Alerj se alinha ao enfrentamento da Justiça e do MP
A libertação de Picciani, Melo e Albertassi é um ato
concreto contra juízes e promotores que atuam na frente de combate à corrupção,
sob pressão do Congresso
18/11/2017 - 12h05
Editorial O Globo
Não é por que era considerada certa a decisão da
Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) de libertar seu presidente,
Jorge Picciani, o antecessor, Paulo Melo, e o deputado Edson Albertassi, todos
do PMDB, que a medida deixa de ter importância.
Ao contrário, porque a unanimidade das previsões apenas
reflete a percepção de como é evidente o controle que o partido tem da Casa, e
da própria política fluminense. Isso a partir de meados da década de 90.
Só foram necessários 20 minutos para que a Alerj
derrubasse a medida cautelar de prisão, para os três, aprovada por unanimidade,
na véspera, pelo Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2). Provas e
argumentos levados pelo Ministério Público, e aceitos pelos desembargadores,
foram desconsiderados por 39 votos contra 19, tendo havido uma abstenção. Era
necessário para o grupo de Picciani um mínimo de 36 votos.
Esta, porém, foi apenas uma cena — embora importante — na
história, em curso, da crise de representação na política brasileira, em que um
dos destaques é o escancaramento do PMDB como um partido fisiológico e de
conhecidas ramificações na corrupção.
Um dos braços fortes do partido é este do grupo do Rio de
Janeiro. A trajetória dessa turma é exemplar — no mau sentido. Um aspecto chama
a atenção: a partir de 1995, o cargo que hoje é de Picciani foi ocupado pela
primeira vez pelo jovem deputado Sérgio Cabral. Desde então, presidiram a Casa
o próprio Picciani e Paulo Melo.
Não por acaso, todos pernoitaram juntos, de quinta para
sexta, na penitenciária de Benfica, Zona Norte do Rio. O deputado Albertassi,
denunciado, como Picciani e Melo, por receber propinas do setor de ônibus
(Fetranspor), não ficou entre estranhos, por certo.
Não é comum que, ao mesmo tempo, tantas figuras graduadas
de um partido político estejam sendo obrigadas a prestar contas por desvios
éticos contabilizados aos milhões de dólares, segundo as investigações ainda em
andamento. Junta-se a eles Eduardo Cunha, preso em Curitiba, também apanhado
pela Lava-Jato, outro político com passagem pela Alerj. Para rivalizar com o
PMDB, apenas o PT e seus dois presidentes também envolvidos em malfeitos — Lula
e Dilma.
A defesa de Picciani, Melo e Albertassi assumida pela
maioria da Alerj, sem qualquer respeito à inteligência do eleitorado,
representa um gesto objetivo de alinhamento da Casa à grande aliança que
esgrima no Congresso, com apoios no Planalto, para conter a Lava-Jato e
qualquer outra ação de combate à corrupção que existe no mundo de negócios
bilionários entre empresas privadas e o Estado, intermediados por políticos.
Alguns dos quais abrigados no PMDB, conforme demonstram inquéritos. Há muito
ainda para acontecer.
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