Artigo, especial, Alex Pipkin - O Brasil que desde sempre repete e não elabora

Alex Pipkin, PhD em Administração

A psicanálise tornou-se quase um mandamento moderno. Diante de qualquer sofrimento, a recomendação tende a ser automática: procure tratamento. A ideia central é simples e profunda, ou seja, romper padrões que o indivíduo, sozinho, não consegue superar. A clínica nos convoca a um trabalho silencioso e transformador; o de elaborar para não repetir. E é justamente nesse ponto que a história do Brasil encontra o seu espelho mais fiel.

Freud nos ensinou que aquilo que não é elaborado retorna como repetição. O paciente não recorda, ele repete. Reage hoje como reagiu ontem, encenando no presente aquilo que não consegue assumir conscientemente. A tarefa analítica consiste em converter repetição em recordação, trazer à luz o que antes era resistência e permitir, assim, o amadurecimento. Enquanto houver repetição, não haverá elaboração.

Pois bem, o Brasil é esse paciente que resiste à elaboração. Transformamos a repetição em método político e a procrastinação em hábito e esporte nacional favorito. Sempre que o país se aproxima da responsabilidade, recuamos para a fantasia do Estado-pai, babá. Sempre que surge a chance de construir instituições maduras, retornamos ao impulso infantil de esperar que Brasília resolva tudo. É a velha dependência emocional travestida de esperança política.

Desde a Independência, jamais adotamos aquilo que funciona em qualquer experiência de prosperidade factual, isto é, uma economia realmente aberta; impostos civilizados que deixem o dinheiro no bolso de quem o produz; desregulamentação ampla; um Estado limitado, disciplinado e eficiente; um ambiente de negócios que trate o empreendedor como protagonista da criação de riqueza, não como suspeito permanente à espera de expropriação. Nunca tentamos seriamente o liberalismo, embora o mundo já tenha demonstrado que liberdade econômica não é ideologia, é condição elementar para desenvolvimento consistente. Nos mercados livres têm-se a melhor forma de promover a prosperidade e a cooperação entre as pessoas. Eles permitem que as pessoas trabalhem juntas, criem valor e se beneficiem, independentemente de suas diferenças. Eles permitem que os indivíduos sejam eles mesmos, sem a necessidade de se conformar a uma ideologia ou dogma específico.

Mas a terra de Macunaíma insiste no velho roteiro. Repetimos o estatismo hipertrofiado, a crença messiânica no Estado onipresente, a promessa de proteção acompanhada de controle, burocracia e impostos asfixiantes. Em cada ciclo político, mudam slogans e figurinos, mas não o enredo. A memória recalcada retorna sempre na forma de gastança, gigantismo estatal, dirigismo, populismo. E, assim, procrastinamos tudo o que realmente importa.

Procrastinamos reformas estruturais essenciais, o futuro, e, especialmente, a liberdade econômica que conduz ao crescimento econômico.

Essa procrastinação não é ignorância. É sintoma. É a expressão social de um inconsciente político que teme o amadurecimento. Queremos os benefícios da responsabilidade sem o exercício da responsabilidade. Desejamos liberdade, mas permanecemos dependentes. A cada tentativa de avançar, recriamos precisamente as condições que nos paralisam, tal qual um paciente que, temendo a cura, retorna ao sintoma que conhece.

O lulopetismo intensifica essa compulsão nacional anti-progresso. Mas o Brasil estatista não começa com Lula, nem termina com ele. Trata-se de um padrão antigo, confortável, infantilizador, que atravessa governos de todas as cores. O Estado segue protagonista; o indivíduo, figurante. Fomos educados para esperar tudo do governo, e os populistas reforçam essa lógica, porque governar dependentes é muito mais fácil do que governar cidadãos adultos.

Freud nos advertia: enquanto a repetição domina, não há elaboração possível. E o Brasil, preso à fantasia de tutela e à dependência emocional, permanece exatamente aí, repetindo o passado, travado no presente, procrastinando, incapaz de se projetar no futuro.

O caminho verdadeiro é um segredo que não é segredo. Necessitamos de abertura econômica, impostos baixos, livre mercado, desregulamentação, Estado limitado, meritocracia, educação de excelência e responsabilidade individual. É isso — e apenas isso — que rompe o ciclo da estagnação e do atraso.

Porque, no fim, o maior inimigo do Brasil não está fora. Está no roteiro que insistimos em repetir, na procrastinação.

O futuro exige uma decisão adulta, inadiável. É mandatório abandonar o divã coletivo, para desatar as amarras que impedem o essencial crescimento econômico — e social.

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