Artigo, Paulo Castelo Branco - A falta que ela não nos fará
O mestre Fernando Sabino, em crônica publicada no jornal
"O Tempo", nos idos de 2007, relatou a sua angústia quando
resolveu dar um mês de férias à sua auxiliar do lar - antiga
"empregada", como a ela se referiu na obra intitulada "A
falta que ela me faz".
Sabino descreve a satisfação que teve nos primeiros dias
de liberdade total dentro de casa. Podia andar só de chinelos, trocava de
roupas com a porta aberta e falava sozinho sem passar por maluco. Ao longo dos
dias percebeu que sua vida havia se transformado numa bagunça sem fim.
A crônica de Sabino nos faz olhar com um pouco de humor a
situação da quase ex-presidente. Dilma foi escolhida para ser serviçal do
Partido dos Trabalhadores na Presidência da República, sob o comando de Lula
que, hoje, é decadente político que se sustenta na mídia como investigado
por crimes diversos.
O brasileiro, ao aceitar Dilma, acreditou que ela seria
uma gerente eficiente do país que estava no caminho certo para se consolidar
como grande potência econômica e democrata. A herança recebida do governo
Fernando Henrique e a midiática administração Lula facilitava a missão.
A promessa de Dilma de limpar a casa como se fosse a
"empregada" de Sabino, ao retornar das férias, fracassou de forma
retumbante e acabou como a carne assada no forno do fogão. A limpeza
esbarrou no poder político de Lula e seus companheiros, e a sujeira aumentou
com a descoberta dos ilícitos praticados, tanto no "mensalão", quanto
no "petrolão".
A decisão do Senado Federal que aceitou o julgamento da
presidente afastada pelo plenário da casa com uma margem de votos capaz de
retirá-la do poder deixou a situação insustentável. Dilma está fora!
O debate entre o senador Antonio Anastasia e o advogado
Eduardo Cardozo se tornou uma cansativa demonstração de intolerância dos
adeptos do Partido dos Trabalhadores e aula de moderação e conhecimento
jurídico-administrativo do senador. O desempenho de Anastasia o coloca como
alternativa do PSDB na disputa presidencial de 2018.
A queda de Aécio nas pesquisas eleitorais e a sua
discreta participação no processo de 'impeachment" indicam o
desalento do senador com a possibilidade de disputar a eleição; por outro lado,
o chanceler José Serra optou por acreditar que o raio poderá cair no mesmo
local e sumiu do debate político, imaginando que poderá inventar um novo
"Plano Real", seguindo o caminho de FHC. O sorriso hoje estampado em
seu rosto não apaga a imagem de antipatia que sugere aos seus interlocutores.
Por fim, a posse definitiva de Michel Temer e a sua
afirmação de não concorrer à reeleição abrem caminho para novos nomes na
disputa que se destacaram ao longo desses meses no exame do retorno da
"empregada" de Lula.
Sabino, antevendo os dias de hoje, encerrou a sua crônica
dizendo:
"Até que um dia, como uma projeção do estado de
sinistro abandono em que me via atirado, comecei a sentir no ar um vago mau
cheiro. Intrigado, olhei as solas dos sapatos, para ver se havia pisado em
alguma coisa lá na rua.
Depois saí farejando o ar aqui e ali como um perdigueiro,
e acabei sendo conduzido à cozinha, onde ultimamente já não ousava entrar. No
que abri a porta, o mau cheiro me atingiu como uma bofetada. Vinha do fogão,
certamente.
Aproximei-me, protegendo o nariz com uma das mãos,
enquanto me curvava e com a outra abria o forno. " Oh não! " recuei
horrorizado.
Na panela, a carne assada, que a empregada gentilmente
deixara preparada para mim antes de partir, se decompunha num asqueroso caldo
putrefato, onde pequenas formas brancas se agitavam. Mudei-me no mesmo dia para
um hotel."
Dilma, que nos deixa tal qual a casa do cronista, após a
reunião com investigado Lula, deve renunciar para não continuar prejudicando a
imagem do Brasil neste instante em que somos observados por bilhões de pessoas.
Deve, sim, mudar de vez para o hotel onde se hospedam seus companheiros. Não
sentiremos saudades!
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