TITO GUARNIERE
O PARÂMETRO É A LEI
Na política, é espantoso como as facções em litígio,
cegas de paixão, acusam os adversários de práticas que elas mesmas
cometem. Não estou falando de governantes que, na oposição, censuram duramente
o governo, mas quando assumem o poder fazem a mesma coisa, senão pior.
Isso é velho e comum: não há nada mais parecido com o governo, do que a
oposição quando chega no governo. E vice-versa.
Vejam essa declaração de Raimundo Bonfim, coordenador da
Central dos Movimentos Populares-CMP, a respeito do Movimento Brasil Livre, que
andou tentando, de uma forma meio tosca, desocupar escolas no Paraná: “O
Movimento Brasil Livre - MBL agora atua como um grupo paramilitar”.
Não se trata de uma opinião inocente, superficial. Que eu
saiba, o MBL usa quando muito um microfone, uma câmera e as redes sociais. A
sua ação é basicamente política, isto é, o MBL dá razões, contesta, argumenta,
tenta persuadir. É verdade, porém, que depois do impeachment, suas abordagens
têm resvalado para a ameaça e a truculência. O MBL, nessa batida, vai se tornar
um MST da direita. Dentre outras razões, é por isso que não aprecio o
movimento. Mas vamos com calma: está distante, muito distante de ser um grupo
paramilitar.
Esse não é, entretanto, o equívoco principal de Bonfim. O
MBL vira um “grupo paramilitar” porque age em favor da desocupação de escolas
no Paraná. Mas ocupar a escola, paralisar as aulas, só deixar ingressar no
prédio quem “o coletivo” autorizar, não estará mais próximo de um ato militar ou
paramilitar do que agir na retomada do prédio para a sua única, verdadeira e
nobre finalidade, que é o ensino e a aprendizagem?
Ambas as ações são ilegais. O MBL pode ser contra a
invasão das escolas, mas deve ater-se ao combate político, isto é, entrar no
debate, dar razões e argumentos, mostrar a contradição. Quando, entra no jogo
como um protagonista e se concede poder de polícia, avança o sinal e perde a
razão.
O que fazem as forças que patrocinam e promovem as
invasões, partidos políticos de esquerda e seus braços estudantis, como a UNE e
a UBES (União Brasileira dos Estudantes Secundários), quando se valem da
violência implícita na invasão e ocupação, senão pretender a justiça com as
próprias mãos? Agora, também o MBL, para não ficar atrás, imita o erro, cai em
contradição e tenta fazer a mesma coisa - justiça com as próprias mãos.
A norma a seguir, o parâmetro justo, legítimo e
incensurável, na democracia, é a lei. Não pode invadir escola. Ponto. Não pode
alguém, que não tenha autoridade para tanto, querer desalojar os invasores.
Ponto. O resto é caminho aberto para o caos e a barbárie.
A propósito, uma pesquisa do Ibope, encomendada pelo
Ministério da Educação, mostrou que 70% dos entrevistados é favorável à reforma
do ensino médio do governo Temer. É só uma pesquisa, mas é o que temos de
melhor para medir a vontade da população. O resultado é mais do que previsível.
O povo, que às vezes se engana nas suas escolhas, mas em geral não é tolo, tem
clareza que falta a tantos “intelectuais”: qualquer reforma deve ser melhor do
que isto que aí está.
titoguarniere@terra.com.br
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