A ata da reunião de política monetária do Banco Central,
divulgada ontem, indicou que o ritmo e a magnitude de corte de juros serão
dosados de acordo com os progressos observados na desinflação da economia e no
avanço das reformas fiscais. Para o Banco Central, a frustração recente com a
atividade não é incompatível com a expectativa de estabilização e mesmo
recuperação do crescimento. Por isso, o foco da política monetária parece estar
mais concentrado nos riscos para a desinflação. De todo modo, o Copom reconheceu
que a economia brasileira segue operando com alto nível de ociosidade,
especialmente no mercado de trabalho, o que pode levá-lo, em nossa visão, a
reavaliar os riscos para a desinflação caso a estabilização da atividade não se
confirme.
O corte de juros iniciado pelo Banco Central, por sua
vez, se amparou nas projeções do cenário de referência, mas as estimativas do
cenário de mercado desautorizam, por ora, apostas em ciclos de cortes mais
extensos. No cenário de referência (com câmbio de R$/US$ 3,20 e taxa Selic de
14,25% em todo o horizonte de projeção), o Banco Central projeta a inflação ao
consumidor medida pelo IPCA de 4,3% em 2017 e de 3,9% em 2018, ambas abaixo do
centro da meta. Já no cenário de mercado – com base na projeção mediana para câmbio
e taxa Selic de R$/US$ 3,40 e 11% ao final de 2017 e de R$/US$ 3,50 e 10% em
2018, respectivamente – o Banco Central projeta inflação de 4,9% em 2017 e de
4,7% em 2018. Com isso, os membros do Copom concluíram que a evolução das
projeções do cenário de referência indica haver espaço para flexibilização
gradual e moderada da política monetária, mas que o cenário de mercado sugere
“limites para a magnitude dessa flexibilização nesse mesmo horizonte”.
Em nossa avaliação, a ata apontou para um corte de 0,25
p.p. na próxima reunião e um ciclo menos extenso do que o mercado (e nós)
projetamos, mantido o atual cenário de desinflação. Entretanto, julgamos que o
crescimento econômico seguirá fraco e há indícios de que a aprovação das
reformas seguirá sem grandes surpresas. Além disso, há chances de observarmos
uma taxa de câmbio mais apreciada nos próximos meses do que aquela utilizada
nos modelos do Banco Central. Por essas razões, continuamos apostando em um
ciclo longo de afrouxamento, que levará a Selic para patamar próximo de 10,25%
no próximo ano, em resposta às pressões inflacionárias decrescentes em um
ambiente de elevada ociosidade da economia. O horizonte em que esse cenário irá
se materializar pode inclusive levar a um corte de 0,50 p.p. na próxima reunião,
caso as novas informações levem o Banco Central reavaliar seu balanço de
riscos, apesar da clara sinalização da preferência por um ritmo mais lento e um
ciclo de corte de juros menor do que hoje precificado.
Octavio de Barros
Diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos -
BRADESCO
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