Ampliar acesso a atendimento qualificado e reduzir mortes
é um desafio para os hospitais brasileiros
No Brasil, causas externas – como acidentes, violência
urbana e catástrofes – são as que mais matam pessoas até 39 anos de idade. O
país ocupa o quinto lugar no ranking mundial de vítimas fatais no trânsito e,
ano após ano, segue entre os 20 com os maiores índices de homicídios. Estima-se
que, para cada morte, os hospitais tenham de 20 a 40 sobreviventes em
tratamento. Os custos sociais e econômicos são incalculáveis.
O tema foi assunto do I Simpósio Cirurgia do Trauma –
Atendimento Qualificado ao Traumatizado: Como Enfrentar este Desafio, realizado
na última quinta-feira (12), no Hospital Moinhos de Vento. Médicos cirurgiões,
intensivistas, enfermeiros e técnicos trocaram experiências e conheceram a
realidade de outras regiões do estado e do Brasil, além de uma cidade dos
Estados Unidos semelhante a Porto Alegre.
Um problema de saúde publica
O cirurgião Tércio Campos, presidente da Sociedade
Brasileira de Atendimento Integrado ao Trauma, falou sobre os problemas que o
Brasil enfrenta hoje no atendimento a traumatizados. Falta de treinamento, de
equipamentos e de um registro para ter dados mais precisos são alguns deles. O
especialista considerou os acidentes de trânsito uma questão de saúde pública,
sendo necessários investimentos pesados em prevenção. “Os países que mais
conseguiram reduzir mortes e invalidez foram os que mais investiram em
campanhas de conscientização”, afirmou.
O médico apresentou gráficos que apontam quase 50% de
redução das mortes e dos gastos com tratamentos de politraumatizados em São
Paulo nos últimos dez anos. A evolução acompanha os avanços na legislação, como
as leis Seca, do ABS e do air-bag, além do Maio Amarelo e de outras campanhas
de conscientização. “Ao mesmo tempo, aumentou o acesso das vítimas à cirurgia
imediata, ampliando também as chances de recuperação”, ressaltou. O médico
abordou o Plano Nacional de Catástrofes, criado para servir de referência em
casos como o incêndio na boate Kiss e o rompimento da barragem em Brumadinho.
“Temos de estar preparados e treinados. E esse treinamento tem que ser
integrado: médicos, enfermeiros, técnicos, socorristas etc”, concluiu.
A experiência do cirurgião gaúcho Luiz Gonçalves Foernges,
que hoje trabalha no Geisinger Medical Center, nos Estados Unidos, foi outro
destaque da noite. No hospital da cidade de Danville, quase metade dos
pacientes traumatizados são encaminhados de outras instituições. A realidade é
muito diferente da brasileira. Com seis helicópteros e centros de trauma adulto
e pediátrico, já recebeu quase três mil pacientes traumatizados para a
realização de cirurgias em 2019. “Se esse sistema de encaminhamento acontecesse
aqui, desafogaria os leitos no SUS”, disse.
Ampliando o atendimento ao trauma
Em Porto Alegre, o Hospital de Pronto Socorro atende em
média 400 pacientes traumatizados por dia, enquanto o Cristo Redentor possui
264 leitos. São os únicos da capital gaúcha que podem prestar o atendimento
primário em casos de acidentes e violência com ferimentos graves. Mas depois de
estabilizar o paciente, não há impeditivo para a transferência. “O desafio é
que é pouco comum hospitais privados terem equipes estruturadas para a cirurgia
do trauma”, ponderou o médico Artur Seabra, chefe do Serviço de Cirurgia Geral
do Hospital Moinhos de Vento.
Seabra apresentou a equipe especializada nesse
atendimento que começou a atuar na instituição. São onze médicos com formação
em cirurgia do trauma e três intensivistas, além da equipe assistencial com
enfermeiros e técnicos e da equipe de apoio com neurocirurgiões,
traumatologistas e ortopedistas, cirurgiões plásticos e especialistas em
queimados e cirurgiões vasculares.
“Estamos totalmente preparados para receber pacientes vítimas
de trauma após serem estabilizados nos hospitais de pronto socorro. Temos uma
equipe que é referência em cirurgia do trauma e tratamento intensivo, com a
excelência do nosso time assistencial e a tecnologia de ponta que o Moinhos de
Vento oferece”, destacou o cirurgião. Seabra disse que a ideia é se estruturar
para, no futuro, prestar também o atendimento primário às vítimas.
O superintendente Médico da instituição, Luiz Nasi,
reiterou o compromisso do Hospital Moinhos de Vento de cuidar de vidas. “É mais
uma entrega que se soma aos investimentos de 2019, como o Centro de
Fertilidade, a ampliação do atendimento no Centro de Oncologia com um novo
TrueBeam e a nova Emergência Pediátrica, entre outros. Nosso propósito é
oferecer medicina de excelência, equivalente aos melhores centros médicos do
mundo. E, para isso, agora estamos também preparados para atender pacientes de
alto risco, politraumatizados, que precisam desse serviço altamente
especializado”, pontuou.
O evento contou também com a participação da cirurgiã
Dóris Lazzarotto Swarowsky, diretora regional da Sociedade Brasileira de
Atendimento Integrado ao Traumatizado (SBAIT), e do cirurgião Antonio Rogério
Crespo, do Hospital Moinhos de Vento.
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