O Ministério Público Federal (MPF) pediu ao juiz Sérgio
Moro, responsável pela Operação Lava Jato na Justiça Federal, a homologação do
acordo de delação premiada firmado com Vinicius Veiga Borin, administrador de
uma consultoria financeira ligada à offshore da construtora Odebrecht. O pedido
foi enviado na última sexta-feira.
Na delação, Borin disse que foi procurado por um
representante da Odebrecht para abrir contas "para fazer a movimentação
financeira das obras da companhia no exterior", quando trabalhava no
Antígua Overseas Bank (AOB) entre 2006 e 2010, em São Paulo. No depoimento,
enviado ao juiz Sérgio Moro, Borin afirmou que as contas "eram necessárias
exclusivamente em razão das obras da Odebrecht no exterior".
Uma das contas abertas, de acordo com Borin, foi a da
offshore Klienfeld. Segundo as investigações, a conta teria sido utilizada pela
Odebrecht para pagar propina a agentes da Petrobras e também para fazer
transferências para uma conta secreta em nome da Shellbill Finance, empresa que
seria controlada pelo publicitário João Santana e a esposa, Mônica Moura.
"Com a Operação Lava Jato em curso, fazendo uma
memória retrospectiva, o depoente percebe que as transações não eram com
fornecedores ou em razão de obras da Odebrecht; que o depoente não pode afirmar
que 100% dos pagamentos eram ilícitos ou não se referiam a fornecedores ou
relativos a obras da companhia, mas sim que grande parte deles sim", disse
o documento do MPF.
Borin disse no depoimento que "percebeu que o
dinheiro vinha de outras empresas offshore controladas pela própria Odebrecht e
não de fornecedores ou obras, embora não saiba se a origem do dinheiro advenha
de obras". O administrador contou aos procuradores que o Antígua Overseas
Bank foi liquidado em 2010 e que ele e outros integrantes, junto com membros do
Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht, compraram uma participação em uma
filial sem atividade do banco Meinl Bank, de Viena. Nesse banco, foram
abertas as contas que funcionavam anteriormente no AOB.
O setor de operações era, segundo as investigações da
Lava Jato, uma divisão dentro da Odebrecht que operava o pagamento de propinas
por meio de contas offshores abertas pelo próprio grupo e sob ordens de
executivos do grupo. De acordo com o MPF, Borin relatou que, algum tempo
depois, as contas foram encerradas pois "os nomes das offshores começaram
a aparecer na investigação da Operação Lava Jato" e que "embora não
possa afirmar com certeza, entende que a ordem para o fechamento das contas
veio 'de cima', da administração da Odebrecht, embora não saiba nominar de
quem". Na delação, Borin disse que nunca teve contato com o então
presidente da construtora Marcelo Odebrecht.
Borin foi preso na 23ª fase da Lava Jato, denominada
Acarajé, deflagrada em fevereiro deste ano. Na mesma fase, foram detidos o
publicitário João Santana e a mulher dele, Mônica Moura. Procurada pela Agência
Brasil, a Odebrecht informou, por meio da assessoria de imprensa, que não irá
se manifestar sobre a delação de Borin.
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