Os produtos brasileiros voltaram a ganhar mercado na
Argentina, depois de mais de uma década perdendo espaço para a China.
A participação do Brasil nas importações argentinas subiu
de 21,8% em 2015 para 24,6% em 2016, enquanto a fatia chinesa caiu de 19,7%
para 18,8%, diz a consultoria Abeceb (veja abaixo).
Os exportadores brasileiros, no entanto, ainda estão
muito longe da posição que ocupavam 12 anos atrás. Em 2005, o país respondia
por 37% das importações argentinas, enquanto a China detinha apenas 6,4%.
Dois fatores colaboraram para o avanço recente do Brasil
no mercado vizinho: a forte recessão doméstica, que já dura 11 trimestres e
incentiva as empresas a exportar mais, e a redução das barreiras à importação
na Argentina.
Com um discurso mais liberal, o presidente Maurício Macri
eliminou o controle de câmbio no país e vem, gradualmente, reduzindo as
exigências burocráticas para a importação.
Os exportadores brasileiros ainda reclamam de retrocessos
pontuais, mas caiu significativamente a adoção de barreiras em comparação com
os governos Nestor e Cristina Kirchner.
"A medida que o comércio vai se normalizando, o
Brasil recupera o mercado perdido para a China, que sofria menos com as
barreiras", diz Dante Sica, presidente da Abeceb.
Entre os setores que mais avançaram no mercado argentino
no ano passado estão segmentos que sofriam bastante com a concorrência chinesa,
como calçados bens de capital.
A participação dos calçadistas brasileiros no mercado
argentino, por exemplo, atingiu 32,3% em 2016, alta de 3,7 pontos porcentuais
em relação a 20015. Os chineses, em contrapartida, ficaram com 27,8% das
importações, queda de 4,4 pontos.
"Graças a maior previsibilidade, as empresas
brasileiras estão se sentindo mais seguras para voltar a fazer negócios com a
Argentina", diz Diego Bonomo, gerente-executivo de comércio exterior da
CNI (Confederação Nacional da Indústria).
RECUPERAÇÃO
A melhora do ambiente de negócios no país vizinho vem
ajudando na recuperação do comércio entre Brasil e Argentina, que atravessou um
dos períodos mais fracos da história.
A corrente de comércio bilateral ficou em apenas US$ 22,7
bilhões no ano passado, período em que os dois sócios enfrentaram queda no PIB.
O valor está bem abaixo do recorde de US$ 38,5 bilhões registrado em 2011.
Os exportadores brasileiros acabaram enviando mais
mercadorias ao vizinho do que o contrário, porque a crise no Brasil foi mais
grave na Argentina. O superavit do comércio bilateral em US$ 4,64 bilhões.
A expectativa é que as trocas fiquem mais equilibradas à
medida que a economia brasileira também se recupere. "Desde dezembro, as
importações de produtos argentinos vêm crescendo. O comercio bilateral está se
fortalecendo", diz Abrão Neto, secretário de Comércio Exterior.
CARROS
As montadoras elevaram as exportações de veículos
brasileiros para a Argentina, uma saída para a queda nas vendas no país. O
setor respondeu por 70% do superavit brasileiro com o vizinho.
O forte volume de exportações levou o Brasil a estourar o
limite de embarques para o sócio do Mercosul pela primeira vez em mais de 15 anos
de acordo automotivo.
Pelas regras, o Brasil pode exportar US$ 1,5 para cada
dólar importado da Argentina. De julho de 2015 a junho de 2016, último completo
de vigência do acordo, a relação ficou em US$ 1,67. Não houve retaliações,
porque os dois países já previam o estouro.
"Negociamos um acordo de longo prazo para evitar que
as questões conjunturais afetem o fluxo de comércio", disse Antonio
Megale, presidente da Anfavea.
Enquanto isso, Macri tenta convencer as montadoras a
produzir mais na Argentina com incentivos tributários.
Segundo Abrão Neto, o Brasil acompanha o assunto com
atenção para que os investimentos no país não sejam prejudicados.
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