunicação com a
criminalidade. E que os canais são ativados quando há grandes eventos.
Nessas ocasiões, negocia-se uma espécie de paz armada. De
maneira simplificada, nem as forças de repressão sobem os morros nem os
criminosos descem deles.
Foi assim na Conferência Mundial do Clima que nos anos 90
do século passado atraiu chefes de Estado ao Rio. Foi assim nas visitas ao país
dos últimos três Papas. E assim será durante os jogos.
De resto, em momentos como esses, ao tráfico o que
interessa é faturar. Confusão só atrapalha o negócio.
Quanto ao terror... Além das providências tomadas, o
governo espera que Deus continue sendo brasileiro.
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